
Carestia dos alimentos, endividamento e inadimplência das famílias estão entre os fatores que comprimem a capacidade de poupança do brasileiro
O movimento da caderneta de poupança no Brasil encerrou o primeiro semestre de 2025 com um saldo líquido negativo de R$ 49, 6 bilhões, resultado do volume de depósitos no período de R$ 2,078 trilhões e de retiradas no montante de R$ 2,128 trilhões. O segundo pior resultado da história para o semestre.
Resultado indesejado por indicar que a grande massa da população, que tem na tradicional poupança sua mais comum alternativa de guardar suas economias, não está conseguindo fazê-lo e porque cria dificuldades para o sistema de financiamento da construção civil de imóveis que tem nos saldos da caderneta de poupança uma das principais fontes do financiamento imobiliário.
O resultado negativo do semestre não está vindo sozinho, visto que os saldos entre depósitos e retiradas vieram no mesmo sentido nos dois anos anteriores de 2024 e 2023, respectivamente com saldos negativos de R$ 15,5 e R$ 87,8 bilhões. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (7) pelo Banco Central (BC).
A carestia dos alimentos, o baixo nível de renda, os altos níveis de endividamento e inadimplência das famílias estão entre os fatores que comprimem a capacidade de poupança. O encarecimento do crédito, orquestrado pela exorbitante taxa Selic de juros do Banco Central (BC) e suas repercussões em toda economia encarecendo o crediário, compete também, por sua vez, na compressão da renda das famílias. No mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a Selic pela sétima vez consecutiva, para 15% ao ano.
A queda na captação de recursos pela poupança diminui a quantidade de dinheiro disponível para empréstimos imobiliários, afetando diretamente o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). As cadernetas de poupança fecharam os últimos quatro anos com captação líquida negativa, resultando na perda acumulada de R$ 209,8 bilhões no período, conforme dados do próprio BC
JUNHO
O mês de junho apresenta uma pequena modificação na relação depósitos e retiradas ou saques, com um saldo a favor aos depósitos em R$ 2,1 bilhões. Resultado aplicações em R$ 365,7 bilhões, contra saques de R$ 363,5 bilhões. O mês de maio já tinha vindo com um saldo favorável, também modesto, aos depósitos em R$ 336,9 milhões. São resultados que, no entanto, estão muito longe de alterar o comportamento desfavorável que os saldos da poupança vem apresentando.
Em setembro de 2021, o sistema atingiu o maior saldo da série histórica, pelo menos desde 2003, com R$ 1,042 trilhão, como podemos verificar neste mês de junho o saldo está situado em R$ 1,019 trilhão. Significa que há mais de três anos o saldo total da poupança não avança nem nominalmente.