Durante cerimônia de abertura da 71ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), o presidente da entidade, Ildeu Moreira, afirmou que não se pode abrir mão de mostrar que os cortes na educação e no desenvolvimento científico são “o caminho errado para o país”.
Para Ildeu, a SBPC “mantém uma tradição crítica desde que foi criada, em relação a políticas públicas, a governos. E é nosso papel fazer isso”.
“A SBPC é uma entidade civil que tem o papel de, a partir do conhecimento científico espalhado em muitas instituições e entidades científicas, apresentar comentários, críticas e sugestões construtivas de modificação do quadro em que a gente vive”, disse.
Durante seu discurso, Ildeu comentou que as pesquisas realizadas junto com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Comunicação (MCTIC) mostram que cerca de 70% da população “afirma que é importante aumentar os recursos para ciência e tecnologia, mesmo sabendo que isso significa reduzir em outras áreas”.
“A questão econômica não se resolve se cortamos recursos da ciência e tecnologia. O que a gente vê são cortes acentuados no orçamento e contingenciamentos de 40%”.
“Esse é o ponto central da nossa discussão da SBPC nessa semana e que desde 2014, quando começaram os cortes de recursos para Ciência e Tecnologia, estamos, junto ao governo, ao parlamento, à sociedade, dizendo que esse é o caminho errado para o país. Este é um ponto do qual não abrimos mão”, concluiu.
A presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Flávia Calé, disse “as universidades viraram alvo do governo”, que as ataca “através dos cortes orçamentários”. “Os cortes de bolsas da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], são um crime contra a ciência”. Os dois órgãos financiam pesquisas em todo o país.
Para Flávia, o alvo foi escolhido “porque a universidade, por excelência, é o lugar da crítica, porque é o lugar da ciência, da experimentação com finalidade, mas também do saber desinteressado, voltado a elevação cultural de uma sociedade. Por ser crítica, é lugar de resistência”.
Bolsonaro “indicou para ministro [da Educação] alguém [Abraham Weintraub] que entende de mercado financeiro, mas desconhece a importância da educação para a coesão social e para um projeto de nação”, disse.
INVESTIMENTO
Ressaltando que “ciência não é gasto, é investimento”, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, cobrou uma agenda nacional de desenvolvimento. “Uma política econômica não pode se resumir a uma tabela de receitas e despesas, mas tem que considerar o papel do investimento para tirar o país da recessão”, disse Davidovich, mencionando estudos que comprovam que cada dólar investido em ciência retorna, em média, oito dólares para a economia.