O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, participou, nesta terça-feira (9), de uma reunião da Comissão de Segurança Pública do Senado Federal e não permitiu que senadores bolsonaristas criassem fantasias que jogam sobre o governo federal a culpa pelo ataque golpista do dia 8 de janeiro.
O senador Marcos do Val, que já se envolveu em um estranhíssimo plano com Jair Bolsonaro e Daniel Silveira contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, apresentou vídeos desconexos e uma tese infundada de que Dino e Lula já sabiam que o atentado iria ocorrer e não fizeram nada para impedir.
Marcos do Val ainda sugeriu o afastamento e a prisão do ministro da Justiça, baseando-se em trechos cortados e editados de entrevistas de Dino.
“Essas construções mentais muito singulares que o senhor faz realmente não têm suporte nos fatos. O senhor tem se dedicado nas suas redes sociais a vídeos difamatórios e obsessivos contra mim”, disse.
“Não precisa o senhor ir para porta do Ministério da Justiça fazer vídeo de internet porque se o senhor é da Swat, eu sou dos Vingadores. O senhor conhece o Capitão América? O Homem-Aranha?”, ironizou Dino.
“Não adianta pegar trechos de entrevistas para pescar contradições inexistentes, a não ser na sua mente. Na verdade, o que acontece? Eu não estava lá [na Esplanada dos Ministérios], eu fui avisado e cheguei”, continuou o ministro.
Marcos do Val diz que foi instrutor da SWAT, serviço de segurança dos Estados Unidos, mas isso é mentira.
O senador o acusava de mentir em entrevistas e de ter admitido que o presidente Lula já sabia do atentado antes de ser avisado por Flávio Dino.
“Você pregunta: ‘o presidente já foi avisado’. Claro que foi, quando eu cheguei, telefonei para ele. E digo na entrevista que o senhor mostrou ‘claro que ele já sabia’. É porque em Araraquara [onde Lula estava] tem televisão”.
Durante a reunião da Comissão, Flávio Dino afirmou que a tentativa de golpe aconteceu por conta dos sucessivos e permanentes ataques de Jair Bolsonaro contra a democracia, em especial contra o Supremo Tribunal Federal.
“O Senado foi atacado, a Câmara foi atacada, o Palácio do Planalto foi atacado. Mas você sabe qual foi o prédio atacado com mais violência e ódio? O do Supremo, porque durante anos vozes irresponsáveis atacaram o Supremo e os ministros”, comentou.
“Eu sou um crítico contundente do regime militar, mas os generais da ditadura tiveram mais respeito com o Supremo do que quem governou até outro dia. Este ódio é que explica as agressões que os ministros do Supremo sofrem em restaurantes, aviões”, completou Dino.
BOLSONARO, “NARCOMILÍCIA” E CACS
Ainda durante a reunião, o senador Flávio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, fez uma fala e mostrou vídeos sobre o crime organizado no Rio de Janeiro. Ele disse que uma ação movida pelo PSB no STF contra ações da Polícia Militar em favelas estava favorecendo a criação de “narcomilícias”.
Flávio Bolsonaro ainda citou que mais de 120 policiais morreram no Rio de Janeiro nos últimos cinco anos.
“O senhor mesmo trouxe um dado na sua pergunta: ‘nos últimos cinco anos, morreram 121 policiais’. Quem era o presidente da República nos últimos cinco anos? Nós não podemos responder pelos dados estatísticos dos últimos cinco anos. Nós só exercemos o governo quatro meses”.
Na resposta, Flávio Bolsonaro ainda ouviu sobre a ligação de sua família: “é um tema que ele conhece muito de perto, esse casamento de milícia com narcotráfico”
Dino afirmou que parte dos CACs [Colecionador, Atirador e Caçador] tem usado a permissão para comprar armas para abastecer o crime organizado. O Ministério da Justiça abriu uma campanha de recadastramento, mas seis mil armas de uso restrito, como fuzis, não foram recadastrados e estão ilegais.
O ministro afirmou que essas armas serão encontradas e apreendidas.
REGULAÇÃO DAS REDES SOCIAIS
Os parlamentares bolsonaristas usaram suas falas e perguntas para pressionar contra o PL de Combate às Fake News (PL 2.630/20). Eles dizem, sem amparo no texto, que o PL censura a liberdade de expressão.
Flávio Dino sustentou que a regulação das redes sociais é uma exigência da Constituição Federal. Para ele, “é claro que é necessária uma regulação”.
“Uma rádio é regulada? Sim. Uma tv? Sim, um parlamentar? Sim. Por que só as plataformas tecnológicas não podem ter regulação, se todas as atividades humanas, lucrativas ou não, têm regulação jurídica?”, questionou.
“Quem deu essa liberdade jurídica para cinco empresas que querem controlar o pensamento, a arte, a cultura, a política, os negócios? Que imunidade para o poder financeiro que quer ameaçar esse parlamento, chantagear o Congresso?”, continuou, se referindo à campanha ilegal das plataformas contra o projeto que tramita na Câmara.