Déficit em conta corrente foi de US$ 5,678 bilhões. Remessa de lucros e dividendos atingiu US$ 5,326 bilhões
Em setembro, o Brasil registrou um rombo nas contas externas de US$ 5,678 bilhões, o pior resultado para o mês de setembro desde 2014. Conforme os números divulgados nesta segunda-feira pelo Banco Central (BC), em doze meses até setembro, o déficit em transações correntes chega a US$ 46,2 bilhões, o equivalente a 2,56% do Produto Interno Bruto (PIB). No mesmo intervalo de tempo de 2021, o saldo negativo havia sido de US$ 23,4 bilhões (1,49% do PIB). No acumulado do ano até setembro, o rombo nas contas externas soma US$ 29,583 bilhões.
Sucintamente, o déficit nas “transações correntes” significa que o saldo comercial – isto é, riqueza real, produto real do trabalho do país – não está cobrindo as remessas para o exterior. As “transações correntes” levam em conta o comércio com outros países (balança comercial: exportações menos importações); as remessas de “rendas” e “serviços” para fora do país, remessas sobretudo de lucros, declaradas ou disfarçadas, e algumas outras; e as “transferências unilaterais correntes” (em geral, dinheiro enviado por brasileiros residentes no exterior para dentro do país e vice-versa).
De acordo com o Banco Central, a balança comercial registrou saldo positivo de US$ 2,356 bilhões em setembro, enquanto a conta de serviços ficou negativa em US$ 1,887 bilhão. A conta de renda primária também ficou deficitária em US$ 6,534 bilhões e a conta financeira, negativa em US$ 7,977 bilhões.
O aumento das remessas para o exterior reflete a estúpida entrada de “investimento direto estrangeiro” (IDE) – tão amado pelo ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, – que vem para o Brasil não para desenvolver a produtividade e gerar empregos, mas para agravar o processo de desindustrialização e desnacionalização do país, através da compra de empresas privadas nacionais e estatais, sempre com a lógica de obtenção do lucro máximo a ser remetido para fora.
Em setembro, os ingressos líquidos de IDE somaram US$ 9,2 bilhões, ante os US$ 4,6 bilhões em setembro de 2021. Nos doze meses encerrados em setembro, o IDE totalizou US$ 73,8 bilhões, o que representa 4,10% do PIB.
De acordo com BC, a remessa de lucros e dividendos de companhias instaladas no Brasil para suas matrizes aumentaram para US$ 5,3 bilhões em setembro, ante US$ 2,5 bilhões em setembro de 2021, com destaque para as despesas brutas de lucros de investimento em carteira, que aumentou de US$ 724 milhões em setembro de 2021 para US$ 3,0 bilhões em setembro de 2022. No acumulado do ano até setembro, houve saída líquida de recursos via remessa de lucros e dividendos, de US$ 33,167 bilhões.
Já o déficit na conta de aluguel de equipamentos apresentou aumento de 7,4% em termos interanuais, com despesas líquidas de US$ 661 milhões no mês, ante US$ 615 milhões verificados no mesmo mês de 2021. Atualmente, quando empresas multinacionais compram ou criam filiais ou representantes no Brasil, em vez de vender as máquinas necessárias para a produção de suas mercadorias, a matriz aluga as máquinas para essas filiais.
Ainda no déficit em transações correntes, os gastos com juros representaram US$ 1,2 bilhão em setembro de 2022, frente aos US$ 899 milhões em setembro de 2021, também um aumento exponencial.