O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, general Igor Konashenkov, chamou de “banditismo” o anúncio, pelos EUA, de que suas tropas iriam manter sob ocupação os poços de petróleo no leste da Síria.
“O que Washington está fazendo agora, a apreensão e o controle de campos de petróleo no leste da Síria sob seu controle armado é, simplesmente, banditismo internacional do Estado”, afirmou em comunicado.
Ele acrescentou que o petróleo da Síria pertencia apenas aos sírios, e não aos terroristas do Daesh (que a mídia ocidental chama de Estado Islâmico, EI) nem a Washington.
“Todos os depósitos de hidrocarbonetos e outros minerais localizados no território da Síria não pertencem aos terroristas do EI, e muito menos aos ‘defensores americanos dos terroristas do EI’, mas exclusivamente à República Árabe da Síria”, afirmou o porta-voz militar russo.
Para Konashenkov, “a verdadeira causa dessa ação ilegal dos Estados Unidos na Síria está longe dos ideais que Washington proclama e dos slogans do combate ao terrorismo”.
ROUBO SOB ESCOLTA
O porta-voz russo também apresentou imagens de satélite que mostravam que os EUA estavam contrabandeando petróleo sírio para outros países sob a proteção de suas tropas, antes e depois da derrota do Daesh.
O chefe do Pentágono, Mark Esper, asseverou que o deslocamento de tropas para as áreas de petróleo seria para evitar que caíssem “em mãos erradas”. Assim, a retirada anunciada por Trump não incluiu abandonar o assalto ao petróleo – o que deve ser por uma questão de princípio.
Se não roubar petróleo, como fica a moral da tropa? E o espírito animal em Wall Street e na Virgínia?
Segundo Esper, o contingente inclusive seria aumentado para até 1000 soldados e incluiria “forças mecanizadas”, isto é, tanques e blindados. Questionado, ele admitiu que não existia “no momento” ameaça alguma contra as áreas de petróleo.
EXXON, AS “MÃOS CERTAS”
O próprio Trump veio a público esclarecer que mãos seriam certas, do ponto de vista de um mafioso lotado na Casa Branca. Disse que iria convidar “a Exxon”, ou outra petroleira da casa, para tocar o negócio em terra alheia.
Conforme a Reuters, Trump asseverou que pretendia “fazer um acordo com a ExxonMobil ou uma das nossas grandes empresas para entrar lá e fazê-lo como deve ser… e espalhar a riqueza” . “O petróleo é tão valioso, por tantas razões”, filosofou. “Primeiro, alimentou o EI. Segundo, ajuda os curdos – porque basicamente foi retirado aos curdos… E, terceiro, pode ajudar-nos, porque também deveríamos poder ficar com algum”, acrescentou @realDonald Trump.
Como Esper fez questão de ameaçar quem quer que conteste o roubo de petróleo sírio pelas tropas norte-americanas, tecnicamente diríamos que o Pentágono liberou o latrocínio.
Os EUA parecem já ter começado a mover tropas de acordo com o novo plano. No sábado, um comboio norte-americano de mais de uma dúzia de veículos foi visto se dirigindo para o sul da cidade de Qamishli, provavelmente a caminho dos campos de petróleo de Deir Ez Zor. Também foi visto um grande comboio de tropas do governo sírio em direção à estratégica rodovia M4, em um desdobramento do que é o retorno das forças armadas sírias ao norte do país, pela primeira vez desde 2012.
No sábado, os chefes da diplomacia russo e norte-americano discutiram o imbróglio na Síria por telefone. “Do lado russo, foi enfatizada a necessidade de evitar medidas que comprometam a soberania e a integridade territorial daquele país”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia em comunicado.
Embora a Síria não seja um grande produtor, as vendas de petróleo eram responsáveis por 25% da receita estatal – e, portanto, o roubo do petróleo implica em subtrair ao povo sírio recursos dramaticamente necessários para a reconstrução do país. Antes da guerra, a Síria produzia 387 mil barris diários e exportava 140 mil.