“Se você tem alguém que estabelece uma meta e não vai cumprir é como você estabelecer uma meta para sua vida e não cumprir, então você está mentindo para si mesmo”, ponderou o presidente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quinta-feira (6), em café com jornalistas, que a meta de inflação deve ser elevada se isso for necessário para reduzir a taxa de juros. Ele voltou a criticar o Banco Central e disse que é “humanamente impossível” o país crescer com o atual patamar da taxa básica de juros da Selic.
“Eu não sei se foi a partir de algum de vocês, mas esses dias eu li uma frase que eu não sei se foi dita pelo presidente do Banco Central que, para atingir a meta de 3%, precisaria de juro de 20%. Não sei se foi verdade isso, mas no mínimo é uma coisa não razoável. Porque se a meta está errada, muda-se a meta”, disse Lula.
Ela é definida pelo Conselho Monetário Nacional, formado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
O presidente afirmou que o governo vai lançar um programa de crédito como indutor do crescimento como parte dos anúncios pelos cem dias de seu governo. Mas, para o país voltar a crescer, disse o presidente, é preciso ter juros mais baixos e oferta de crédito.
Lula disse que a meta é “um problema do Banco Central”. E voltou a lembrar que, no seu governo anterior, as metas foram cumpridas. Ele provocou de forma indireta a direção do Banco Central, que prevê o descumprimento da atual meta de inflação.
“Apenas contei um caso que o presidente do BC disse isso. Nem contei quem. Já estabeleci meta neste país. Já cumprimos meta. Conseguimos fazer. Se você tem alguém que estabelece uma meta e não vai cumprir é como você estabelecer uma meta para sua vida e não cumprir, então você está mentindo para si mesmo’, observou.
A meta de inflação para este ano é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Para 2024 e 2025 o índice é de 3%. Lula também afirmou que mudará os diretores do Banco Central “de acordo com os interesses do governo”.
“Não vou brigar porque ele [Campos Neto] tem dois anos de mandato, quem indicou ele foi o Senado. E daqui a dois anos vai-se discutir o novo presidente do Banco Central. E os novos diretores, nós vamos mudar de acordo com os interesses do governo”, disse o presidente, ao destacar que trará “pessoas da mais alta responsabilidade”.
“Nós não vamos brincar com a economia. Eu sou muito cauteloso e meticuloso para tratar da questão da economia”, destacou o presidente. Lula também afirmou que a taxa básica de juros no país, que hoje está em 13,75% ao ano, prejudica o funcionamento do BNDES como indutor do desenvolvimento econômico.
“Não é possível a economia funcionar. E isso qualquer empresário diz. Eu estive reunido com o pessoal do varejo, da indústria. É impossível imaginar, inclusive o BNDES, emprestar dinheiro para o desenvolvimento com uma taxa de juro real tão alta assim”, denunciou.
O presidente disse, ainda, que, após voltar de sua viagem à China, pretende discutir novas políticas de crédito para diferentes atores no país.
“Vamos começar uma outra fase do nosso governo que é fazer a economia voltar a crescer e voltar a oferecer crédito nesse país. Vamos ter que discutir com muita clareza quando eu voltar da China a política de crédito para pequeno e médio empreendedor, para as cooperativas, para o agronegócio, pequenos e médios empresários, pequeno e médio agricultor”, informou.
Segundo ele, não há inflação de demanda e “tem gente pegando juros a 30% no mercado para fazer investimento e não é possível o país continuar assim”. “Não é possível a gente imaginar que se possa estabelecer crédito com taxa de juros de 16%, 17% ou 18%. (…) Só com a circulação de dinheiro é que vamos poder retomar o crescimento da economia. Não existe milagre, não existe outra possibilidade”, apontou o presidente.