
Rita Lee lançou ao todo 40 álbuns, sendo seis dos Mutantes e 34 na carreira solo e é reconhecida como uma das maiores compositoras do país com mais de 400 músicas registradas
A cantora Rita Lee, considerada uma das maiores artistas brasileiras, morreu na última segunda-feira (8) aos 75 anos. Desde 2021, ela lutava contra um câncer de pulmão que debilitou sua saúde. “Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”, afirmou o seu marido e companheiro de toda a vida, Roberto de Carvalho nas redes sociais.
Ainda segundo a postagem, o corpo de Rita Lee será cremado, como era o seu desejo, em uma cerimônia privada. “Nesse momento de profunda tristeza, a família agradece o carinho e o amor de todos.”
O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h.

Em 2021, a cantora foi diagnosticada com um tumor primário no pulmão. Ela descobriu a doença após fazer um check-up no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Desde então, a artista precisou se afastar dos holofotes e se submeter aos tratamentos necessários.
No ano passado, a família de Rita Lee Jones de Carvalho comemorou a remissão do câncer de pulmão da cantora. “A cura da minha mãe me emocionou pra car…. Melhor notícia de todos os tempos. Manteve a cabeça erguida, com vontade de lutar e encarou tudo com seu bom humor habitual, tanto que apelidou o tumor de ‘Jair’. That’s Rita”, escreveu o filho Beto Lee.
TRAJETÓRIA
Rita Lee Jones nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947. Aos 16 anos, Rita integrou um trio vocal feminino, as Teenage Singers, e fez apresentações amadoras em festas de escolas.
Em 1964 ela entrou em um grupo de rock chamado Six Sided Rockers que, depois de algumas mudanças de formações e de nomes, deu origem aos Mutantes em 1966. O grupo foi formado inicialmente por Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista, com quem Rita manteve relacionamento durante o período em que esteve na banda.

O trio acompanhou Gilberto Gil em “Domingo no parque” no 3º Festival de Música Popular Brasileira da Record, em 1967, e Caetano Veloso em “É proibido proibir” no 3º Festival Internacional da Canção, da Globo em 1968, dois marcos da tropicália.
O primeiro disco, Os Mutantes (1968), foi lançado em junho de 1968, pouco antes do álbum conjunto Tropicália ou Panis et Circensis (1968), onde o trio novato dividiu as atenções com Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão e Tom Zé na obra que lançou o movimento tropicalista – e onde o Mutantes apareceu na interpretação de “Panis et Circensis, composta por Caetano e Gil.
Os Mutantes tornou-se então a principal banda do Brasil e referência no rock mundial. Fazendo o período que Rita Lee esteve à frente o principal de toda a trajetória da banda.

A conturbada saída de Rita Lee dos Mutantes se deu em 1972, após uma série de divergências criativas com os irmãos Sérgio e Arnaldo. “Chego ao ensaio e me deparo com um clima tenso/denso. Até que o Arnaldo quebra o gelo, toma a palavra e me comunica (…): ‘A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista'”, relatou Rita Lee em 1992 sobre a saída da banda.
Seu primeiro álbum solo foi “Build up”, ainda antes de deixar a banda, em 1970. Ela também lançou “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, em 1972, ainda gravado com o grupo.
A carreira pós-Mutantes tomou forma com o grupo Tutti Frutti, no qual ela gravou cinco álbuns, com destaque para “Fruto proibido”, de 1975, que tinha as músicas “Agora só falta você”, “Fruto Proibido”, “Esse Tal de Roque Enrow” e “Ovelha Negra”, alguns de seus maiores sucessos.
Em setembro de 1976, Rita Lee estava grávida de seu primeiro filho quando foi presa pela ditadura, que realizou uma batida e “plantou” drogas na residência da cantora. “Quando fui presa estávamos em plena ditadura barra-pesada. Eu estava grávida e, como boa hippie, não fazia uso de qualquer droga na ocasião. Ou seja, no meu caso a coisa foi ‘plantada’ mesmo”, disse Rita Lee, em entrevista à Folha de S. Paulo
Durante os oito dias em que ficou presa, ela recebeu visita de Elis Regina — que confrontou os policiais a respeito da aparência abatida da cantora— e escreveu uma carta ao parceiro, na qual dizia-se em paz com os possíveis parto na prisão e o término da relação.
A cantora passou então a ser uma das mais censuradas pela ditadura no Brasil. Suas músicas que retratavam a força da mulher e a irreverência passaram a ser alvo da ignorância e brutalidade dos censores.

