O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, repudiou as sanções anunciadas pelos EUA contra instituições de pesquisa russa envolvidas no desenvolvimento de vacina contra o coronavírus, considerando-as um “absurdo total”.
“É um vício em sanções, um teatro do absurdo das sanções”, reiterou, rechaçando os “pretextos inadmissíveis” usados por Washington.
Na véspera, o governo Trump deu vazão ao seu frenesi por mais sanções adicionando cinco instituições russas que integram o esforço do país para derrotar a pandemia de Covid-19 à sua extensa lista, que alcança os mais diversos países, empresas e pessoas, sob os mais diversificados pretextos.
Foram incluídos na lista negra do Departamento do Comércio o 33º Instituto Central de Pesquisa e Testes do Ministério da Defesa, o 48º Instituto Central de Pesquisa em Kirov, suas filiais em Sergiev Posad e Yekaterinburg, bem como o Instituto Estadual de Pesquisa de Química Orgânica e Tecnologia.
“Nós, é claro, rejeitamos categoricamente as declarações de que nossas organizações possam estar envolvidas no desenvolvimento de armas químicas e bacteriológicas”, ressaltou o porta-voz do Kremlin.
A inclusão na lista do Departamento de Comércio dos EUA implica em restrições à exportação, reexportação e transferência de mercadorias. Para Dmitry Novikov, primeiro vice-presidente do comitê de assuntos internacionais da Duma, com essas sanções Washington persegue dois objetivos ao mesmo tempo: fazer lobby “por suas próprias empresas farmacêuticas” e “aumentar a pressão sobre Moscou”.
Como é público e notório, sob Trump, os EUA são o pior país do mundo em desempenho contra a pandemia, com quase 25% de todos os contágios e mortos, quando só tem 4% da população do mundo.
Novikov acrescentou que as novas sanções visam “estreitar o desenvolvimento econômico, social e científico da Rússia”. Os Estados Unidos – destacou – não escondem seu objetivo de criar problemas para a economia russa e para a Rússia como um todo “, disse o parlamentar em entrevista à RT.
Por sua vez, o chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, disse a repórteres que Washington não pretende aceitar os resultados dos testes da vacina russa contra o coronavírus. “Não aceitaremos testes estrangeiros da Rússia”, disse ele em uma entrevista ao portal Politico, observando que não se injetaria uma vacina russa contra Covid-19.
O senador Oleg Morozov acredita que, com suas sanções, Washington está tentando desviar a atenção do fato de que os especialistas americanos não foram capazes de criar uma vacina contra Covid-19 mais rápido do que seus colegas russos.
“Por um lado, trata-se do prestígio da ciência americana, que mais uma vez perdeu para nós e agora encobre a derrota com sanções, e, por outro, um cálculo simples, ou seja, uma tentativa de fechar os mercados ocidentais para a nossa vacina”, disse o senador em entrevista à RIA Novosti, mas se disse certo de que haverá demanda para a vacina russa.
Quase metade da nova lista negra do Departamento de Comércio norte-americano é de organizações chinesas, notou o diretor do Instituto de Desenvolvimento Estatal Contemporâneo, Dmitry Solonnikov – cerca de 30.
“Os EUA escolhem seus oponentes, os identificam com clareza e continuarão com todos os tipos de pressão que possam organizar nesta situação. Washington promoverá por qualquer meio seus interesses no mundo, em particular sua vacina, suas patentes. Eles vão tentar fazer com que todos trabalhem em seu campo de patentes ”, disse o especialista à RT.
Solonnikov acredita que, no futuro, os Estados Unidos tentarão criar problemas tanto para as vacinas russas quanto para as chinesas.
A Rússia registrou a primeira vacina contra COVID-19 do mundo, que chamou de ‘Sputnik V’, com mais de 25 países se dispondo a comprar cerca de 1 bilhão de doses da vacina russa.
O presidente Vladimir Putin acaba de divulgar que uma segunda vacina contra a Covid-19 estará pronta em setembro. “Estou certo de que os especialistas criarão um medicamento excelente que será de grande ajuda para o povo”, assinalou Putin durante uma entrevista coletiva.
A Rússia estima que poderá produzir pelo menos 500 milhões de doses por ano e está discutindo com vários países o início da produção em massa, segundo Moscou, principalmente na América Latina.
Ao mesmo tempo em que os EUA fazem elocubrações sobre “armas biológicas”, continuam atrasados no descarte das armas químicas, que só deverá estar concluído em 2023. A Rússia já se desfez dessas armas em 2017, atendendo ao acordo com os EUA para fim das armas químicas.
Como registrou em março de 2018 o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, “nós, conseqüentemente, eliminamos todos os nossos estoques de agentes de guerra química no período até 2017 e fizemos isso sob o mais estrito controle internacional”.