Congresso Nacional aprovou – em 30 de março – uma renda emergencial de R$ 600 para que a população possa fazer a quarentena recomendada pelas autoridades sanitárias. Governo liberou menos de 30% até agora
Quando todos os esforços no Brasil e no mundo se concentram em proteger a população, através do isolamento social, conforme orientação da Organização Mundial da Saúde, Bolsonaro estimula aglomerações e manifestações pela volta ao trabalho. Seu pretexto para propor o fim da quarentena seria uma suposta necessidade de que a população mais vulnerável teria que trabalhar para obter sua renda.
Mas isso não procede porque no mundo inteiro os governos estão ajudando com recursos financeiros para que as pessoas possam fazer a quarentena. Mais da 60% do planeta está em quarentena contra o coronavírus. No Brasil, o Congresso Nacional aprovou uma renda emergencial de R$ 600 para que a população possa fazer a quarentena recomendada pelas autoridades sanitárias.
O governo, que só queria oferecer R$ 200, fez previsão inicial de que 54 milhões de pessoas teriam direito ao benefício, mas esse número chega a 96 milhões. Até a sexta-feira (17), segundo dados da Caixa Econômica Federal, apenas 16 milhões tinham conseguido receber a ajuda financeira para sobreviver na crise.
Até 20 de abril, 42,2 milhões de trabalhadores informais e autônomos haviam se cadastrado pelo aplicativo da instituição para receber a ajuda emergencial. Somados a estes estão os inscritos no cadastro único do governo, que tem 28,8 milhões de famílias cadastradas, aí incluídas as 14 milhões de famílias com direito ao Bolsa Família. O governo calculou que, das 28,8 milhões de famílias, 54 milhões de pessoas teriam direito a receber o auxílio por três meses. Por isso reservou R$ 92 bilhões.
GOVERNO SENTA EM CIMA DO DINHEIRO
Esse ritmo criminoso e desumano está assim porque o governo senta em cima do dinheiro, faz exigências absurdas e solta a ajuda emergencial a conta-gotas. Mesmo os integrantes do cadastro único, que já estão com seus dados compilados no governo, não foram totalmente socorridos. Não há nenhum motivo que impeça a liberação imediata dos recursos para eles a não ser a má vontade do governo.
Especificamente entre os trabalhadores informais e autônomos a situação é ainda mais dramática. Dos 45 milhões de inscritos para receber uma renda de emergência para sobreviver, apenas 9,1 milhões receberam. Os outros que receberam foram 9,2 milhões do cadastro único e 5,8 milhões do Bolsa Família.
O governo atrasa para pressionar as pessoas a abandonarem as medidas de proteção à vida. O Planalto chantageia não só a população, como também os estados e municípios, retardando de todas as maneiras a liberação de recursos necessários para enfrentar a crise. Já está havendo queda de arrecadação de ICMS e ISS provocada pela epidemia. Bolsonaro faz uma queda de braço no Senado para barrar a proposta de ajuda aos estados e municípios aprovada pela Câmara Federal.
Ao contrário do que foi feito para os bancos, que receberam uma “injeção de liquidez” de R$ 1,2 trilhão já em março, os recursos emergenciais para o povo são liberados a conta-gotas. A ideia de Bolsonaro e Guedes é pressionar para que as pessoas se desesperem e saiam atrás de trabalho e de comida, se expondo ao vírus.
Outra forma acintosa de empurrar a população para se expor à morte é obrigar o povo a adormecer em filas nas agências da CEF e dos órgãos de assistência social para regularizar documentos, como o CPF, exigidos burocraticamente para o recebimento dos benefícios.
O anúncio da ajuda mensal do Congresso foi feito no dia 18 de março. O início do pagamento do auxílio emergencial só se deu no dia 9 de abril. Vinte e dois dias depois. Até hoje, 21 de abril, apenas 16% dos que têm direito receberam o dinheiro. Já os bancos, no dia 23 de março, cinco dias depois do anúncio, já estavam com os R$ 1,2 trilhão injetados em sua liquidez.
Enquanto isso, o vírus avançava. No dia 20 de abril, segundo o Ministério da Saúde, 2.575 mortes foram registradas no país e 40 mil casos confirmados .
