
Professor de Direito Internacional da Universidade de São Paulo, Paulo Borba Casella, destaca a relevância da obra e da ação anticolonialista e anti-imperialista do historiador judeu na luta contra os crimes praticados por Israel
Coordenando o ato “contra a limpeza étnica e o genocídio praticado por Israel na Palestina”, realizado na quarta-feira (5), no Largo do São Francisco, o professor Paulo Borba Casella, de Direito Internacional Público da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), denunciou “os crimes de guerra e contra a humanidade” executados pelo governo sionista. “Felizmente muitas vozes judaicas têm se manifestado contra os crimes israelenses”, afirmou Casella, saudando a notável contribuição do intelectual e escritor judeu Ilan Pappe para a causa da humanidade. Conforme o professor, a reflexão se faz ainda mais necessária quando o agressor busca a vitimização, tentando calar qualquer manifestação contrária ao seu “extemporâneo e violento processo de colonialismo imperialista”, por meio do “insidioso discurso de imputação da pecha de antissemitismo”.
Diante da sua relevância, o HP reproduz abaixo o pronunciamento de Casella na íntegra.
Saudação a Ilan Pappe
PAULO BORBA CASELLA *
Genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade, limpeza étnica, tratamento desumano e degradante, que configura tortura, o criminoso e generalizado uso da fome como arma de guerra – arsenal completo de processo colonialista e imperialista, voltado contra a população civil, mais de dois milhões de indivíduos, inclusive mulheres e crianças, mantidos em condições miseráveis, obrigados a se deslocarem de um lado para outro, com bombardeios e tiroteios, alvejando reiteradamente quem está na fila para receber alimento – em Gaza.
Enquanto isso, de maneira violenta e “miliciana” prossegue o avanço da ocupação, abusiva e ilegal, da Cisjordânia – como declarou a Corte Internacional de Justiça, no Parecer de julho de 2024, e em setembro do mesmo ano acatou a Assembleia Geral da ONU, por mais de 140 votos, assinalando prazo de um ano para se pôr termo a essa violação de direitos do povo palestino. De nada adianta o direito, diante do uso da força, sem qualquer limite. O direito tem sido sistematicamente ignorado pelos colonos e pelo governo de extrema direita de Israel.
Além disso, tem se multiplicado incidentes, agressões e violência contra religiosas e sacerdotes cristãos, contra igrejas e mosteiros, há séculos em Jerusalém, em atentados perpetrados por fanáticos que os querem expulsar da terra que é santa para as três religiões monoteístas.
Esses atos – em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém – impulsionados e tolerados pelo governo de extrema direita de Israel, tem se repetido com assustadora violência e frequência, como parte de campanha para expulsar todos os não-judeus da Terra Santa.
“VIOLENTO PROCESSO DE COLONIALISMO IMPERIALISTA”
E quando se apontam os crimes, o cometimento de abusos e violações do Direito internacional, a negação da humanidade do outro, os atentados contra o direito à vida de todo habitante não-judeu daquele território, vem o insidioso discurso de imputação da pecha de antissemitismo, vem a tentativa de vitimização, por parte do agressor, tentando calar qualquer manifestação contrária a esse extemporâneo e violento processo de colonialismo imperialista.
Está em curso a destruição, intencional e sistemática do povo que se encontra no caminho dessa máquina mortífera, o exército mais bem equipado, com armamentos de última geração, ricamente financiado e amparado política, econômica e militarmente pelos Estados Unidos e, em segundo lugar, pela Alemanha.
Necessário fazer clara linha divisória entre as justas e pertinentes críticas aos crimes e abusos cometidos, em curso e anunciados, contra toda a população civil palestina, o que não é nem pode ser apodado de “antissemitismo” – que tem como alvo todo o povo, e claramente não é verdade.
Felizmente muitas vozes judaicas têm se manifestado contra esses crimes israelenses, como rabinos e judeus ortodoxos. Intelectuais judeus como Illan Pappe, Neve Gordon, Michael Lynk, Willian Schabas, se levantando contra os abusos cometidos contra o governo de extrema direita de Israel.
Neste sentido, o Fórum Permanente sobre Genocídio e Crimes contra a Humanidade da USP tem se manifestado, desde 2020, em palestras e debates, continuamos a fazer, como hoje com a presença de Ilan Pappe, dos demais integrantes desta mesa, e de cada um dos presentes, hoje, aqui nas Arcadas. E esse trabalho tem de continuar.