A Rússia classificou o ataque à luz do dia do governo Trump à plataforma chinesa de compartilhamento de vídeos curtos Tik Tok como um “exemplo flagrante de concorrência desleal” na tentativa de “manter o monopólio dos gigantes norte-americanos da web” e “uma violação das normas da Organização Mundial do Comércio”.
Na quinta-feira, o presidente Trump assinou uma ordem executiva que proibiria em 45 dias os norte-americanos de transacionar com a empresa chinesa ByteDance, dona do TikTok, a menos que esta venda o aplicativo para uma empresa norte-americana. Depois, ainda disse que o Tesouro dos EUA deveria receber uma comissão – “uma quantia substancial de dinheiro” – por estar possibilitando a transação.
Na prática, essa medida estende às plataformas de web a guerra de Trump contra o desenvolvimento tecnológico de ponta da China, já explicitada pela caçada à Huawei, que saiu na frente no 5G, e a outras empresas chinesas.
O pretexto alegado pela Casa Branca foi de que o Tik Tok coletaria dados pessoais de cidadãos americanos, que seriam compartilhados com o governo chinês e usados para espionagem ou chantagem, sem apresentar qualquer prova. Conforme a ordem presidencial, seria uma ameaça “à segurança nacional, à política externa e à economia dos EUA”.
Na realidade, a ByteDance é uma empresa privada e os dados dos usuários norte-americanos do Tik Tok ficam armazenados em servidores dentro dos Estados Unidos.
Ordem executiva de mesmo teor foi dirigida por Trump contra a WeChat, no que é amplamente visto como uma tentativa de Washington de barrar o avanço das plataformas chinesas, que estão deixando para trás, em funcionalidade e criatividade, as gigantes norte-americanas, como Facebook, Amazon e Google.
Tanto a China quanto o TikTok negaram as alegações do regime Trump. Tik Tok tem 800 milhões de usuários. A plataforma multipropósitos WeChat, de propriedade da TenCent, tem 1 bilhão de usuários no mundo inteiro e nos EUA é utilizada diariamente por 19 milhões de pessoas. O WeChat se tornou o principal meio de relacionamento dentro da China e entre chineses no exterior – como os 400 mil estudantes chineses nos EUA – e suas famílias.
Nos EUA, o Tik Tok se tornou imensamente popular entre a garotada, com 80 milhões de usuários e há quem diga que foram os Tik Tokers que esvaziaram o comício de Tulsa de Trump por pura curtição. Imediatamente, a Microsoft se candidatou a ser quem abocanha a plataforma Tik Tok.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, chamou essa ação contra o TikTok de “outro exemplo flagrante de concorrência desleal” pelo domínio no campo da informação. Ela considerou “infundadas” as alegações de Washington e assinalou que não passavam de uma “manobra descarada” para forçar uma empresa chinesa “a ser absorvida por um concorrente dos EUA”.
Zakharova questionou, ainda, se esses métodos assumidos abertamente por Trump “para manter o monopólio dos gigantes da web americanos” poderiam ser considerados de acordo com “o direito internacional e os valores democráticos”.
“PIRATARIA DOS TEMPOS MODERNOS”
Na sexta-feira, a Byte Dance anunciou que irá “aos tribunais” defender seus direitos diante do que vem sendo chamado de “pirataria dos tempos modernos” do governo Trump.
Em Pequim, em coletiva de imprensa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, disse que a China se opõe firmemente ao bullying fragrante por parte de Washington contra empresas não-americanas, o que viola as normas da OMC.
O porta-voz advertiu Washington a “não abrir a caixa de Pandora” e a se abster de “politizar questões econômicas”. “Se os Estados Unidos fazem assim, qualquer país poderá tomar medidas semelhantes contra qualquer empresa norte-americana por razões de segurança nacional”.
Wang também destacou que “há algum tempo e sem fornecer qualquer evidência, os Estados Unidos vêm explorando exageradamente o conceito de segurança nacional e abusam do poder estatal para derrubar certas empresas não-americanas”.
“É um flagrante ato de bullying, ao qual a China se opõe firmemente”, sublinhou.
Wang destacou que as empresas atingidas fazem negócios nos Estados Unidos de acordo com os princípios de mercado e regras internacionais e cumprem as leis e regulamentos dos EUA.
Com a pandemia fora de controle, e tornada questão chave para a reeleição ou não, a economia devastada sob o coronavírus, e com Trump sofrendo revezes nas pesquisas de voto nos estados campo de batalha, sua campanha tem investido em açular o ódio contra o bode expiatório China. Os estados campo de batalha são aqueles em que se define a eleição no colégio eleitoral por reduzidas diferenças de alguns milhares de votos,
Analistas advertem ainda que essa política de Trump ameaça dividir e balcanizar a internet. Quanto ao ‘risco de ser espionado pelos chineses’, são de um cinismo atroz tais alegações dos EUA. Desde as denúncias de Edward Snowden, é amplamente sabido que são os EUA que grampeiam o planeta inteiro dia e noite. Aliás, com a solícita cooperação dos monopólios norte-americanos de telecomunicações e web.