Em resposta a uma pergunta em entrevista coletiva em Moscou, sobre a declaração do presidente dos EUA Donald Trump pela extensão do tratado INF a outros países, o vice-chanceler russo Sergei Ryabkov afirmou que Moscou está disposta a considerar a questão, se vier a ser apresentada de forma concreta.
“É claro que vimos a referência na declaração do presidente Trump à possibilidade de um novo tratado que poderia ser assinado em uma sala bonita e que este tratado deveria também incluir outros países como participantes”, assinalou o diplomata russo.
“Esperamos que esta proposta seja concretizada e colocada no papel”, acrescentou. Até agora, nada de novo veio de Washington.
Em 2 de fevereiro, os EUA declararam a suspensão do Tratado de 1987 que proibiu mísseis terrestres – nucleares e convencionais – entre 500 km e 5500 km de alcance, para abandoná-lo em seis meses. Foi esse tratado que desmantelou mais de 2600 mísseis nucleares dos dois lados há três décadas, evitando uma guerra nuclear no teatro europeu.
Na época, centenas de milhares de pessoas foram às ruas das capitais europeias contra a hecatombe que se avizinhava, quando os mísseis intermediários não demoravam mais que alguns minutos para atingir o alvo.
De forma espelhada à atitude dos EUA, o presidente Vladimir Putin anunciou a suspensão do acordo INF e instruiu seus ministros a não iniciarem novas negociações, já que há anos que os EUA vêm fazendo ouvidos moucos e desmantelando a estrutura de segurança global que evitou a guerra nuclear por meio século.
Em 2002, W. Bush, empurrado pelo vice Dick Cheney e o maníaco de guerra John Bolton, destruíram o Tratado ABM de 1972. O único tratado de limitação de armas nucleares que resta, o Start III, acaba dentro de dois anos, se não for prorrogado. O mesmo Bolton é agora o “cérebro” da saída do INF.
A “lógica” por trás da decisão de sair do Tratado Antimíssil (ABM), que limitava um sistema a cada lado, é a tresloucada ideia de que agora é possível vencer uma guerra nuclear através de um “primeiro ataque” em massa, dito de “decapitação”, com o que sobrasse de mísseis russos sendo abatido pelos antimísseis norte-americanos nas fronteiras da Rússia.
Insanidade cuja inviabilidade ficou patente com os novos mísseis hipersônicos russos.
Em Moscou, o ministério da Defesa russo cobrou que os EUA entrem em conformidade com o Tratado INF, destruindo os lançadores de Tomahawk em terra (instalados desde 2014) e os drones baseados em terra (desde 2010), que estão enquadrados nas proibições do tratado.
O INF só exclui mísseis de alcance intermediário que sejam instalados em navios ou aviões.
O pretexto de Washington para sair do Tratado INF foi o míssil russo 9M729, cujo alcance de 480 km é permitido, mas não apresentaram qualquer prova de que viole o acordo. Os EUA se recusaram até mesmo a participar da apresentação em público do míssil e seus principais parâmetros.
Sobre a violação por parte dos EUA – além do fato público de que o lançador MK 41 dispara Tomahawks proibidos – os militares russos divulgaram fotos de satélite de uma fábrica norte-americana que há dois anos prepara a produção de novos mísseis proibidos. Mostrou ainda, verba para desenvolvimento desse míssil proibido, concedida no orçamento dos EUA, dois anos antes de Washington acusar a Rússia.
Washington não esconde sua vontade de enquadrar no tratado a China, que tem nos mísseis intermediários terrestres um fator de dissuasão contra o muito maior arsenal nuclear norte-americano. No Tratado INF, só entraram EUA e União Soviética (agora Rússia), por juntos deterem 90% do arsenal nuclear.
Putin anunciou que mísseis intermediários terrestres russos só serão instalados aonde, antes, os EUA instalarem seus mísseis intermediários. A Europa, que foi a região do mundo mais beneficiada pelo Tratado INF, entra em um período de perigo e alerta.
Os EUA também violam sistematicamente o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, ao instalar bombas nucleares em seis países europeus não-nucleares, e ensaiar com esses países não nucleares o uso de armas nucleares. O “Nobel da Paz” Obama iniciou o programa de US$ 1 trilhão em 30 anos para atualizar o arsenal nuclear norte-americano, deixando o caminho pronto para Trump.