A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo divulgou uma nota de repúdio contra o episódio em que durante um festival de cultura geek realizado na Praça da Liberdade em São Paulo, neste domingo (17), a escultura de Deolinda Madre, conhecida como Madrinha Eunice, liderança negra e carnavalesca, foi encoberta pelo palco. A ação gerou protestos de sambistas, integrantes do Movimento Negro, parlamentares e familiares de Madrinha Eunice.
“A decisão de ocultar essa estátua é inaceitável e desrespeitosa para com nossa história e nossa comunidade. Ela mina os esforços de preservação e promoção do samba, que é parte intrínseca de nossa identidade cultural”, diz o texto.
Madrinha Eunice fundou uma das primeiras escolas de samba da capital, a Lavapés, na década de 30, com familiares e amigos, depois de se apaixonar pelo carnaval após assistir a um desfile das escolas de samba do carnaval carioca. A Lavapés foi a maior campeã do Carnaval paulistano nos anos 1940 e 1950.
Criada pela artista Lídia Lisboa, a estátua em bronze de 1,7 metro de altura por 60 centímetros, foi instalada no bairro da Liberdade, em abril de 2022, pela gestão municipal em homenagem a personalidades negras da cultura paulistana. Foi nesse bairro, que a carnavalesca, oriunda de Piracicaba, interior de São Paulo, viveu e fundou a escola, que hoje se chama Lavapés Pirata Negro.
A deputada estadual Leci Brandão (PCdoB) criticou a atitude, que vê como racista. “O racismo se expressa de muitas maneiras e o desprezo pela memória do nosso povo é uma delas. Nós exigimos uma retratação da organização do evento, que é o mínimo já que o mal já foi feito, e uma atitude digna da @prefsp em relação aos espaços e símbolos que resgatam a história da população negra na cidade”, disse Leci em publicação no Instragram.
Para a Liga das Escolas de Samba, “a decisão de ocultar essa estátua é inaceitável e desrespeitosa para com nossa história e nossa comunidade. Ela mina os esforços de preservação e promoção do samba, que é parte intrínseca de nossa identidade cultural”.
DESCASO
“Antes de preparar um evento você tem que fazer uma vistoria no local. Como é que não viram a estátua da madrinha Eunice, ali na praça […] ? Como é que a subprefeitura, a Secretaria da Cultura – e a própria Associação Nipo-Brasil, não viram, nessa vistoria, que tinha uma estátua lá e que tinha que preservar aquilo (estátua)? ”, questiona Rose Marcondes, a Rose da Lavapés, neta da homenageada e presidente de honra da Escola de Samba.
“Foi um descaso muito grande. A gente pode até entender como racismo. Eu estou indignada com tudo isso que está acontecendo, porém vamos continuar de pé, lutando, para que respeitem o nosso espaço, para que respeitem a nossa ancestralidade, para que respeitem a nossa cultura”, assegurou.
“Madrinha Eunice é um dos ícones do samba paulistano, uma das matriarcas do samba paulistano, uma mulher que sempre teve respeito por tudo e por todos e me ensinou isso também”, finalizou Rose.
“Quando nós visitamos a estátua de Madrinha Eunice, pouco depois de sua inauguração no ano passado, já era visível a falta de cuidado na própria instalação da obra. Não havia sequer uma placa informativa, proteção ao redor, iluminação, nada que demonstrasse o quanto Madrinha Eunice é importante”, criticou Leci.
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Em nota, a União das Escolas de Samba Paulistanas (Uesp) informou criticou o desrespeito. “Vi com tristeza e indignação que ela foi completamente ignorada, segregada e apagada”.
“A estátua de Madrinha Eunice não está no Bairro Liberdade à toa: a matriarca saiu de Piracicaba aos 12 anos para viver em São Paulo, no Bairro Liberdade. Ali, fundou a Lavapés (hoje Lavapés Pirata Negro), entidade com mais de 80 anos de existência. Esta escultura faz parte do projeto do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico), pela grandeza e altivez de Madrinha Eunice”, afirma o comunicado.
“Não podemos aceitar que a escultura de Madrinha Eunice seja desprezada, ocultada e escondida”, ressalta a Uesp.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Cultura disse que “tomou conhecimento sobre a situação e o caso está sendo investigado para que os envolvidos sejam notificados, multados ou aplicadas as sanções que lhe forem cabíveis”.