Rússia concluiu o fornecimento do poderoso sistema de defesa antiaérea S-300 que ajudará a manter a soberania e a integridade territorial síria e a prevenir ataques e provocações
A Rússia anunciou na quarta-feira (2) a conclusão da entrega à Síria, para reforçar sua soberania e defesa, do poderoso sistema antiaéreo S-300, radares e sistemas de proteção eletrônica. Também em Moscou delegações russa e síria conclamaram à realização, o mais cedo possível, de uma conferência internacional para apoiar o retorno dos sírios deslocados do país pela guerra. Até agora, 1,45 milhão de sírios retornaram à terra natal.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, assinalou que o treinamento do pessoal sírio para operação dos S-300 levará três meses. A partir de agora está estabelecida uma zona de fechamento de até 50 quilômetros e de controle remoto de 200 quilômetros.
São 49 os equipamentos entregues, incluindo quatro lançadores, radares e sistemas de localização, lasers de iluminação e veículos de comando. O sistema de proteção eletrônica também foi fortalecido. O estabelecimento de um sistema conjunto de comando e controle da defesa aérea na Síria estará completado até o dia 20.
A medida foi decidida pelo presidente Vladimir Putin, em consulta com o presidente Bashar Assad, em resposta à derrubada de um avião de monitoramento Il-20 com 15 russos militares mortos, durante um ataque da avião israelense contra a Síria, e resposta das baterias antiaéreas sírias à agressão israelense.
A Rússia, atendendo a pedido do governo de Israel, havia declinado anos antes o fornecimento do S-300 à Síria, mas em vista das novas circunstâncias, completou em duas semanas a entrega.
Israel vinha bombardeando regularmente – e na mais completa ilegalidade sob o direito internacional – alvos na Síria, alegando sempre que se trataria de complexos do Hezzbolah libanês ou dos iranianos, que seriam, ou poderiam vir a ser no futuro, ameaças para sua segurança. Enquanto isso não pôs em risco vidas russas e a estratégia de derrotar os terroristas, o governo russo conviveu com essa situação, o que não é mais o caso.
O Departamento de Estado reagiu com a curiosa declaração de que a instalação de um sistema antiaéreo de defesa – acredita-se que os terroristas não tenham força aérea – seria uma “séria escalada” no conflito. Fontes do Pentágono, que ilegalmente mantém tropas em solo sírio, sem autorização do governo legítimo ou do Conselho de Segurança da ONU, disseram que, do ponto de vista delas, “não mudava nada”.
O governo egípcio classificou a medida de “um assunto para a Rússia e Síria decidirem”, com o chanceler Sameh Shoukry afirmando em coletiva de imprensa durante a Assembleia Geral que o Cairo almeja uma Síria “com segurança e integridade territorial”, e onde “todos os participantes legítimos tenham voz” no processo político conduzido pela ONU.
Investigação feita pelo ministério da Defesa russo responsabilizou Israel pela derrubada, devido a que seus F-16 usaram o Il-20, de sinal de radar muito maior, de escudo, atraindo o fogo antiaéreo sírio contra a aeronave russa.
TEL AVIV
As tentativas de explicação de delegação israelense enviada a Moscou às pressas foram reputadas pelos especialistas russos, que disseram ainda que Tel Aviv só informou sobre o ataque quando faltava um minuto, sem dar tempo para operação de retirada do avião russo com segurança, e ainda mentiu de que o alvo seria outra área e não Latakia, como ocorreu. O que constituiu uma violação direta dos protocolos de segurança estabelecidos anteriormente em negociações entre Putin e Benjamin Netaniahu.
Em São Petersburgo, em cerimônia com a presença do primeiro-ministro austríaco, Sebastian Kurz, de assinatura de acordo entre a Gazprom russa e a estatal OMV austríaca no gasoduto Nord Stream 2, o presidente Putin afirmou que não via “qualquer ação militar [em Idlib] em futuro previsível, não queremos lutar nessa área – o que queremos é alcançar a paz, e os instrumentos que escolhemos têm sido eficazes até agora”. Ele acrescentou que a abordagem em Idlib deve ser “levar a ajuda humanitária às pessoas”, quer vivam em áreas controladas pelo governo sírio ou pelos opositores. Ele agradeceu ao empenho do presidente turco Recep Tayyp Erdogan na criação da zona desmilitarizada em Idlib. “Temos trabalhado de perto com nossos parceiros turcos e podemos ver que eles tratam esses acordos como algo muito sério”.
ANTONIO PIMENTA