“Vemos pessoas com trajes espaciais e depois dizem a nós: vocês estão bem, lavem suas roupas, passem lenços de papel nos bebês”, afirmou moradora de Salisbury sobre o caso do ex-espião
Em discurso ao parlamento na segunda-feira (12), a primeira-ministra inglesa Theresa May assacou que era “altamente provável” que o ataque com “agente nervoso” contra o espião aposentado Sergei Skripal e sua filha houvesse sido cometido “pela Rússia” e deu prazo de “36 horas” para entrega da suposta substância que vitimou o ex-espião.
Escalada para o bate-pronto com as declarações mais estapafúrdias vindas dos imperialistas, a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, classificou o discurso de May de “um show circense” e uma “provocação”.
Naturalmente, ao fazer as acusações, a primeira-ministra May não achou que precisa provar qualquer coisa sobre o ataque, inclusive que efetivamente haja havido o uso de um “agente nervoso’’ de fabricação russa e que não se trate de uma provocação, nem o porquê da enorme coincidência do ataque ocorrer exatamente a 10 quilômetros do principal centro inglês de guerra química, em Port Down. Ou como chegaram à conclusão de que o agente nervoso é supostamente o “Novichok” de “grau militar de fabricação russa”.
Como se sabe, depois de se considerar dona da maior parte do mundo, onde jamais o sol se punha, após a II Guerra desafortunadamente a plutocracia inglesa acabou se contentando com o papel de lacaios peniqueiros de Washington. Como nas provocações a cargo do lulu Blair (“armas biológicas de Sadam prontas para uso em 45 minutos”), ou agora, o enclausuramento de Julian Assange na tentativa de forçar sua extradição para os calabouços da CIA.
O aspecto de show circense é evidente: deslocaram para Salisbury uma multidão de “investigadores” vestidos com roupa de astronauta, para ressaltar a “periculosidade” do “agente nervoso” de “procedência russa”, enquanto mandam a população local lavar as mãos e as roupas.
Uma moradora disse ao Guardian que havia uma “discrepância” entre o que era mostrado e o conselho dado ao público sobre o que fazer. “Vemos pessoas com uma roupa de proteção e depois [as autoridades] dizem ao resto de nós: vocês estão bem, lavem suas roupas, passem lenços de papel nos bebês, é simplesmente extraordinário”.
“Não faz sentido” – continuou – “quando olho uma fotografia de jornal de cinco homens em trajes espaciais e estamos usando apenas roupas comuns”. Ela acrescentou que devia ter, “pelo menos”, uma linha direta para que as pessoas ligassem.
Outra cena ridícula – também registrada pelo mesmo jornal – foi o bêbado, que invadiu o local do banco onde Skripal e sua filha foram achados, fez xingamentos racistas contra os russos e se atracou com os policiais antes de ser afastado. Curiosamente, a peste de Salisbury não o pegou…
Skripal, 66, e a filha Yulia, 33, (que vive na Rússia e o estava visitando) foram encontrados caídos em um banco de Salibury no domingo, depois de um passeio ao shopping e levados a um hospital em condição crítica. O policial que os socorreu também foi afetado. Posteriormente foi afirmado que eles haviam sido intoxicados por um “tipo raro” de “agente de nervo”, cujos marcadores químicos supostamente permitiriam rastrear até à Rússia. Nada, absolutamente nada, foi provado. May ameaçou com represálias e seu chanceler, Boris Johnson, chegou a sugerir o “boicote à Copa da Rússia”.
Após uma troca de espiões ocorrida em 2010, o ex-coronel da inteligência militar russa Skripal vivia exilado na Inglaterra há oito anos sem qualquer problema, depois de ter recebido perdão do governo Medvedev. Por dinheiro, ele atuou de 1995 a 2004 para os ingleses, a quem entregou uma lista de agentes russos na Inglaterra. Pego, foi preso e condenado.
Levando-se em conta que nos EUA não cessa o embuste do Russiagate e a provocação do ‘dossiê do doping estatal’, que haverá uma Copa do Mundo no meio do ano e eleições presidenciais dentro de 15 dias, por que a Rússia se disporia a descartar de uma forma absolutamente escandalosa um peão fora do tabuleiro, dando munição aos provocadores?
Além das hipóteses já citadas de provocação montada pelo próprio serviço secreto inglês (que costuma fazer isso a pedido da CIA) e acerto de contas em “Londongrad” – Londres é a ‘Miami’ dos canalhas fugidos da Rússia -, o Telegraph aventou outra possibilidade: Skripal teria vínculos com Christopher Steele, aquele que foi pago pela campanha de Hillary para fabricar um dossiê falso contra Trump. Do esgoto que escorre da City londrina, de Wall Street e do Pentágono, quanto mais remexe, mais fede.
ANTONIO PIMENTA