Ao todo, foram 17 transações identificadas oficialmente entre o sargento e o “faz-tudo” de Bolsonaro. Os dois militares movimentaram, juntos, cerca de R$ 7 milhões, segundo o Coaf. Valores são incompatíveis com seus rendimentos
O sargento do Exército Luis Marcos dos Reis, que atuava na equipe dos ajudantes de ordem de Jair Bolsonaro (PL), movimentou em suas contas R$ 3,34 milhões entre 1º fevereiro do ano passado e 8 de maio deste ano, revelou o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Com salário de R$ 13,3 mil, o sargento recebeu dezenas de depósitos e repassou os recursos para o tenente-coronel Mauro Cid, seu chefe e principal auxiliar de Bolsonaro.
Ao todo, foram 17 transações identificadas oficialmente entre os dois titulares de contas. Os dois militares movimentaram juntos cerca de R$ 7 milhões. O Coaf enviou esses dados para à CPMI do 8 de Janeiro após requerimento do senador Jorge Kajuru (PSB-GO). Segundo o Coaf, os repasses de recursos de Reis para Cid, incompatíveis com a renda do militar, foram considerados como indícios de possível lavagem de dinheiro. Reis foi preso pela Polícia Federal em maio na operação sobre fraude em cartões de vacinação, incluindo o de Bolsonaro.
Dados do Coaf em relação à movimentação do tenente-coronel Mauro Cid já haviam indicado que o sargento Reis tinha repassado no intervalo de três meses R$ 82 mil ao seu superior. “Considerando a movimentação atípica, sem clara justificativa, e as citações desabonadoras em mídia, tanto do analisado quanto do principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir-se em indícios do crime de lavagem de dinheiro”, diz o relatório do Coaf.
Cid foi detido junto com o sargento em operação da PF. O Coaf já tinha revelado que Mauro Cid movimentou, entre 26 de julho do ano passado e 6 de maio deste ano, R$ 3,75 milhões. Antes de ser preso, o sargento Reis chegou a participar dos atos em Brasília que depredaram as sedes do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) em 8 de janeiro.
Apuração da PF indica que Cid e pessoas próximas montaram esquema para vender no exterior joias e relógios que Bolsonaro recebera como presidente e que deveriam ter sido destinados ao acervo da União. A PF descobriu que os presentes foram colocados em leilão nos Estados Unidos. Conversas trocadas por meio de WhatsApp revelaram ainda que Cid e seu pai, o general Mauro Lourena Cid, atuaram para trazer do exterior dinheiro a ser entregue pessoalmente a Bolsonaro.
O sargento Reis foi também um dos alvos da PF na Operação Venire, por participar de um esquema que emitiu comprovantes falsos de vacinação contra a Covid-19. Ele acionou seu sobrinho, o médico Farley Vinicius Alcântara, para preencher e carimbar um dos cartões falsos emitidos em nome da mulher de Cid. Bolsonaro e sua filha também tiveram os cartões de vacinação falsificados na mesma unidade onde trabalhava Farley Vinícius.
Na ação da PF, a partir da investigação de fraude nos cartões de vacinação, também foram detidos outros assessores do ex-presidente: Max Guilherme e Sergio Cordeiro. Além deles, foram presos o secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos Brecha, e o advogado Ailton Gonçalves Moraes Barros – que foi candidato a deputado estadual no Rio pelo PL em 2022.