Em plena semana do Natal e sob uma intensa onda de calor, moradores de diversas regiões do estado de São Paulo enfrentam falta de água, baixa pressão nas torneiras e interrupções prolongadas no abastecimento. O problema atinge bairros da capital, cidades da Grande São Paulo e municípios do interior justamente em um período de temperaturas elevadas e aumento da demanda por um serviço essencial.
Famílias relataram que o desabastecimento não foi pontual. Em diferentes localidades, a falta de água já se estendia por mais de uma semana, afetando rotinas básicas como higiene pessoal, preparo de alimentos e organização das festas de fim de ano. Diante do cenário, o governo estadual ao invés de cobrar a Sabesp, pediu à população “redução imediata do consumo de água”.
Segundo a Sabesp, sem qualquer tipo de comprovação, as altas temperaturas registradas em várias regiões do estado provocaram um aumento expressivo na demanda, que pode chegar a até 60% acima da média em alguns locais, e segundo a companhia, privatizada há menos de 2 anos, esse é o motivo do desabastecimento. Ela alega que o aumento da demanda está pressionando os sistemas de abastecimento, especialmente nos horários de pico. A companhia afirmou ainda que orientou a priorização de atividades essenciais, como alimentação e higiene pessoal.
Em nota, declarou: “A companhia segue monitorando continuamente os sistemas de abastecimento e realizando manobras operacionais para preservar o equilíbrio da distribuição, o que tem contribuído para a recuperação gradual e controlada dos ser.”
Na zona sul da capital paulista, moradores relataram torneiras secas em meio a temperaturas que ultrapassaram os 35 °C. O impacto foi sentido de forma direta por famílias que dependem do fornecimento regular de água para cuidados básicos. A situação ocorre em um contexto em que a empresa vem adotando o chamado gerenciamento de pressão, com redução do fornecimento principalmente no período noturno, entre 19h e 5h, em áreas da Região Metropolitana de São Paulo.
Na Grande São Paulo, bairros como Quitaúna, em Osasco, enfrentaram cenário semelhante, com relatos de improvisos para garantir a higiene pessoal. Já na região do Alto Tietê, moradores de bairros como Jardim Colorado, Jardim Belém e Jardim Maitê, além do Distrito de Palmeiras, em Suzano, ficaram sem água por pelo menos 24 horas. O desabastecimento também foi registrado em municípios vizinhos, ampliando a preocupação em uma área atendida por um sistema responsável por cerca de 4 milhões de pessoas. Desde o início de dezembro, a companhia passou a captar água na Serra do Mar como tentativa de conter a queda no nível dos reservatórios, com capacidade de transportar até 2.500 litros por segundo para o Sistema Alto Tietê.
No interior do estado, o problema se repetiu em cidades como Boituva, Iperó, Piedade, Salto de Pirapora e Araçoiaba da Serra. Moradores dessas localidades relataram interrupções no fornecimento desde o último sábado (20), com agravamento ao longo da semana do Natal. Em alguns pontos, a população afirma que a instabilidade no abastecimento ocorre há meses, alternando períodos de normalidade com quedas bruscas de pressão e cortes frequentes.
No distrito de George Oetterer, em Iperó, moradores disseram que o fornecimento foi interrompido desde a tarde de sábado. Um vídeo gravado no local mostrou uma caixa d’água vazando nas proximidades de um posto de saúde, evidenciando falhas na operação do sistema. Em Araçoiaba da Serra, moradores do Centro relataram estar sem água há pelo menos uma semana e passaram a discutir a realização de protestos diante da recorrência do problema.
Em resposta, a companhia informou que, em Boituva, o abastecimento estaria regular, com reservatórios em níveis adequados e sem registros de falta ou baixa pressão no fim de semana. Em Iperó, a empresa atribuiu o desabastecimento a uma interrupção no fornecimento de energia elétrica, que afetou a Estação Elevatória de Água Tratada, provocando falhas no sistema de automação e vazamento em reservatório. A previsão apresentada foi de normalização total até a madrugada de terça-feira (23).
Em Salto de Pirapora, a justificativa foi uma falha em equipamento de bombeamento no bairro Nova Metropolitana, com promessa de regularização até o fim da terça-feira. Já em Piedade, a empresa informou que o fornecimento foi impactado por serviços de manutenção corretiva na rede de distribuição, com previsão de normalização na madrugada de quarta-feira (24). Até a publicação desta matéria, a Terracom Saneamento não havia se manifestado sobre a situação em Araçoiaba da Serra.
Em Botucatu, a véspera de Natal também foi marcada por novos episódios de desabastecimento. Moradores de bairros como Rubião Júnior, Jardim Paraíso, Altos do Paraíso e regiões da zona norte relataram falta de água e pressão irregular desde as primeiras horas da manhã. As queixas se somaram a interrupções ocorridas no início de dezembro, quando falhas no sistema de energia afetaram a captação e a Estação de Tratamento de Água (ETA), deixando bairros inteiros sem fornecimento por dias.
A indignação apareceu nas redes sociais e em relatos diretos da população. “Sou moradora aqui de Rubião Júnior, Jardim Nossa Senhora das Graças. Mais alguém está sem água hoje pela manhã? Já tentei contato com a Sabesp e eles me deram prazo de restabelecimento para 14/06/2028”, relatou uma munícipe. Em outro bairro, uma moradora criticou a repetição das falhas: “Mais uma vez faltando água no Jardim Paraíso 2. Desrespeito com os habitantes de Botucatu. Isso está acontecendo quase toda semana. Ninguém merece”.
As sucessivas interrupções, as explicações técnicas recorrentes e a ampliação do número de regiões afetadas reforçam a percepção de fragilidade na prestação de um serviço essencial, especialmente em períodos críticos como ondas de calor e datas festivas. Enquanto a companhia anuncia prazos e medidas emergenciais, moradores seguem lidando com os impactos diretos da falta d’água no cotidiano — um problema que, para muitos, deixou de ser exceção e passou a integrar a rotina.











