Na sessão de emergência do Conselho de Segurança, representante venezuelano advertiu que plano é derrubar o presidente legítimo e instalar um regime fantoche
O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, denunciou que os Estados Unidos tramam a invasão da Venezuela e derrubada do seu governo legítimo, usando como pretexto um “roteiro de Holywood” sobre míticos “cartéis do Sol” que supostamente estariam traficando drogas para os EUA.
A declaração foi feita na sexta-feira (10), em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, convocada por pedido de Caracas, diante do envio para as costas da Venezuela de navios lança-mísseis norte-americanos, aviões de guerra e 4.000 marines, sob a esdrúxula alegação de “combate ao narcotráfico”.
Nebenzia lembrou que a derrubada do regime venezuelano é “abertamente mencionada por altos oficiais norte-americanos como meta de política externa”.
“O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime nem sequer considera a Venezuela um centro de tráfico de drogas”, já que 87% da cocaína que entra nos EUA vem pelo Oceano Pacífico, ao qual a Venezuela não tem acesso, observou o representante russo.
“Os próprios relatórios oficiais do Departamento de Estado” não mencionam os “cartéis do sol”, acrescentou.
Sobre os quatro barcos afundados pela força armada norte-americana no Caribe, matando mais de 21 pessoas, Nebenzia destacou que foram atacados em alto mar, “sem investigação ou julgamento, seguindo o princípio do faroeste de atirar primeiro. E agora, retroativamente, temos que acreditar que havia criminosos ali”.
“Estamos testemunhando uma campanha descarada de pressão política, militar e psicológica sobre o governo de um Estado independente com o único propósito de mudar um regime desfavorável aos EUA”, afirmou, observando que o plano de golpe está sendo realizado “usando as ferramentas clássicas de revoluções coloridas e guerras híbridas” para alimentar artificialmente “uma atmosfera de confronto”.
O governo Trump há muito acusa Maduro de laços com cartéis de drogas, rotulando-o de “narcoterrorista” e dobrando a recompensa por sua prisão para US$ 50 milhões. Trump se recusou a reconhecer a reeleição de Maduro em 2024 e apoiou abertamente um candidato com laços históricos com a CIA e aliado da golpista Maria Corina Machado. Em seu primeiro mandato, havia reconhecido como “presidente” ao golpista Juan Gaidó, na época em que fez os famosos comentários sobre “por que não tomamos o petróleo venezuelano que é do outro lado do Golfo?”
Segundo Moscou, tais ações refletem a lógica do “excepcionalismo norte-americano”, em que os EUA podem agir livremente enquanto outros países só podem fazer o que Washington permite.
Posteriormente, o “roteiro de Hollywood” denunciado por Nebenzia ganhou um novo e picante ingrediente, a premiação de Maria Corina Machado com o “Nobel da Paz” – ela que faz apologia da invasão de seu próprio país pelo exército norte-americano e, mais importante, da privatização do petróleo. O alistamento do Comitê do Nobel ao esforço de guerra norte-americano foi levado a efeito sob a liderança do secretário de Estado, Marco Rubio.
“QUE DIREITO TÊM OS EUA PARA MILITARIZAR O CARIBE?”, QUESTIONA CARACAS
Na sessão de emergência, o representante permanente de Caracas na ONU, Samuel Moncada denunciou que “as ações e a retórica belicista do governo norte-americano sinalizam objetivamente que em um prazo muito curto será executado um ataque armado contra a Venezuela”.
Moncada assinalou, ainda, que Trump tem acusado a migração venezuelana de executar uma “invasão ao território estadunidense”, estigmatizando esse grupo humano apenas por sua nacionalidade ou os taxando de “terroristas”.
“Com esta operação de desinformação, o governo dos EUA está atacando venezuelanos dentro e fora do território estadunidense. E há poucos dias inclusive declarou se encontrar em ‘um conflito armado não internacional’, com o único objetivo de ter carta branca para fazer a guerra contra a Venezuela”, afirmou o representante venezuelano.
Sobre o bombardeio de pequenos barcos e execução sumária de suas tripulações, usando bombas ou drones, Moncada disse que o governo dos EUA “disfarça seus crimes usando a máscara da legítima defesa. Dessa forma, assassina civis sem apresentar informação sobre sua identidade, sem comprovar o tipo de carga que se encontrava nas embarcações e sem apresentar evidência sobre a iminência de um ataque armado contra as forças americanas. Isso não foi em legítima defesa, foram execuções extrajudiciais”, criticou.
“Que direito têm os EUA para militarizar a região do Caribe? Nenhum. Que direito têm os EUA para executar civis que têm direito à presunção de inocência e ao devido processo? Nenhum”, expressou Moncada.
“PRETEXTO PARA CONVERTER NOSSO PAÍS EM COLÔNIA”
“O plano é claro. Trata-se outra vez de executar a operação que já fracassou, derrubar o presidente legítimo e constitucional da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro Moros, com o propósito de instalar um regime fantoche e converter nosso país em colônia”.
O diplomata aludiu às tentativas da administração Trump de usar a justificativa das drogas como “desculpa” para iniciar uma guerra” além de suas fronteiras.
“A verdade é que o Governo dos EUA, segundo confirmou a imprensa internacional, já emitiu uma ordem secreta para autorizar o uso da força militar em território estrangeiro, com a desculpa de uma falsa luta contra o narcotráfico”, afirmou. A isso se somariam operações encobertas da Agência Central de Inteligência (CIA) na América Latina e no Caribe.
“A Venezuela vem aqui hoje para exigir que o Governo dos EUA cumpra com suas obrigações internacionais”, declarou, ressaltando que seu Caracas está disposta a manter canais de diálogo com o país norte-americano.
Moncada chamou a preservar “nossa região como uma zona de paz”. “Não necessitamos nem queremos guerra com ninguém”, ele afirmou, advertindo que se os EUA violarem a soberania da Venezuela e executarem um ataque armado contra o país, o país “responderá com toda sua força e na mesma medida que o faça a potência estrangeira”.