
Uma multidão tomou as ruas centrais de Moscou – mesmo diante do frio e da pandemia e tomando cuidados para se proteger dela – para comemorar o 103º aniversário da Revolução Socialista de Outubro (que ocorreu em 25 de outubro pelo calendário local) e em 7 de novembro de 1917 no calendário ocidental.
O presidente do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Rússa (PCFR), Gennadi Zyuganov, liderou a cerimônia de entrega de flores diante do mausoléu de Lenin, líder da primeira revolução socialista da história da humanidade. Flores também foram depositadas no busto de Josef Stalin, seu sucessor no avanço das conquistas populares e dos trabalhadores e na consolidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Zyuganov assinalou que a data é a da “grande festa” e é a expressão da união e da força da classe trabalhadora e destacou que “não houve nada mais magnífico no planeta durante os últimos 300 anos”. “Antes disso governavam as classes possuidoras, os ricos. Pela primeira vez, sob a liderança de Lenin triunfou o poder soviético. Sovietes de Deputados Operários, Camponeses e Soldados. Passaram a dar um exemplo de pensamento estatal, gestão e criação eficazes”, ressaltou Zyuganov, sob aplausos.
Conforme o dirigente comunista foi devido à vitória conquistada em 1917 que pôde ser forjada a vitória do Exército Vermelho diante da Alemanha nazista em 1945, já que foi o “gênio de Vladimir Lenin o que pôde reorganizar um Império Russo desintegrado e destroçado na Primeira Guerra Mundial”, como consequência de haver “Nicolás II arrastado a Rússia a esta carniçaria somente para proteger o dinheiro e a fortuna dos banqueiros de Londres, Paris e Nova Iorque”.
Entre os inúmeros avanços proporcionados pelo programa de Lenin, Zyuganov destacou a organização da educação universal que converteu um país semianalfabeto, em poucos anos, no mais alfabetizado do mundo. “Graças ao seu plano, GOELRO (Comissão Estatal para a Eletrificação da Rússia) e NEP (Nova Política Econômica), uma economia destruída se elevou às alturas do espaço. Graças à sua vontade e coragem de unir o país e criar um novo tipo de partido”, disse. E acrescentou: “devemos aprender com aqueles que conseguiram criar uma grande potência. A maior, sob a liderança de Lenin e Stalin”.
De acordo com o veterano dirigente, o partido está firmemente empenhado em unificar todas as energias revolucionárias, pois “o país necessita desesperadamente de um amplio bloco de forças patrióticas de esquerda capazes de protegê-lo e evitar que se repitam os anos noventa”.
Para Zyuganov, frente às próximas eleições que ocorrerão para a Duma no próximo ano, “estamos propondo unir a todos em torno a um novo programa de industrialização, a um programa de desenvolvimento rural sustentável e um grande avanço na ciência. Educação para todos e trabalho para todos”.
“PAZ, PÃO, TERRA, TODO PODER AOS SOVIETES”
A primeira revolução socialista da história arrancou a Rússia das trevas do czarismo e da guerra – uma guerra entre bandidos imperialistas, como caracterizou Lenin -, para a paz, o coletivismo, a nacionalização da terra, o fim do latifúndio, a industrialização, a independência econômica, a era espacial. “Paz, pão, terra, todo poder aos Sovietes” é o brado que levou o povo russo ao poder e que continua reverberando mundo afora.
Graças à União Soviética, a feroz máquina de guerra nazista foi esmagada e a descolonização avançou, sem que as potências imperialistas remanescentes pudessem impedir. Direitos que a revolução instituiu, como creches, fim do analfabetismo, voto das mulheres, educação e saúde públicas, acabaram se estendendo ao mundo inteiro, num novo marco civilizatório.
Foi o Exército Vermelho quem deteve às portas de Moscou a ofensiva do exército hitlerista, o que acontecia pela primeira vez no curso da II Guerra Mundial, em que até então as blitzkriegs nazis sempre haviam prevalecido.