POLÍTICA DE BOLSONARO ELEVA NÚMERO DE MORTES
Bolsonaro defende que a população se infecte rapidamente porque, segundo o presidente, “isso é inevitável”. “70% vão pegar (o vírus), não tem como. Se não for hoje vai ser amanhã, vai ser daqui a um mês. Nós temos é que trabalhar e proteger os mais idosos”, disse ele recentemente.
É evidente que um vírus para o qual não há vacina nem remédio com eficácia confirmada, a tendência é de que um grande número de pessoas vá se infectar em algum momento. Bolsonaro quer que seja o mais rápido possível. Não importa que isso vá redundar em milhares de mortes.
Se a opinião de Bolsonaro, que está quase sozinho no mundo, predominasse, o sistema de saúde entraria rapidamente em colapso e número de mortos se elevaria rapidamente. Mesmo com um distanciamento parcial, o sistema de saúde brasileiro já se aproxima do caos.
A ciência e o mundo inteiro chegaram a um consenso de que o isolamento é a única forma de distribuir os atingidos pelo vírus num tempo mais longo para que não haja colapso no atendimento hospitalar. Diante disso, a recomendação das autoridades médicas e sanitárias, além da Organização Mundial da Saúde, é dificultar a circulação do vírus através do distanciamento social para reduzir o ritmo do contágio.
Com esta medida – que deu certo na China e na Coreia do Sul – o número de pessoas internadas pode ser reduzido e o atendimento pode ser feito com mais eficácia, redundando num número menor de mortes.
Os países que demoraram a adotar essas medidas como foram os casos da Itália, Inglaterra, Espanha, França e EUA, a situação acabou conduzindo à perda do controle da pandemia. O mundo assistiu ao drama desses países que, diante das milhares de mortes diárias, tiveram que retornar à quarentena rapidamente. Milhares de mortes a cada 24 horas e hospitais lotados foram as cenas vistas nas últimas semanas nesses países.
ONDE DEU CERTO HOUVE QUARENTENA E TESTAGEM EM MASSA
Nos países onde as medidas deram certo, houve uma política rígida de quarentena e, ao mesmo tempo, houve também capacidade, por parte das autoridades, de se fazer um número gigantesco de diagnósticos. A população foi testada em massa e o retorno pode ser feito de forma mais consciente. Esta medida não foi implementada no Brasil porque o país não dispunha de insumos para realizar os testes em massa. Bolsonaro defende a volta imediata ao trabalho e nem toca neste assunto. No entanto, esta é uma medida essencial para as tomadas de decisão sobre como e quando reabrir a economia.
A Inglaterra foi o único país do mundo que inicialmente adotou de forma oficial a ideia, defendida agora por Bolsonaro, de deixar a população se infectar mais rapidamante para que o contágio chegasse a 70% da população. O governo inglês dizia que assim seria resolvido o problema. Esse método, chamado de “imunização de rebanho”, foi imediatamente abandonado pelo primeiro-ministro britânico Boris Johnson, assim que ele tomou conhecimento, através de estudo do Imperial College de Londres, de que morreriam 250 mil pessoas na Inglaterra. O próprio chefe do governo inglês foi parar na UTI por infecção pela Covid-19.
O mundo inteiro adotou o distanciamento social como única forma de evitar que essa expansão social se dê de forma acelerada e provoque um colapso no sistema de atendimento hospitalar. Todos condenam as atitudes de Jair Bolsonaro de desrespeitar a quarentena e defender que o país inteiro faça o mesmo. Os principais órgãos de imprensa do mundo estão criticando intensamente as posições de Bolsonaro sobre a pandemia. Alguns chegaram a a chamá-lo de “bolsonero”, numa alusão ao imperador que incendiou Roma.
Países que afrouxaram as medidas de isolamento social e de quarentena antes da hora vivenciaram este colapso nos hospitais e viram as mortes crescerem aceleradamente. Muitos tiveram que retornar a uma quarentena ainda mais rigorosa, mas já era tarde demais. O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, por exemplo, que liderou uma campanha batizada de “Itália não pode parar”, foi obrigado a pedir perdão publicamente por ter defendido a volta ao trabalho antes da hora. Enquanto ele falava, milhares de italianos perdiam vida sem poderem ser atendidos nas UTIs lotadas.