O embaixador russo na Organização das Nações Unidas, Vasily Nebenzya, apresentou na sexta-feira (17) um projeto de resolução ao Conselho de Segurança da ONU para que investigue a “sabotagem ultrajante” que explodiu os gasodutos Nord Stream em setembro do ano passado.
Conforme Vasily, a ONU é capaz de estabelecer mecanismos internacionais não só para apurar as explosões, como de identificar seus responsáveis. Com cerca de 1.200 quilômetros de extensão, os gasodutos respondiam pelo abastecimento de 40% do gás europeu e 50% do alemão.
A solicitação russa vem na sequência das denúncias veiculadas no começo de fevereiro, pelo jornalista investigativo norte-americano Seymour Hersh implicando a Casa Branca na destruição.
Hersh, vencedor do Prêmio Pulitzer de Reportagem Internacional e especializado em geopolítica, informou que mergulhadores da Marinha dos Estados Unidos, ajudados pela Noruega, plantaram explosivos nos oleodutos sob o Mar Báltico, entre a Rússia e a Alemanha, em junho passado e os detonaram três meses depois. As informações, aponta o jornalista, lhe foram fornecidas por suas fontes que, aliás, sempre se revelaram confiáveis aí incluindo a denúncia do massacre de vietnamitas em Mi Lai cujo impacto isolou profundamente a agressão norte-americana no Vietnã.
O jornalista expôs que a decisão de bombardear os oleodutos, fechados desde a aplicação das sanções russófobas, mas que continham gás residual, foi tomada em segredo pelo presidente dos EUA, Joe Biden, para prevenir, mesmo que no futuro, a Rússia de continuar vendendo o gás natural aos europeus e assim podendo impor a venda do gás norte-americano mais caro e de operação de fornecimento muito mais complexa para lucrar bilhões de dólares com o gás exportado para a Europa.
Além da relevância econômica, avaliou o jornalista, os EUA também eram contrários à influência política do comércio do gás sobre a Alemanha e a Europa Ocidental, fator de relacionamento entre Rússia e Europa, o que ia de encontro com o clima de Guerra Fria que Washington quer impor usando como seu peão o regime Volodymyr Zelensky para manter o conflito Rússia-Ucrânia.
Investigações feitas pelos governos da Suécia e da Dinamarca também concluíram que os oleodutos foram explodidos deliberadamente, embora não dissessem quem poderia ser o responsável.
O vice-embaixador da Rússia na ONU, Dmitry Polyanskiy, frisou que o objetivo é colocar a proposta em votação no Conselho de Segurança na próxima quarta-feira. Uma resolução necessita de pelo menos nove votos a favor e nenhum veto dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, China ou Rússia para ser aprovada.
A reunião do conselho para debater a sabotagem dos gasodutos já havia sido recusada uma vez pelo porta-voz do secretário-geral da ONU, Stephane Dujarric, sob a alegação de que o organismo não tem autoridade para a investigação. Prontamente, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, respondeu que seu país não aceitava a fuga de responsabilidades e, dando um passo a mais, também cobrou da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que inspecione as explosões.
CHINA DEFENDE APURAÇÃO
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, defendeu, segunda-feira (20), que a comunidade internacional tem o direito de exigir uma investigação completa sobre os ataques.
Para a ex-ministra austríaca das Relações Exteriores (2017-2019), Karin Kneissl, os EUA “ganharam mais do que ninguém” com a explosão. “O que estamos vendo agora é que, com o oleoduto já destruído, os EUA podem ter certeza de que não entrará em operação no futuro próximo, apesar da Gazprom [empresa russa, maior exportadora de gás natural do mundo] ter anunciado que estaria disposta a consertar as partes destruídas. Por isso acho que os EUA ganharam mais do que qualquer um”, assinalou Kneissl.
Ampliando a pressão pela busca da verdade, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, declarou no sábado (18) que a Otan deveria realizar uma reunião de emergência para discutir as recentes descobertas. “Há fatos mais do que suficientes aqui: a explosão do oleoduto, a presença de um motivo, provas circunstanciais obtidas por jornalistas”, explicou Zakharova. “Então, quando uma cúpula de emergência da Otan se reunirá para revisar a situação?”, questionou.
A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Adrienne Watson, tentou defender o indefensável e descreveu o relato como “totalmente fictício”, enquanto um porta-voz da Agência Central de Inteligência (CIA) disse ser “completamente falsas” as denúncias.