O presidente afastado da mineradora Vale, Fabio Schvartsman, foi ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Brumadinho e outras barragens, realizada nesta quinta-feira (28). Schvartsman afirmou não ter conhecimento do risco de rompimento barragem da mineradora que matou 216 pessoas e deixou 88 desaparecidos em 25 de janeiro.
Tentando se eximir de qualquer responsabilidade, ele voltou a declarar que não possuía conhecimento sobre os riscos de rompimento da barragem.
Schvartsman foi afastado da presidência da Vale após recomendação do
Ministério Público Federal e do Ministério Público de Minas Gerais e em atuação coordenada com a Polícia Federal e a Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, órgãos quem compõem a força-tarefa da investigação sobre o crime da Vale em Brumadinho.
“No caso de Brumadinho, posso afirmar categoricamente que jamais chegou ao meu conhecimento nenhuma denúncia, pelos canais oficiais da empresa ou quaisquer outros — nem mesmo os anônimos – relatando risco iminente de rompimento.”
Ao sobre ser questionado sobre quem é o responsável pela tragédia. Ele respondeu: “A responsabilidade, se houver, é certamente da área técnica. Não há duvida de que houve algo tremendamente errado e tenho certeza de que as investigações vão apontar os responsáveis”.
“Gerenciar uma companhia desse porte exige uma estrutura de compartilhamento de responsabilidades baseada em nível hierárquico. Cada área tinha condições de gerenciar riscos e tomar as decisões necessárias à sua operação, com segurança”, disse.
De acordo com Schvartsman, um gerente de mina na Vale tem autonomia para decidir investimentos de até R$ 40 milhões por projeto. Segundo o ex-presidente, a descentralização garantiria agilidade nas decisões, já que reduz a burocracia para a implantação de mecanismos de segurança. Além disso, Schvartsman informou que a Vale mantém canais para que qualquer funcionário, independentemente do nível hierárquico ou região, reporte comportamentos que infrinjam as normas internas da empresa. Também conta com um comitê de risco, este qual o governo de Bolsonaro quer extinguir, auditorias internas e externas regulares e uma ouvidoria apta a receber denúncias anônimas.
Durante seu depoimento, Schvartsman tentou apresentar os números dos resultados comerciais da mineradora para defender que a empresa não possa ser responsabilizada pela tragédia de Brumadinho. No mês passado, em audiência na Câmara dos Deputados, o então presidente da Vale defendeu que ela “é uma joia brasileira” e que, por isso, não deveria ser processada pela morte de ao menos 216 pessoas.
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A falta de respostas concretas levou o ex-presidente da Vale, Fábio Schvartsman, a ser duramente criticado na CPI.
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) exigiu objetividade das respostas de Schvartsman e apontou negligência da Vale. Segundo ele, não houve eventos naturais, como abalos sísmicos ou furacões, que justificassem a tragédia em Brumadinho.
“Nós temos visto divagações para que ou o senhor não assuma sua responsabilidade, ou a terceirize, ou não a terceirize para ninguém”, criticou Randolfe.
Questionado pelo relator da CPI, o senador Carlos Viana (PSD-MG), se as outras barragens da Vale são seguras e se o que ocorreu em Brumadinho teria sido realmente um acidente, Schvartsman respondeu que as leituras sobre o problema não teriam sido levadas a sério. O executivo declarou que somente ao final da investigação se saberá as reais causas do rompimento.
A senadora Juíza Selma (PSL-MT) criticou o que chamou de “atitude omissiva” de Fábio Schvartsman. Ela informou que o posicionamento do executivo não o absolverá, nem evitará uma possível condenação por homicídio doloso. E destacou que Schvartsman teria a obrigação de conhecer os riscos da barragem de Brumadinho, por ter sido presidente da mineradora.
O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) criticou a “frieza”de Schvartsman e classificou-o como um “presidente decorativo”. Ao declarar que a Vale só visa ao lucro, o senador disse que a tragédia em Brumadinho é um crime e que a mineradora age como “uma empresa assassina”.
OUTRAS BARRAGENS EM RISCO
O senador Otto Alencar (PSD-BA) questionou sobre providências da Vale para as ameaças de rompimento de outras barragens, como a de Forquilha I e II, em Ouro Preto (MG), e por que a estrutura organizacional da barragem em Brumadinho foi feita ao lado e não nas partes altas do local. Para Otto, a Vale deve ser responsabilizada pelo que o senador classificou como “assassinato” das populações e pelos crimes ambientais resultados da tragédia.
“Não entendo porque uma empresa da estrutura da Vale não tenha tido a capacidade de entender isso. Não construir a administração nos altos, mas à frente da jusante, é uma coisa criminosa, no meu ponto de vista”, disse.
Schvartsman respondeu que Brumadinho é uma das 500 estruturas da Vale pelo país e que desconhecia a existência de um escritório administrativo abaixo da barragem. Segundo ele, a empresa adquiriu a barragem com o escritório e refeitório já construídos. O ex-presidente declarou ainda que as pessoas da própria região é que deveriam ter feito algo para mudar a administração de local.