“A economia não vai voltar de uma hora para outra. Se voltar subitamente, vai ter pico de casos, vai morrer mais gente e eles (governadores e prefeitos) vão ter de voltar atrás”, advertiu Pedro Hallal
“Não é hora de pensar em aliviar as medidas de isolamento”, afirmou Pedro Rodrigues Cury Hallal, epidemiologista, pesquisador e reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
De acordo com o cientista, “é mais importante olhar para o limite do sistema de saúde do que para o número de mortos ou de casos” para se ter noção da situação no enfrentamento ao coronavírus.
O distanciamento social, orientado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), serve para frear o contágio da doença no país, permitindo que todas as pessoas que precisem possam ter um leito UTI, o que diminui o número de mortos pela Covid-19.
“Se há um crescimento grande no número de casos, a mortalidade da doença acaba sendo acentuada desnecessariamente. Porque vai ter gente que vai morrer só porque não teve acesso ao respirador. Isso é o que a gente mais deve evitar”, disse.
O pesquisador destacou o papel do estado para o cumprimento da quarentena. “Se as pessoas não estão fazendo o que é recomendado é porque o estado brasileiro não está cumprindo o seu papel”. Muitos estão querendo acelerar o fim da quarentena porque caem na “falsa dicotomia entre economia e saúde pública”.
Em entrevista ao Estadão, Pedro Hallal disse que o Brasil ainda está longe de cumprir os requisitos indicados pela OMS para relaxar a quarentena e voltar à normalidade.
“Dos seis requisitos que a OMS propõe para relaxar o isolamento, o Brasil não preenche na maioria dos lugares. Então, não é hora de pensar em aliviar as medidas de isolamento”.
“A gente tem que ter a capacidade de testar, tratar e isolar os infectados e seus familiares. Nós ainda não temos. Estamos vendo o que está acontecendo em Manaus, em Fortaleza”, continuou.
A epidemia no país ainda está em estágio comunitário, que é quando não é possível rastrear onde foi que o paciente foi contaminado. A OMS diz que este ponto deve estar controlado. O Brasil também não é capaz de testar, tratar e isolar todos os pacientes contaminados e seus familiares.
O terceiro ponto levantado pela OMS é de que o país deve preparar os locais de trabalho e de ensino para evitar a transmissão. “Não temos um plano pronto sobre isso”, comentou Hallal.
A organização ainda diz que deve ser possível controlar o surto em hospitais e casas de repouso. “Não conseguimos. Muitos profissionais de saúde ainda estão se contaminando, a gente tem dificuldade na obtenção de Equipamentos de Proteção Individual (EPI)”, disse o infectologista.
Pedro disse ainda que escolas e universidades devem ser as últimas a voltar a funcionar. As escolas podem servir como local de contágio, uma vez que “na maioria da população brasileira, as famílias se aglomeram de forma muito mais intensa e não têm a possibilidade de separar os idosos das crianças que vão para o colégio e correm o risco de contaminação”.
No caso das Universidades, há muitos estudantes que são de outros municípios e estados, por isso elas podem se tornar “pontos de exportação” da doença.
PESQUISA DA UFPel
Pedro Hallal coordena uma pesquisa sobre a real quantidade de contaminados no Rio Grande do Sul e no Brasil. Os pesquisadores sorteiam residências para visitar e testar os moradores. Caso o teste dê positivo, já colocam o contaminado em contato com a Secretaria de Saúde.
Dessa forma é possível ter uma dimensão da subnotificação dos casos de coronavírus. Até agora, a pesquisa se restringiu ao Rio Grande do Sul, onde mostrou que o número de casos pode ser oito vezes maior do que o oficial.
Na etapa nacional, serão testadas aleatoriamente 33.250 pessoas, em 133 cidades do país.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, do Rio Grande do Sul, o cientista destacou que “as deliberações do governo do Estado têm ouvido a opinião da ciência”, porém decreto do governador, Eduardo Leite (PSDB), na semana passada abre brecha para que as prefeituras gaúchas rompam a quarentena.
“A pressão é grande. Muitas prefeituras viram no decreto a possibilidade de implementar o que já tinham vontade. Como pesquisador, não tem nenhuma possibilidade de eu concordar com essa decisão porque não temos um plano detalhado nos locais que me convença que dá para abrir”.
“As pessoas tem entendido que a reabertura é como se fosse um interruptor de luz tradicional. Ele está desligado agora, pois as coisas estão fechadas, e as pessoas querem que ligue. E essa decisão não é baseada em evidência nenhuma. A economia não vai voltar de uma hora para outra. Se voltar subitamente, vai ter pico de casos, vai morrer mais gente e eles (governadores e prefeitos) vão ter de voltar atrás”, advertiu.
Questionado por que a faixa etária entre 30 e 39 anos lidera nos números de casos, Hallal respondeu que “isso reflete o descumprimento do distanciamento social. Não há evidência científica de que a infecção acontece mais em um grupo etário”.
“A forma como o vírus se espalha é bem universal. A chance de pegar uma criança é a mesma de infectar um idoso. Quando um grupo começa a crescer em casos é porque está circulando mais, descumprindo a regra”, avaliou.
O cientista classificou como “uma vitória” o número relativamente baixo de mortes no Rio Grande do Sul.
“Nós, gaúchos, não estamos sabendo comemorar uma vitória. Já tivemos uma grande vitória, se compararmos nossa situação com a de outros estados. Tivemos até agora 29 mortes (34 no sábado). Podia ter 500, pelo tamanho do Rio Grande do Sul. A gente tem de saber reconhecer que isso tem a ver com o distanciamento. Mas não é uma conquista definitiva”, alertou.
Em números atualizados no sábado (25) pelo Ministério da Saúde, o Rio Grande do Sul conta com 34 óbitos. São 1.096 casos confirmados.
No Brasil, o número de mortes subiu para 4.016, 346 óbitos em 24 horas. Até a sexta-feira (24) eram 3.670 mortes registradas. Há apenas dois dias o país tinha ultrapassado o patamar dos 3.000 mortos.
No total, são 58.509 casos oficiais no país, com 5.514 diagnósticos casos novos em 24 horas.
O maior culpado do Brasil está nessa situação é do Excelentíssimo Presidente,o ” Messias” que desde o início dessa pandemia vem falando só em economia e incentivando as pessoas a sair de casa.
Sim.