Mamede Said Maia (*)
O escolhido para ser o próximo ministro da Educação obedece ao padrão Bolsonaro: defende a ditadura militar e o “Escola sem Partido”, possui um forte viés ideológico de direita, tem a simpatia da bancada evangélica, dá aulas na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Só não tem o respeito e a confiança do meio científico-acadêmico, mas isso, para o futuro presidente, é algo que não merece ser levado em conta.
Tão malvista quanto a indicação de Ricardo Vélez Rodríguez para o Ministério da Educação é a política defendida pelo superministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes. Fiel representante do capital financeiro, Guedes anunciou um programa de desestatizações que inclui a venda do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e de setores-chave da Petrobras. Basta um breve passar de olhos nos nomes que irão compor a equipe de Guedes – todos ligados ao mundo das finanças – para verificar a quem o destino do Brasil estará entregue nos próximos quatro anos:
– Pedro Guimarães, indicado para a Caixa Econômica Federal, é banqueiro de investimento e tem doutorado sobre privatizações;
– Rubem de Freitas Novaes, indicado para o Banco do Brasil, é um Chicago-boy (como Guedes), articulista militante da privatização;
– Roberto Castello Branco, escolhido para presidir a Petrobras, é ex-diretor de relações com investidores da Vale e notabilizou-se por defender, em inúmeros artigos publicados nos últimos anos, a privatização da petroleira;
– Joaquim Levy, escolhido para comandar o BNDES, é ex-diretor do Bradesco e, na condição de Ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, notabilizou-se por uma perversa política de ajuste fiscal e enxugamento da máquina estatal.
Nenhum deles defende a indústria ou o potencial agrícola brasileiro. Nenhum deles defende uma política econômica desenvolvimentista. Mais parece que pretendem colocar o Brasil à venda, responsáveis que são por um programa de desmonte do Estado que atende a propósitos outros que nada têm a ver com os interesses nacionais.
Há alguns dias, Jair Bolsonaro anunciou a escolha da deputada Tereza Cristina (DEM), que é presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, para o Ministério da Agricultura. Hoje, anunciou o nome do presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Nabhan Garcia, para dirigir a Secretaria Especial de Assuntos Fundiários que pretende criar.
Tereza Cristina é conhecida como “Musa do Veneno” por sua defesa em prol da aprovação do projeto de lei que facilita a liberação dos agrotóxicos – projeto esse que estava há 16 anos parado na Câmara dos Deputados em virtude da oposição de ambientalistas e especialistas em saúde aos seus efeitos nocivos. Já Nabhan Garcia preside a entidade que representa o patronato rural contra a reforma agrária.
Agregando associações de produtores, sindicatos rurais e fazendeiros, a UDR atua para impedir a desapropriação de terras, tendo como método de ação o enfrentamento direto com os trabalhadores rurais nas regiões de conflito. Além de defender ferozmente o monopólio fundiário, advoga, desde sua criação, em 1985, o uso da violência como principal instrumento de pressão contra as lutas pela terra.
Chega a ser patético que o dirigente do órgão responsável pela resolução de conflitos oriundos de questões fundiárias e agrárias seja ninguém menos que o presidente da UDR. Chega a ser patético que a ministra responsável pelo importante setor da agricultura seja a líder da bancada ruralista na Câmara dos Deputados.
Assim segue o jogo da velha política, colocando em setores-chave da máquina estatal os mais fieis representantes das elites do atraso que pensam, em primeiro lugar, em seus próprios interesses
(*) Diretor da Faculdade de direito da UNB