O ministro do Exterior da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou, nesta terça, dia 5, que a crise que a Venezuela atravessa só pode ser resolvida através de um diálogo frente a frente entre o governo Maduro e a oposição.
Como ressaltou Lavrov, a posição do governo russo é de continuar a “acreditar que a única maneira de sair desta crise é sentar o governo e a oposição na mesa de negociações”.
Ele acrescentou que o contrário disso, “será simplesmente a mesma mudança de regime que o Ocidente fez muitas vezes.”
Neste sentido, o chanceler – que realiza uma visita a países da Ásia Central – destacou, em conversa com estudantes da Universidade de Dushambe, no Tadjiquistão, que o reconhecimento unilateral do autoproclamedo Guaidó, como presidente interino da Venezuela, “criou uma situação alarmante, resultado de uma grosseira violação do princípio de não ingerência nos assuntos internos de um Estado soberano” e qualificou como “inominável” esta ingerência diante da gravidade da crise venezuelana, “quando desde fora anunciam que a Venezuela tem agora um novo presidente interino”.
Ele declarou ainda que é “preocupante que as iniciativas que buscam incentivar o diálogo interno sejam “rechaçadas” por outras ideias dirigidas a uma “mudança de poder”.
Neste sentido, voltou a expressar o respaldo da Rússia à conferência internacional com a participação de todas as forças políticas venezuelanas em Montevidéu, proposta pelo México e Uruguai, e questionou a validade do Grupo Internacional de Contato formado por países europeus pelo enfoque baseado em “ultimatos” e lamentou que estes países ignorem o interesse da Rússia e China para participar da busca de alternativas para ajudar às partes enfrentadas na Venezuela a chegar a um acordo.
No dia anterior, o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, também condenou o apoio de diversos países da Europa a Guaidó, ao qualificá-lo de uma “ingerência direta e indireta em assuntos da Venezuela” e alertou que os únicos atores capazes de resolver a crise política interna do país latino-americano são os próprios venezuelanos.
O porta-voz do governo russo, declarou ainda que o apoio a Guaidó simplesmente torna um acordo “pacífico, efetivo e viável”, para saída da crise, mais difícil de ser alcançado.
“Impor decisões ou tentar legitimar um atentado de usurpação de poder, em nossa visão, é interferência, tanto direta quanto indireta, nos assuntos internos da Venezuela”, acrescentou Peskov, em coletiva em Moscou.
Até o momento, o governo venezuelano tem condenado a ingerência e feito referências ao diálogo mas de forma que ainda não demonstra abertura clara a negociações. A resposta de Maduro foi, que não aceitaria ultimatos partindo dos países europeus – que lhe deram uma semana para convocar eleições presidenciais – ou quaisquer outros, classificando também a atitude europeia (como já havia dito com relação ao Grupo de Lima e Estados Unidos) de ingerência inaceitável.
Ele tem dito que aceita conversar com o oposicionista Guaidó, mas, ao mesmo tempo, diz que quer convocar eleições imediatas para o Legislativo (onde a maioria vencedora nas recentes eleições foi a oposição), enquanto que, para presidente, diz que as eleições serão como programado, isto é, em 2025. Guaidó diz que não reconhece o atual governo. O impasse está mantido enquanto a crise econômica e política se agrava.
A União Europeia não conseguiu formular uma declaração conjunta de apoio a Guaidó porque a Itália indicou que vetaria qualquer resolução neste sentido. Roma já havia afirmado antes que não apoiaria o dito presidente interino. A declaração de Guaidó se deu no dia 23 de janeiro e foi imediatamente seguida de apoio pelos Estados Unidos e, ato contínuo, pelo governo brasileiro.
Além disso, a Casa Branca ampliou sanções contra a Venezuela e declarou congelamento de ativos da petroleira venezuelana, a PDVSA, ao tempo em que repetem ameaças de agressão militar, na tentativa de, garroteando a economia do país, fazer o governo venezuelano ceder, ao que Maduro reagiu, dizendo a Trump que não “manche as mãos de sangue em um novo Vietnã”. No sábado uma multidão atendeu a uma manifestação, com a participação de Maduro, em defesa da soberania venezuelana. No mesmo dia, também em Caracas, ato em favor do oposicionista se estendeu em uma das avenidas da capital.