“Ao se aproximar das ideias, do ambiente e dos diagnósticos econômicos da turma do financismo, Haddad se afasta paulatinamente dos caminhos do planejamento e do desenvolvimento”, afirmou Paulo Kliass
Nesta terça-feira (29), o ministro da Fazenda Fernando Haddad reafirmou, ao falar sobre o envio pelo governo da proposta de Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) para 2024 ao Congresso Nacional, o seu compromisso em zerar o déficit público em 2024. O anúncio, dado no mesmo dia em que o governo ofereceu 1% de reajuste para os servidores, gerou protestos de servidores, políticos e economistas.
O professor da FGV, Nelson Marconi, afirmou ao HP, nesta quarta-feira (30), que acha importante o equilíbrio fiscal, mas insiste em que “os investimentos devem ficar de fora de qualquer teto”. “Eu acho que o grande problema é deixar os investimentos dentro da meta”, disse o economista. Marconi considera que esta meta de Haddad de zerar o déficit “só será atingida se as receitas do governo crescerem, caso contrário, será um exagero”.
O professor Paulo Kliass, doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental, criticou, em artigo publicado no Vermelho, a ortodoxia do ministro da Fazenda. “O ex-prefeito de São Paulo parece ter incorporado a persona de professor do INSPER e se distanciado de uma vez por todas daqueles tempos em que se orgulhava de ser mestre da Faculdade de Filosofia a USP”, disse Kliass.
“Ao se aproximar das ideias, do ambiente e dos diagnósticos econômicos da turma do financismo, Haddad se afasta paulatinamente dos caminhos do planejamento, do desenvolvimento e das propostas de recuperação do protagonismo do Estado como instrumento para superação da profunda crise por que passa a sociedade brasileira”, sentenciou o economista.
O economista José Oreiro, professor da UNB, afirmou que a equipe econômica do governo “planeja zerar o déficit por meio do confisco de 2% dos salários dos servidores”. “É pouco dinheiro – especialmente quando comparado com o pagamento dos juros -, falta um pouco de boa vontade”, acrescentou o professor da UNB.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, afirmou que não há necessidade de zerar o déficit no ano que vem. “Temos que estimular o crescimento”, disse a deputada. A Bancada Sindical dos servidores e as Centrais Sindicais divulgaram nota repudiando a proposta de 1% de reajuste dos servidores. A nota da Bancada ressalta que as perdas dos servidores nos últimos anos está acima dos 30%.
Para 2023, a “PEC da Transição”, aprovada antes mesmo da posse de Lula, autorizou o governo a gastar R$ 168,9 bilhões a mais, podendo atingir um déficit de R$ 231,5 bilhões. Nos sete primeiros meses do ano, o déficit primário (sem as despesas com juros) chegou a R$ 78,24 bilhões, sendo que, desse total, R$ 35,9 bilhões foi em julho. Apesar da gritaria, interessada, do chamado “mercado”, sobre a existência de um suposto “descontrole” das contas públicas, o governo, ao contrário, está bem abaixo do limite permitido.