O presidente Vladimir Putin foi reeleito no domingo (18) com 56,6 milhões de votos, segundo a Comissão Central Eleitoral Russa. O que corresponde a pouco mais da metade (52,8%) dos 107,2 milhões de eleitores russos – ou 76,6% dos votos válidos. A eleição foi realizada exatamente no quarto aniversário da histórica reunificação da Crimeia à pátria russa.
Como segunda força política do país se consolidaram os comunistas de mais variados matizes, com 11,8% dos votos obtidos por Pavel Grudinin, na primeira vez em que o líder do Partido Comunista da Federação Russa, Guenadi Ziuganov não se candidatou.
O comparecimento às urnas chegou a 67,5% do eleitorado. Em terceiro lugar, ficou o liberal-democrata Vladimir Zhirinovsky, com 5,6%. Os candidatos que se assumem como neoliberais mal obtiveram juntos 2,7% dos votos (Ksenia Sobchak e Grigory Yablinsky). Outros três candidatos tiveram menos de 1% cada.
O “ficha suja” Alexei Navalny, que a mídia imperial costuma paparicar como “maior líder” da “oposição” [a do tipo que eles gostam], foi impugnado por ter condenação por fraude. Maior país do mundo, a Rússia possui 11 fusos horários distintos, o que faz com que a votação aconteça ao longo de 22 horas seguidas. Assim, quando as urnas são lacradas no extremo leste do país, ainda é de manhã na região ocidental da Rússia.
Por isso cada seção inicia sua apuração assim que as urnas fecham pelo horário local, sem esperar o encerramento das demais. Quase meio milhão de fiscais fez sua parte no processo eleitoral. Apesar de algumas irregularidades flagradas – havia câmeras em todas as seções – isso não alterou o resultado minimamente. Havia ainda mais de 10 mil jornalistas e 1513 observadores internacionais de 115 países.
O candidato Zhirinovisky, que sempre disputa a eleição presidencial, reclamou que “não houve igualdade de condições”, observação análoga a de Grudinin. Especialmente no que se refere ao acesso aos meios de comunicação, sobretudo televisão, e ao abuso da máquina de governo. Com popularidade de 80%, Putin se recusou a participar de debates com os outros candidatos.
Será o quarto mandato dele como presidente, que se estende até 2024. A grande questão que moveu os cidadãos russos às urnas foi o sentimento de restauração da soberania do grande país com Putin, apesar dos problemas com o importacionismo e juros altos, da recessão desencadeada pelas sanções e derrubada no preço do petróleo, e ainda da persistência das desigualdades sociais desde a privatização sob o bebum Yeltsin, os oligarcas ladrões e seus conselheiros ianques e do desmanche do socialismo.
Com Putin, grande parte da indústria pesada voltou ao controle estatal, e a Rússia emergiu do fundo do poço. Mas em 2015 e 2016, a economia esteve em recessão, com respectivamente – 2,8% e –0,2% No ano passado, houve uma pequena recuperação, com alta de 1,5% do PIB. Sob as sanções, o salário real caiu e também a pobreza voltou a crescer. O que explica em grande parte a decisão de Putin de concorrer não como candidato do partido no poder Rússia Unida, mas como “independente”.
Assim, a principal motivação para a votação recebida foi a atuação altiva diante do golpe na Ucrânia e da guerra de agressão à Síria e o empenho pelo restabelecimento do direito internacional no lugar do diktat de Washington e seu “mundo unipolar”.
No dia 1º, em discurso à Assembleia Federal russa, Putin anunciou o restabelecimento da paridade estratégica com os EUA, com os novos mísseis hipersônicos capazes de suplantar os sistemas antimísseis ianques e o cerco prestes a se completar. “Não quiseram nos ouvir, ouçam-nos agora”. Também o apoio militar e diplomático russo ao governo legítimo da Síria impediu que as potências ocidentais e seus terroristas repetissem ali o que foi feito na Líbia.
Por causa das sanções, em certa medida houve uma substituição de importações, especialmente no setor agrícola, mas também em várias áreas da indústria, mas ainda há muito a fazer para reerguer a indústria de consumo russa – passara-se a importar quase tudo – e para garantir o apoio básico aos muito pobres, às crianças e aos aposentados.
Para o líder comunista Ziuganov, a votação de Putin se deve à sua qualidade “de líder ativo e tático habilidoso”, mas considerou que, “do ponto de vista estratégico”, a Rússia perdeu a oportunidade de “analisar os problemas urgentes”. “Não houve nenhum debate completo, não houve oportunidade de discutir o programa de desenvolvimento proposto pelo partido do poder, que na verdade não existe”, acrescentou.
No balanço feito pelo Partido Comunista e por seu candidato Grudinin, foi saudado o fato de sua candidatura ter recebido o apoio absoluto de todas as forças de esquerda e nacional-patrióticas. “Apresentamos um candidato talentoso que possui uma experiência única de alcançar resultados em situações de emergência e que criou uma propriedade social que se tornou a melhor do país”.
Ziuganov advertiu que “os problemas permanecem, a crise continua a se aprofundar”. “Se você olhar para os dados dos últimos dois meses, a situação da economia só piora. As sanções estão crescendo como uma bola de neve; o país está ameaçado por provocadores, prontos para reunir uma nova Entente contra nós”, alertou o veterano dirigente, sublinhando que isso tem que ser tratado “pela nação unida e não por cada partido ou setor em separado”.
No discurso da vitória, a uma multidão em Moscou que o aguardava sob temperatura de -12 graus centígrados, Putin considerou o resultado como “o reconhecimento de tudo o que foi realizado durante os últimos anos em condições muito difíceis” e “da confiança e da esperança” no futuro. No dia seguinte ao pleito, Putin se reuniu com todos os candidatos a presidente para pedir a unidade em prol da pátria russa. Ele foi parabenizado pelo presidente chinês Xi Jiping, recém reeleito, que declarou que os laços entre a China e a Rússia estão “num nível sem precedentes”.
dentes”.
ANTONIO PIMENTA