A montanha pariu um rato. Tentando escapar do nó no pescoço lançado pelo relatório Nunes, sobre a complô entre as agências de inteligência e Hillary para grampear Trump durante a eleição, ocultando que o dossiê Steele havia sido encomendado e pago pelos democratas, a investigação de Robert Mueller sobre o Russiagate acusou “13 russos e três entidades russas” – uma delas, uma “fábrica de trolls” – de “ingerência” nas eleições presidenciais de 2016 e de querer “dividir os americanos”.
O jornalista do New Yorker, Adrian Chen, que já tratou em 2015 da “fazenda russa de trolls” de São Petersburgo, a IRA (Agência de Pesquisa de Internet), desinflou de uma só espetadela o balão de Mueller: “são 90 pessoas com um domínio frágil do inglês e uma compreensão rudimentar da política dos EUA fazendo postagens de bosta [shitposting] no Facebook”. Dos 300-400 empregados, 90 são do “departamento americano”.
Também o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, desmascarou a fragilidade das piruetas de Mueller. “Os EUA têm 320 milhões de pessoas e um setor de mídia e cultura de trilhões de dólares que emprega mais de um milhão de pessoas. Não considero que seja possível dividir a América tentando ‘aumentar as divergências’ com uma centena de trolls”.
Se, como já atestou o Facebook, os anúncios russos foram “0.004% do total” no período e, ainda, segundo o vice-presidente de publicidade, Rob Goldman, a maior parte “aconteceu após a eleição”, então como poderia ter a Rússia intervindo no resultado ou supostamente favorecido Trump? Pressionado pelo Facebook, ele fez meia volta, mas aí o estrago já estava feito.
Outra questão é como o pequeno volume de dinheiro usado pelos russos para impulsionar postagens no Facebook e Tweeter – mecanismos absolutamente corriqueiros nos dois gigantes da internet – poderia fazer frente aos gigantescos montantes gastos nas campanhas de Hillary (US$ 768 milhões) e Trump (US$ 398 milhões), o que, incluindo as campanhas legislativas, ultrapassou os US$ 2 bilhões.
O site The Duran assinalou ainda que o relatório de Mueller é literalmente um “copia-e-cola” de um artigo de 2015 da Rádio Free Europa Ucrânia sobre a “fábrica de trolls de São Petersburgo” – isto é, originalmente, foi redigido pela CIA.
FARSESCO
O caráter farsesco de toda a “investigação Mueller” é destacado pelo ex-subsecretário do Tesouro de Reagan, Paul Craig Roberts: “Note que depois de dizer [por cinco minutos] que os russos estão indiciados por interferir na eleição, na marca de 5 minutos e 20 segundos Rod Rosenstein diz que não há evidências de que os russos tenham afetado as eleições! Então o que temos é o vice-procurador-geral dos EUA que anuncia uma acusação para a qual ele diz que não há provas!”
Outro aspecto da opereta bufa de Mueller, o das contas e perfis fictícios atribuídos ao IRA, foi demolido por Assange, que notou o ponto 95 da acusação, em que o investigador especial reconhece que os acusados “também usavam as contas para receber dinheiro de pessoas nos EUA em troca de postagem e anúncio nas páginas de mídia controladas por eles, cobrando entre 25 e 50 dólares”.
Assim, conforme Assange, o que se tratou foi de trolls russos gastando milhares de dólares em anúncios no Facebook para aumentar a audiência – algo que é muito comum e encorajado pelo Facebook. É assim que o Facebook ganha dinheiro e como grupos criam uma audiência, que pode ser vendida aos anunciantes que desejam segmentar esses grupos. Em outras palavras, o que o IRA faz é operar um negócio de marketing spam e de mídia social, e não uma operação de “semear a discórdia”. E o Russiagate não passa de um “nothingburger”, um sanduíche de nada, para justificar nova carreira armamentista e encher de dinheiro o Pentágono e a indústria bélica, ameaçar a Rússia e, se der, impichar Trump.
A.P.