A partir de 1979, ela começou a trabalhar em parceria com o marido Roberto de Carvalho, e se firmou de vez na carreira solo. Um dos álbuns mais bem sucedidos foi “Rita Lee”, de 1979, com “Mania de Você”, “Chega mais” e “Doce Vampiro”. No disco de mesmo título do ano seguinte, ela segue na direção mais pop e faz ainda mais sucesso com “Lança perfume” e “Baila comigo”.
Entre os álbuns de destaque estiveram “Saúde” (1981) e “Rita e Roberto” (1985), com o qual os dois subiram ao palco do primeiro Rock in Rio.
Em 1991 ela começou um período de quatro anos separada de Roberto de Carvalho. O retorno foi em 1995, na turnê do álbum “A marca da Zorra”, quando ela também abriu os shows dos Rolling Stones no Brasil.
Em 2001, Rita Lee ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa com “3001”. Ela ainda teria mais cinco indicações ao prêmio, e receberia em 2022 o prêmio de Excelência Musical pelo conjunto da obra.

SAÍDA DOS PALCOS
Em 2012, Rita anunciou que deixaria de fazer shows por causa da fragilidade física. “Me aposento dos shows, mas da música nunca”, ela escreveu no Twitter. Em 28 de janeiro daquele ano, no Festival de Verão de Sergipe, ela fez o show anunciado como último da carreira, quando ela discutiu com um policial. Ela foi acusada de desacato à autoridade, levada à delegacia e liberada em seguida.
Rita Lee realmente nunca mais fez uma turnê. Mas ainda fez um show no Distrito Federal no fim de 2012, em que abaixou a calça para o público, e cantou no aniversário de São Paulo em 2013, ovacionada pelo público de sua cidade.
Seu último álbum de canções inéditas em estúdio saiu em abril de 2012. “Reza” era, então, seu primeiro trabalho de inéditas em nove anos. A faixa-título foi a música de trabalho, definida por ela como “reza de proteção de invejas, raivas e pragas”.
Rita Lee lançou ao todo 40 álbuns, sendo seis dos Mutantes e 34 na carreira solo. Reconhecida como uma das maiores compositoras do país, foram mais de 400 músicas registradas.
LITERATURA
Em 2016, ela lançou “Rita Lee: uma autobiografia”. Uma das revelações do livro foi que ela foi abusada sexualmente aos seis anos de idade por um técnico que foi consertar uma máquina de costura de sua mãe em casa. No livro, um sucesso de vendas, ela também falou com sinceridade sobre episódios da carreira, como quando foi expulsa dos Mutantes em 1972, e da vida pessoal, como a luta contra o alcoolismo.
Além da autobiografia, Rita Lee tem uma longa trajetória como escritora. A série “Dr. Alex” é de 1983, mas foi relançada em 2019 e 2020 e tem foco na luta pela causa animal e ambiental da cantora.
Ela também escreveu “Amiga Ursa: Uma história triste, mas com final feliz” na literatura infantil. “FavoRita”, “Dropz”, “Storynhas” e “Rita Lírica” são outros livros escritos pela cantora.
REPERCUSSÃO
Em nota, o presidente Lula lamentou a morte de um dos “mais geniais nomes da música brasileira”.
“Rita ajudou a transformar a música brasileira com sua criatividade e ousadia. Não poupava nada nem ninguém com o seu humor e eloquência. Enfrentou o machismo na vida e na música e inspirou gerações de mulheres no rock e na arte. Jamais será esquecida e deixa na música e em livros seu legado para milhões de fãs no mundo inteiro. Meu abraço fraterno aos filhos Beto, João e Antônio, familiares e amigos. Rita, agora falta você”, afirma a nota do presidente.