A fuga de Bolsonaro aos Estados Unidos, após a derrota para Lula nas eleições presidenciais de 2022, permitiu à famíglia do “mito” ramificar suas ligações com seus congêneres políticos naquele país, a partir das quais foi possível continuar disseminando fake news no Brasil e apoio a atos golpistas como o que ocorreu dia 8 de janeiro.
Um trabalho de investigação realizado pela UOL, a Agência Pública e o Clip (Centro Latinoamericano de Investigação) concluiu que, no período de 3 meses em que Bolsonaro permaneceu nos EUA, seu filho Eduardo, o “03”, abriu uma empresa no estado do Texas em sociedade com outros brasileiros ligados às atividades golpistas.
A empresa chama-se Braz Global Holding LLC, estabelecida em 18 de março deste ano, em sociedade com o influenciador Paulo Generoso —conhecido por compartilhar notícias falsas e por ter apoiado os atos golpistas – e com o ex-secretário nacional de Fomento e Incentivo à Cultura no governo Bolsonaro, André Porciúncula. A firma foi registrada por Generoso no endereço de sua casa, em Arlington. No mesmo endereço foi registrado um instituto e uma incorporadora dirigida por Generoso e Porciúncula, mas, nesses negócios, o nome de Eduardo não aparece.
Ao ser procurado pela reportagem da UOL, o hoje deputado foi ríspido como sempre: “Por que vocês estão me investigando? Conhecendo um pouquinho do UOL e um pouquinho de vocês, eu prefiro não falar nada. Não tem nada demais. Explicar o quê? Estou devendo alguma coisa?”, esquivou-se, ao ser indagado sobre as atividades da empresa.
Já os demais sócios do “03”, procurados, nada responderam.
Os documentos extraídos do governo do Texas revelam que, além de Generoso e Porciúncula, uma outra ex-servidora do governo Bolsonaro aparece como diretora dos empreendimentos nos quais Eduardo foi poupado. Trata-se de Raquel Brugnera.
Coincidentemente, Generoso e Raquel criaram o Movimento República de Curitiba, inicialmente, para apoiar a Operação Lava Jato, mas, sua presença mais expressiva se dá exatamente nas eleições de 2018 e 2022, nas quais, por óbvio, apoiou Bolsonaro. Consta que o grupo tem 1,2 milhão de seguidores e o seu Facebook notabilizou-se por espalhar notícias falsas sobre as urnas eletrônicas, a pandemia da Covid-19 e a defesa dos atos golpistas, ou seja, um movimento que se especializou como poucos na pauta bolsonarista, tendo, por isso mesmo, sua página do Twitter suspensa em janeiro deste ano, por decisão judicial.
André Porciúncula, por sua vez, é chamado de “amigo” por Eduardo Bolsonaro no curso online “Formação essencial em política”. Porciúncula — que no governo Bolsonaro foi responsável por analisar e aprovar propostas para captação da Lei de Incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet— fala como especialista em arte e defende que a esquerda estaria tentando destruir a fé cristã, a beleza e a moralidade para implantar seus ideais políticos.
Durante o período em que Bolsonaro permaneceu recluso em Orlando, na Flórida, o filho Eduardo esteve lá pelo menos por 3 vezes, nos meses de janeiro, fevereiro e março. Numa de suas últimas aparições em território norte-americano, fez questão de participar de eventos da extrema-direita americana ao lado do pai.
Hoje, diante das revelações de toda essa trama, sabe-se da ligação dos sócios de Eduardo com o governo Bolsonaro. Porcíncula foi o número dois da Secretaria de Cultura de 6 de agosto de 2020 a 31 de março de 2022. Ele deixou o cargo para se candidatar a deputado federal pelo Estado da Bahia, mas foi derrotado nas urnas. Em março deste ano, além de virar sócio da Braz Global Holding LLC, nos EUA, ele abriu, no Brasil, a Spalla Consultoria, Marketing e Publicidade Ltda.
Coincidência ou não, a empresa foi registrada no Centro Empresarial Brasil 21, em Brasília, no mesmo prédio, mas quatro andares abaixo do escritório nacional do Partido Liberal, legenda de Bolsonaro. A reportagem foi até o endereço que consta na Receita Federal, mas lá funciona um coworking.
Generoso, por sua vez, hoje mora nos Estados Unidos, onde é dono de um restaurante de churrasco brasileiro. O empresário foi um dos organizadores do movimento político do dia 7 de setembro de 2022 e esteve presente nos atos nos quartéis que contestavam a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ele é amigo do proprietário das Lojas Havan, Luciano Hang, investigado pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito das fake news. Tanto Paulo quanto Raquel são seguidores de Olavo de Carvalho. Em um vídeo publicado por Brugnera em agosto de 2019 e fixado em seu Instagram, Olavo a chama de “irmãzinha”. O vídeo é gravado por Generoso.
O perfil de Raquel na rede também mostra fotos com vários nomes influentes do bolsonarismo, como o blogueiro Allan dos Santos, investigado por disseminar desinformação, e o próprio Eduardo. Em dezembro de 2020, ela publicou uma foto com o deputado no lançamento do Instituto Conservador Liberal, criado por ele.
(com informações do portal UOL)