Após o chanceler inglês Boris Johnson ter, em entrevista à Deutsche Welle, asseverado que o laboratório inglês de guerra química de Porton Down tinha agente “Novichok” – a suposta substância do “ataque químico em Salisbury”, o embaixador russo Vladimir Chizhov observou em entrevista “que Porton Down é mais perto que Moscou”.
Bem mais perto: 11 quilômetros.
Na entrevista do loiro chanceler inglês, este foi perguntado pela DW alemão: “Você argumenta que a fonte desse agente nervoso, Novichok, é a Rússia. Como você conseguiu descobrir isso tão rapidamente? A Grã-Bretanha possui amostras disso?”
Acuado, Johnson tentou sair pela tangente: “Deixe-me ser claro com você … quando eu olho para as evidências, quero dizer, as pessoas de Porton Down, o laboratório…”
Foi interrompido pela DW: “Então eles [Porton Down] têm as amostras …”.
E então Johnson meteu os pés pelas mãos e confessou que eles – os ingleses -“fazem”.
Asseverou ainda que a confirmação havia sido “absolutamente categórica”, e que ainda insistira se “era Novichok mesmo” e lhe foi dito: “não há dúvida”.
Mas, foi contestado pelo ex-embaixador inglês Craig Murray, citando fontes internas de Porton Down, segundo as quais houve resistência em pôr no papel que era “de fabricação russa”. A fórmula de compromisso encontrada com May foi a curiosa “de um tipo desenvolvido na Rússia”. Do que – como para bom entendedor pingo é i – se depreende que poderia ter sido feito “em qualquer lugar”, como já registrou o site moon of alabama.
Na tentativa de refutar a observação do embaixador Chizhov, a BBC foi até o laboratório de guerra química, ali apresentado como “de pesquisa”, onde o diretor-executivo Gary Aitkenhead asseverou que quaisquer agentes nervosos mortais jamais poderiam ter escapado das “quatro paredes” da instalação militar. “Nós não poderíamos operar se tivéssemos falta de controle que poderia resultar em qualquer coisa deixando as quatro paredes de nossas instalações aqui”, disse Aitkenhead. “Não tem como esse agente ter saído. Temos plena confiança de que nada poderia ter ido daqui para o mundo mais amplo”.
Como o mundo é cheio de coincidências, como já assinalou a chancelaria russa, “no dia anterior ao envenenamento dos Skripals, o centro [o “laboratório” de Porton Down] realizou exercícios junto com os militares britânicos, durante os quais os métodos de combate à contaminação química e biológica foram praticados”.
O expertise inglês em guerra química não pode ser menosprezado. Afinal, foi a Grã-Bretanha que desenvolveu e em 21 de junho de 1962 depositou uma patente sob o número GB1346409A para a produção de agentes químicos organofosforados VX, que foi posteriormente vendida para os EUA.
Também, como é bem conhecido e foi oficialmente reconhecido pelo governo britânico em 2006, o país realizou experimentos com Ronald Maddison e outras 360 pessoas para estudar os efeitos do sarin em humanos.
Outro aspecto indiscutível do “expertise” inglês, nos tempo recentes, tem sido a disponibilidade para todo tipo de falseta a serviço de Washington. Uma das razões para Tony Blair ter passado para a história como o “lulu de W. Bush” foi a participação do MI-6, o serviço secreto inglês, na produção de mentiras para dar pretexto à invasão do Iraque.
A propósito, Blair já confessou que ele e os serviços secretos ingleses mentiram descaradamente.
Antes da cena do “tubinho com anthrax fake” de Colin Powell, houve o anúncio de Blair de que Sadam estava pronto para fazer “ataque químico em 45 minutos”. Pelo visto, May está tendo escapar do naufrágio de seu governo com seus próprios “45 minutos” e o mantra de “a culpa é da Rússia” e Putin é malvado.
Nos meses que antecederam a invasão do Iraque, os EUA foram assombrados por cartas com pó de anthrax, que depois da invasão acabaram rastreados até instalação de guerra química do Pentágono. A chancelaria russa também perguntou se a atual histeria em curso em Londres “é algum tipo de transe hipnótico sob influência da série de TV “Strike Back” – um tipo de “Homeland” -, que foi ao ar no Reino Unido há alguns meses e apresentava o agente químico Novichok?”. Nome que foi inventado exatamente para ser por si só uma “evidência” contra Moscou.
O que levou o porta-voz da chancelaria russa, Vladimir Yermakov, diante de uma pergunta de provocação feita por um jornalista inglês sobre o “Novichok”, a responder que o que se precisa é de uma “investigação conjunta” – como determinam as normas da OPAQ e do direito internacional – com “dados totalmente transparentes”. “Em vez de suposições absolutamente vagas em relação a quaisquer “novichoks”, “starichoks” (veteranos) ou “durachoks” (tolos)”. Ele concluiu lembrando que foi um cidadão russo que foi atacado no Reino Unido. “A lógica sugere duas variantes possíveis. Ou as autoridades britânicas são incapazes de assegurar proteção contra tais ataques terroristas em seu território, ou eles estavam direta ou indiretamente envolvidos na preparação deste ataque contra um cidadão russo. Não há outra alternativa”.
ANTONIO PIMENTA