“O PT tinha pixuleco, o PSDB tem tico-tico”, declarou Tony Garcia, operador do esquema do ex-governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), ao comentar as denúncias da Operação Rádio Patrulha, do Ministério Público Estadual paranaense, que apura os casos de corrupção envolvendo o governo tucano.
Segundo o empresário, conhecido por ser amigo de infância de Richa, as propinas e caixa 2 movimentados pela quadrilha do ex-governador chegam a R$ 500 milhões. “Vi muita coisa que até Deus duvida”, disse Tony em entrevista ao “Estadão”.
Richa, sua esposa, seu irmão e outras 12 pessoas foram detidos em operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organização (Gaeco), do MP-PR pelo “direcionamento de licitação, para beneficiar empresários, e o pagamento de propina a agentes públicos, além de lavagem de dinheiro”, no programa do governo estadual do Paraná, Patrulha do Campo, no período de 2012 a 2014. No programa, o governo locava máquinas para manter as estradas rurais.
No dia em que a prisão foi convertida em preventiva, o ministro do STF, Gilmar Mendes, determinou a soltura do ex-governador e candidato ao Senado pelo Paraná, Beto Richa (PSDB), preso por corrupção na terça-feira (11).
Em seu despacho, Mendes também mandou libertar a esposa de Richa e ex-secretária da Família e Desenvolvimento Social, Fernanda Richa, o irmão do tucano, José Richa Filho, conhecido como Pepe Richa, e outras doze pessoas que foram alvos da Operação Radiopatrulha, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organização (Gaeco), do Ministério Público do Estado do Paraná (MP-PR).
Segundo Gilmar Mendes, que já libertou ao menos uma dezena de corruptos da cadeia, não havia a necessidade de decretar uma “medida extrema”, como a prisão de Beto Richa.
LAVA-JATO
Além de revelações que levaram à deflagração da Operação Radiopatrulha, Tony fez denúncias ligadas à investigação da Lava Jato.
Segundo a Lava Jato, empresários do grupo Odebrecht realizaram, no primeiro semestre de 2014, um acerto de subornos com Deonilson Roldo, braço direito de Richa, para que este limitasse a concorrência da licitação para duplicação da PR-323, no interior do Paraná. Em contrapartida, a Odebrecht pagaria R$ 4 milhões a Roldo e aliados.
Tony confirmou que o grupo Bertin queria participar da ‘concorrência dessa 323’. “A Odebrecht tinha feito a PPP e era para eles ganharem. E eles queriam participar e falaram isso para mim, que eles tinham condição de entrar e furar a Odebrecht, como eles tinham furado no Rodoanel em São Paulo, que eles podiam dar até 60 e poucos por cento de desconto no preço da Odebrecht”, narra.Segundo o ele, pela proposta do grupo Bertin, ‘o pedágio que seria aqui de R$ 4,10 da Odebrecht, seria R$ 2,60 por eles’.
Então Tony levou as informações para Richa. Segundo ele o governador disse que “se eles botarem o pedágio nesse preço aí, eu estendo tapete vermelho para eles aqui”, então eu (Tony) falei: eu preciso que você adie por 12, 15 dias a concorrência no máximo para eles terem condição de preparar tudo, documentação, carta de fiança, tudo, e participar. Isso é um ganho político para você enorme. Ele (Richa) me perguntou: ‘se eles ganharem, eles ajudam na campanha?’. Falei (Tony): devem ajudar. Se você topar, depois eu falo com eles”, relatou o colaborador.
Tony afirmou que Beto Richa adiou a concorrência por 15 dias.
Tony relatou que foi ele quem emprestou o gravador para o presidente da Contern, empresa do Grupo Bertin Pedro Rache registrar a conversa com Deonilson Roldo.
“Nesses 15 dias Pedro Rache, que gravou o Deonilson, recebeu dez ligações do Deonilson. Ele estava entregando o Rodoanel lá. Ele (Rache) me ligou e perguntou: ‘cara, que apito toca um tal de Denilson, aí de Curitiba?’. Eu (Tony) falei: ‘Denilson ou Deonilson? Por quê?’. Ele (Rache) disse: ‘esse cara está me ligando para eu ir aí, quer falar comigo’. Eu disse: ‘esse cara é o governador de fato, é o chefe de gabinete’. Ele falou: Puta, eu nem dei bola para ele. Vou para aí amanhã’”.
“Vieram aqui no meu escritório e ele falou que queria registrar a conversa. Eu emprestei um aparelho antigo que eu tinha, ele foi lá e gravou a conversa com o Deonilson. O Deonilson estava fazendo chantagem com ele. Ou ele saía da concorrência ou ele perderia o negócio da Copel. (Deonilson) Tinha o compromisso com a Odebrecht”.
STF
Na tarde da sexta-feira (14), após negativas de habeas corpus por parte do Tribunal de Justiça do Paraná e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a defesa do ex-governador Beto Richa (PSDB) pediu a soltura de seu cliente ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao invés de recorrer ao tribunal com novo habeas corpus, no entanto, os advogados de Richa pediram o relaxamento da prisão diretamente ao ministro Gilmar Mendes, que, nesta semana, criticou as recentes ações do Ministério Público contra políticos que são candidatos nas eleições de outubro.
TICO-TICO
“Ah! Ele me agradeceu, “já entrou um tico-tico lá que tava atrasado, obrigado”, afirmou Richa ao doleiro Tony Garcia, sobre um suposto atraso de ‘pagamento’ de propina a respeito do qual conversavam. A conversa foi gravada por Tony, que é delator da Lava Jato. O áudio é um dos indícios que fundamentaram a prisão do tucano.
Ao deixar a cadeia na madrugada de sábado, 15, Beto Richa afirmou que vai retomar sua candidatura ao Senado nas eleições 2018 e que a prisão contra ele foi uma “crueldade”.
“Foram dias, não posso deixar de reconhecer, de extremo sofrimento, pra mim e pra toda minha família, e lamento que a palavra de um indivíduo, de um delator, cujo histórico de vida não demonstra nenhuma credibilidade, ao contrário, total falta de credibilidade. Aí eu pergunto: vale a palavra dele ou a minha palavra?”, declarou Richa.