“Aplicando uma estimativa conservadora de quatro mortes indiretas por uma morte direta às 37.396 mortes relatadas, não é implausível estimar que até 186.000 ou até mais mortes possam ser atribuíveis ao atual conflito em Gaza”, sublinha o estudo.
Em um estudo publicado na revista médica ‘The Lancet’ em 5 de julho, três especialistas em saúde pública, após considerarem o número oficial anterior de 37.396 mortos de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, apontaram que, devido aos conflitos armados terem “implicações indiretas para a saúde muito além dos danos diretos da violência”, o número total de mortes de palestinos perpetrado por Israel pode ser muito maior como resultado cumulativo da guerra, ultrapassando os 186 mil, senão mais.
“Em conflitos recentes, essas mortes indiretas variam de três a 15 vezes o número de mortes diretas”, assinalaram Rasha Khatib, do Advocate Aurora Research Institute, Martin McKee, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, e Salim Yusuf, da McMaster University e da Hamilton Health Sciences.
O estudo também calculou que a estimativa de 186.000 mortes corresponde a quase 8% da população de Gaza, que antes do começo da guerra era de aproximadamente 2.375.259 pessoas. Também ressalta a dificuldade em determinar números mais exatos por causa da destruição do sistema de saúde.
A análise leva em conta que os números oficiais não incluem os soterrados embaixo de destroços, as mortes causadas pela destruição de infraestrutura vital como nos bombardeios a hospitais, pela fome com o bloqueio israelense à distribuição de comida e em consequência do corte dos fundos para a agência da ONU que socorre os refugiados.
“Aplicando uma estimativa conservadora de quatro mortes indiretas por uma morte direta às 37.396 mortes relatadas, não é implausível estimar que até 186.000 ou até mais mortes possam ser atribuíveis ao atual conflito em Gaza”, sublinha o estudo.
“A ONU estima que, até 29 de fevereiro de 2024, 35% dos edifícios na Faixa de Gaza foram destruídos, pelo que o número de corpos ainda enterrados nos escombros é provavelmente substancial, com estimativas de mais de 10.000”, lê-se na análise.
Os autores também rejeitaram as alegações das autoridades israelenses que contestaram os números do Ministério da Saúde, observando que os serviços de inteligência israelenses, a Organização Mundial da Saúde e as Nações Unidas “concordam que as alegações de fabricação de dados feitas contra as autoridades palestinas em Gaza sobre seu número de mortos são ‘implausíveis'”.
“Mesmo que o conflito termine imediatamente, continuará a haver muitas mortes indiretas nos próximos meses e anos por causas como doenças reprodutivas, transmissíveis e não transmissíveis”, escreveram os autores. “Espera-se que o número total de mortos seja grande, dada a intensidade deste conflito.”
Os autores do estudo disseram que “um cessar-fogo imediato e urgente na Faixa de Gaza é essencial, acompanhado de medidas para permitir a distribuição de suprimentos médicos, alimentos, água potável e outros recursos para necessidades humanas básicas”.
“Ao mesmo tempo, há a necessidade de registrar a escala e a natureza do sofrimento neste conflito”, escreveram. “Documentar a verdadeira escala é crucial para garantir a responsabilização histórica e reconhecer o custo total da guerra.”
‘The Lancet’ é uma revista médica inglesa, uma das mais antigas ainda em circulação e também uma das mais influentes no meio acadêmico e médico.