Mesmo após intervenção, violência assombra a população do estado
O último relatório do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), divulgado nesta segunda-feira (2), mostra que nos dois primeiros meses deste ano, ao menos 15 pessoas foram assassinadas por dia no estado. O estudo abrange os homicídios dolosos, ou seja, quando há intenção de matar.
No total, foram 906 ocorrências nas delegacias da Polícia Civil em janeiro e fevereiro deste ano. No mesmo período do ano passado, o ISP tinha registrado 982 ocorrências do mesmo indicador. Porém, apesar da leve queda de 7,7% em relação a 2017, o caos diário que os moradores do estado do Rio de Janeiro vêm passando mostra que a realidade continua grave, e só tende a piorar.
Na avaliação do doutor em Ciência Policial, João Trajano Sento-Sé, um dos coordenadores do Laboratório de Análise da Violência (LAV), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), tal redução avaliada pelo ISP não pode deixar ninguém acomodado. “Se não ficou acima, também não está muito abaixo. A verdade é que voltamos a um patamar incômodo que aponta para uma tendência de crescimento”, disse.
Os dados do ISP mostram ainda que o indicador de mortes decorrentes de intervenção policial cresceu 17,6% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Somente no mês passado foram cem vítimas, contra 85 em fevereiro do ano passado.
Já comparando o primeiro bimestre de 2017, esse aumento é ainda maior. Foram registradas 245 mortes em janeiro e fevereiro de 2018, contra 184 no mesmo período do ano passado, um aumento de 38,8%.
Trajano ainda atribui o grande volume de mortes ao que ele chama de “retomada da lógica da guerra às drogas”. De acordo com ele, com o fracasso do projeto das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), o Estado voltou a utilizar a “lógica do confronto”, o que, por fim, aumentou o número de vítimas, sendo elas inocentes, criminosos ou policiais.
“Com as UPPs, você tinha dois princípios orientadores que prometiam um horizonte interessante. Abdicar da lógica de guerra ao tráfico, como, por exemplo, as incursões que eram anunciadas justamente para evitar tiroteios, e o plano de metas, que premiava as iniciativas de redução de homicídios na polícia. Ambos foram abandonados. O Estado retomou a lógica da guerra ao tráfico e, assim como o Comando Vermelho e as milícias, torna-se um vetor de produção de homicídios”, concluiu Trajano.