Na data da Revolução de Outubro, há três anos, na histórica comemoração do centenário da revolução russa, delegações de Partidos Comunistas de todo o mundo visitaram em São Peterburgo o encouraçado Aurora, ancorado no rio Neva – cujos disparos contra o Palácio de Inverno marcaram o fim do governo pró-guerra, pró-latifundiário e pró-burguês de Kerensky -, o Palácio Tauride tomado de assalto após a mudança de curso nas concepções revolucionárias contidas no texto que Lênin apresentou; suas “Teses de Abril”, definindo as tarefas urgentes para evitar a catástrofe que ameaçava a Rússia e para garantir a vitória dos operários e camponeses. Lembraram os acontecimentos do Instituto Solmny, aonde Lênin anunciou aos delegados do 2º Congresso dos Sovietes que o poder fora tomado, a que se seguiu a aprovação dos decretos sobre a paz e a terra e a instituição do primeiro governo de operários e camponeses da face da Terra.
Naquela oportunidade Ziuganov assinalou que a Revolução “trouxe a paz aos povos, o pão para os famintos e a terra para os camponeses”, assinalando que a revolução “não foi apenas um passo para a realização de transformações políticas e sociais para a Rússia, mas também para o mundo inteiro”. A Humanidade – enfatizou – “avançou com a Revolução de 1917” e os valores que infundiu, como trabalho, fraternidade, coletivismo e liberdade.
Foi sob a direção de Lênin e Stalin, acrescentou Ziuganov, que o país cresceu, tornou-se a potência soviética e “foram alcançadas grandes conquistas econômicas, sociais, culturais e científicas”. Do grande ensaio geral que foi o plano de eletrificação de toda a Rússia – pela primeira vez na história -, chegou-se ao planejamento econômico centralizado, de que a nacionalização dos bancos e o controle estatal do comércio exterior eram partes essenciais.
A TRAIÇÃO DE GORBASHEV E YELTSIN
Ziuganov destacou que a traição que Gorbashev e Yeltsin capitanearam e que culminou a capitulação desencadeada por Krushev, os levou à lata do lixo da história. Em compensação, o nome de Stalin, conforme pesquisa feita em julho pelo instituto russo Levada Center, – a exemplo de anos anteriores – é considerado “o maior personagem da história mundial”, ficando atrás dele Alexander Pushkin, o poeta nacional russo, o presidente Vladimir Putin, e Lênin. Nos tempos mais recentes, outros nomes de líderes da revolução têm sido cada vez mais considerados como exemplos a retomar, a exemplo de Felix Dzerzhinsky, que criou as bases para a defesa do Estado soviético.
Como apontou Ziuganov, o fim da União Soviética implicou em um “imenso retrocesso” econômico, político e social para os povos euroasiáticos e “uma tragédia para o mundo inteiro”. Ele também classificou a globalização de “expressão acabada do imperialismo”.
Ziuganov conclamou aqueles que dentro da Rússia ainda temem as bandeiras vermelhas a admitirem que “a época soviética foi o cume da civilização mundial”. Ele lembrou que, depois de ter atingido 20% da produção mundial, a Rússia passou a ter somente 3%, o que se reflete em fatos como o de que, agora, nos aeroportos russos “só há Boeings e Airbus”.
Apesar de tudo, a Rússia manteve estatal boa parte da indústria pesada e a realidade das sanções vem colocando na ordem do dia a recuperação da produção interna de bens de consumo e da agricultura. No mundo inteiro, se fala de um “renascimento russo”, depois daqueles dias tenebrosos de Yeltsin e Gaidar, da enxurrada de privatizações, máfia e conselheiros americanos.
Sob as pressões contra a soberania russa, o governo Putin tem se movido no sentido de política externa independente, o que decidiu a sorte da Síria favoravelmente, ao contrário do que vinha ocorrendo desde 1991. Ele ressaltou a reação ao golpe da CIA na Ucrânia, com a posição de apoio à Crimeia que, em referendo, se reunificou à Rússia.
Nesse sentido, a festa de Outubro não é – como registrou Ziuganov – “coisa do passado, mas do presente”. “Seguimos lutando pelo socialismo e a paz entre os povos, pela causa de Lênin e de Outubro de 1917”. No encontro de 2017, 130 partidos do mundo inteiro emitiram uma declaração que conclamou à construção de uma ampla frente anti-imperialista, na luta pela paz, contra as agressões do imperialismo, as armas nucleares, as bases militares, a Otan e o belicismo.
Viva o Partido Comunista da Russia, e vivam os ideais socialistas de Lenine e Stalin.
Russia de 1917 bom exemplo para o mundo.