Para o economista da UnB, decisão do Copom de manter Selic em 10,5% é “injustificável”. Com juro real entre 6% e 7% não há investimento, “não tem como pagar”
O economista José Luís Oreiro avalia como “injustificável” a decisão do Banco Central (BC) de paralisar os cortes na taxa básica de juros da economia (Selic), hoje em 10,5% ao ano.
“Eu não vejo nenhuma justificativa razoável para se manter uma taxa de juro desse tamanho, de 6 a 7% ao ano. Se a ideia de que é o risco fiscal que obriga o Banco Central a praticar esses juros altos, eu acho que a relação de causalidade é inversa. Na verdade, são juros altos que geram um profundo desequilíbrio fiscal”, denunciou o professor da Universidade de Brasília (UnB), em entrevista ao HP, nesta quinta-feira (20).
“Foi uma decisão equivocada”, afirmou. “A taxa de juro real esperada está muito alta, porque a expectativa de inflação para 2024 é de 4% e, para 2025, está abaixo de 4%. Isso significa que você está com uma taxa real de juros entre 6% e 7% real. Quer dizer, isso é injustificável”, criticou.
Oreiro observou que a inflação está em queda.
A inflação vem numa trajetória consistente de queda desde 2022, ressaltou o economista. “A inflação esperada está dentro do intervalo da meta inflacionária. A meta é 3%, mas com 1,5 ponto de banda para cima ou para baixo. Então, se a inflação ficar abaixo de 4,5%, o Banco Central está cumprindo a meta. Assim, não há risco de descumprimento da meta de inflação”, constatou e seguiu.
“Por outro lado, a situação das contas externas está muito favorável. Você não precisa manter a taxa de juros alta para atrair capital por causa de questões da balança de pagamentos”, observou.
O economista lembra que enfraquecer os investimentos significa “menos criação de empregos de qualidade”.
“O efeito dos juros altos é, claro, sobre investimento. A gente vem de uma trajetória de muitos anos de taxa de investimento baixa. A indústria brasileira está sucateada tecnologicamente por falta de investimento. O parque de máquinas e equipamentos é muito velho e precisa ser renovado. Com uma taxa de juros real entre 6% e 7%, simplesmente esses investimentos em modernização da capacidade produtiva são inviáveis. Não tem como você pagar”, afirmou Oreiro.
“Isso vai ter efeito sim sobre o crescimento, um crescimento mais baixo do que poderia ocorrer, se nós tivéssemos uma taxa de juros mais baixa”, comentou Oreiro, ressaltando que “menos investimento, menos crescimento significa menos criação de empregos de boa qualidade, ou seja, empregos com carteira assinada. Isso é ruim do ponto de vista da equidade da distribuição de renda, do ponto de vista da pobreza… Enfim, tudo ruim”.
ANTONIO ROSA