
O movimento dos “Sardinhas” – que convoca gente comum, especialmente os jovens, a fazer a sua parte para deter a ascensão da extrema-direita, da intolerância e do racismo na Itália – chegou a Roma neste sábado (14), com 100 mil pessoas repudiando o ex-vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini, e sua “Liga” xenófoba e obscurantista, ao som do hino antifascista, Bella Ciao.
Os manifestantes encheram a praça de San Juan de Letrán, com faixas com desenhos de sardinha e conclamações como “Roma Não se Liga” – em referência ao partido de Salvini – e “Não ao Ódio”.
Nascido nas redes sociais em Bolonha em novembro, de apenas algumas dezenas em um mês o movimento tomou grandes proporções, ao se tornar um canal de expressão do sentimento de que é preciso deter esse tipo de escória e sua mensagem de xenofobia e obscurantismo, numa quadra em que as eleições de janeiro na região de Emília-Romanha ameaçam pavimentar o caminho para a volta de Salvini ao palácio em Roma.
Como tantas coisas na internet, a ideia de que sardinhas comuns espremidas são “muitos mais” que a meia dúzia de tubarões que infestam as águas turbulentas da Itália, representada num desenho à mão, viralizou. O movimento se declarou apartidário.
Dois participantes explicaram ao El País porque estavam no ato. “Estamos aqui porque queremos defender certos valores que alguns querem eliminar, valores que rejeitam o fascismo e defendem a tolerância e a igualdade. Estamos aqui para dizer que não gostamos da política do ódio, que gostamos da política que olha para o futuro, que acolhe e não fecha as portas a ninguém “, disse Rodolfo, natural da Bolonha, que estava acompanhado da esposa e dos dois filhos.
“Há muitas pessoas no país que, embora não hajam feito nenhum barulho até agora, não estão dispostas a tolerar o absurdo que tem sido ouvido na política ultimamente”, disse Cláudio, nascido em Roma.
De acordo com as pesquisas, o candidato de Salvini para governar a província está na frente, e a Liga venceu as eleições regionais na Úmbria.
Um dos iniciadores dos “Sardinhas”, Mattia Santori, 32 anos, disse que o movimento apenas busca demonstrar sua oposição às forças retrógradas que ganham fôlego na Itália na esteira de uma década de estagnação econômica e corte de direitos, com um discurso contra a imigração, a tolerância e a democracia.
“A Itália não é ódio, discriminação ou desigualdade, a Itália somos nós, as sardinhas que acreditamos em um futuro melhor, em valores como amor, respeito ou direitos humanos. Devemos resistir, não podemos permitir que a democracia seja violada”, enfatizou no ato em Roma o deputado do Partido Democrático, Pietro Bartolo, médico de Lampedusa. “Salvar vidas humanas no mar é um dever, é uma obrigação”, reiterou, em denúncia de uma das principais formas de Salvini de ganhar notoriedade e votos: o de proibir o acesso a portos italianos de navios de resgate humanitário com náufragos tirados das águas do Mediterrâneo e oriundos de países a que a colonização e a pilhagem pós-colonial deixaram no bagaço.
A.P.