Milhares de brasileiros enfrentam frio e dormem na fila por um emprego
O drama do desemprego levou milhares de pessoas a buscarem uma vaga na segunda-feira (16) em São Paulo. Foram horas de espera para conseguir a senha no famoso mutirão realizado no Vale no Anhangabaú, no centro da capital paulista.
Homens e mulheres, aposentados, donas de casa, que já não têm de onde tirar recursos para sustentar a família diante de uma carestia que penaliza a população, particularmente os mais pobres, e que se agrava a cada dia no desgoverno Bolsonaro, enfrentaram o frio e o sono na madrugada de domingo para segunda-feira.
Foram mais de 12 horas na fila, que teve início na noite de domingo e, logo nas primeiras horas do dia seguinte, cerca de mil pessoas já estavam enfileiradas, num total de aproximadamente seis mil pessoas que lotaram o local.
Ex-atendente de balcão num bar na área central da cidade, mãe de duas meninas, dona Maria, 57 anos, precisou ter coragem de enfrentar a fila. Há mais de dois anos procurando emprego, engrossou a multidão dos desempregados “de longa duração” que atingiu um recorde no primeiro trimestre deste ano, segundo o IBGE: 3,5 milhões de brasileiros nessa situação. Se não fosse pelas filhas, estaria engrossando o contingente de desalentados, aqueles que desistiram de procurar emprego: 4,6 milhões de brasileiros.
Com 12 milhões de desempregados no país, as famílias vivem uma situação dramática. Diante de uma inflação que assusta os brasileiros, com a carestia nos alimentos, no gás de cozinha, na conta de luz, entre tantos outros produtos e serviços, a inflação ainda é maior para os mais pobres.
“No segmento de renda muito baixa, o aumento dos preços dos alimentos no domicílio fez com que o grupo “alimentação e bebidas” respondesse por 61% de toda a inflação apurada em abril, com destaque para as altas do arroz (2,2%), feijão (7,1%), macarrão (3,5%), batata (18,3%), leite (10,3%), frango (2,4%), ovos (2,2%), pão francês (4,5%) e óleo de soja (8,2%). A segunda maior contribuição para a inflação desse segmento veio do grupo “saúde e cuidados pessoais”, ancorada pela alta de 6,1% dos medicamentos”, diz o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
No acumulado em 12 meses, as famílias de renda muito baixa, com renda domiciliar menor que R$ 1.726,01, apresentaram a maior alta inflacionária, com a taxa de 12,7%, acima da inflação oficial divulgada pelo IBGE em doze meses (12,13%), quando o IPCA de abril atingiu o maior patamar para o mês em 26 anos.
O Mutirão é uma iniciativa da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários em parceria com entidades sindicais como Padeiros, Sintratel, Sindinstal e Siemaco, com o apoio de empresas, da prefeitura e do governo do estado.
“Sabemos o número do desemprego no Brasil, mas quando fazemos um mutirão, vemos a cara do desemprego. São pessoas sofridas”, declarou o presidente da UGT, Ricardo Patah.
O mutirão de emprego segue até o dia 20 de maio, das 8hs às 17hs.