A saída da empresa americana Ford do Brasil deve gerar o encerramento de mais de 118.864 mil postos de trabalho no país, além dos cinco mil anunciados pela montadora há um mês atrás, segundo estimativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese). Em janeiro, a Ford fechou suas fábricas em Camaçari (BA) e em Taubaté (SP). Já a produção na unidade em Horizonte (CE) será encerrada no final de 2020. A empresa irá concentrar sua produção de veículos na Argentina e Uruguai.
“As 5 mil demissões anunciadas pela Ford significam uma perda potencial de mais de 118.864 mil postos de trabalho, somando diretos, indiretos e induzidos”, informou o Dieese, em nota à imprensa.
De acordo com José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese, “quando você fecha uma planta industrial, gera um efeito irradiador na cadeia em geral”. “Todo país desenvolvido tem uma indústria forte. O Brasil já teve o parque industrial mais diversificado da América Latina”, ressaltou.
O Dieese destacou que a decisão da Ford “chega em um contexto de crise política e econômica, que se instalou no Brasil desde 2014 e atingiu de forma dramática o mercado de trabalho, com a duplicação da taxa de desemprego entre o final daquele ano e o início de 2017”.
“Desde então, os níveis de desemprego mantiveram-se em patamares bastante elevados e se agravaram em função da crise sanitária. Ao longo do ano de 2020, a taxa de desemprego saltou de 11% para 14,3% (outubro/2020). São 14 milhões de desempregados que se somam a 34,4 milhões de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada e na informalidade”, enfatizou o Dieese.
A entidade de assessoria ao movimento sindical estima uma perda de massa salarial da ordem de R$ 2,5 bilhões ao ano para o Brasil. O Dieese também indicou que haverá uma queda na arrecadação de tributos e contribuições de R$ 3 bilhões ao ano.
Na nota, o Dieese alerta para o processo de desindustrialização do país. “O Brasil ocupava a 9ª posição no valor adicionado da indústria de transformação (VAT) mundial e, em 2019, caiu para a 16ª posição”, apontou a entidade, citando dados da United Nations Industrial Development Organization (Unido). Além disso, o Dieese destacou que “o fechamento de empresas no Brasil já vem ocorrendo, a exemplo da Sony; da planta da Mercedes Benz em Iracemápolis/SP, com anúncio de encerramento das atividades em 2020, assim como a abertura de plano de demissão voluntária da Volkswagen na planta de Taubaté, divulgado nesta semana”.
“A lógica de redução de custos do trabalho, além de não gerar mais emprego, não garante mais investimentos e manutenção dessas empresas no país”, afirmou o Dieese.
Para a entidade, apesar das questões que envolvem a decisão da Ford não serem exclusivamente relacionadas à crise econômica atual no Brasil, o Palácio do Planalto “poderia atuar de modo mais contundente para preservar o setor industrial e os empregos”.
“O compromisso do governo central, em momentos de crise, deve ser proteger cidadãos, empresas e sua economia”. “Não é o que se vê desde a chegada da pandemia, quando se aprofundou a crise econômica. O que se observa é o fechamento de empresas, aumento do desemprego, queda da renda das pessoas, aumento da pobreza e da pobreza extrema, desigualdades, fome, miséria e queda da arrecadação pública”, denunciou.
Na avaliação do Dieese, “o governo central possui mecanismos de política econômica e social para atenuar crises, amparando a população que perde o emprego, seja através do gasto direto de recursos com as pessoas (auxílio emergencial), seja dando suporte às empresas através de empréstimos a juros baixos e prazos mais longos”.