“Qualquer negociação real deve incluir todas as partes”, destacou o assessor de Lula, após participar virtualmente do encontro na cidade da Arábia Saudita. Articulada pela OTAN, a reunião excluiu a Rússia
O ex-embaixador Celso Amorim, assessor para assuntos internacionais do presidente Lula, participou neste final de semana, de forma virtual, da reunião realizada na Arábia Saudita que teria como objetivo discutir propostas de paz para a guerra que a OTAN está fazendo contra Rússia através da Ucrânia. Em seu discurso, o assessor e Lula disse que “qualquer negociação real” deve “incluir todas as partes”.
“Ainda que a Ucrânia seja a maior vítima, se realmente queremos a paz, temos que envolver Moscou de alguma forma neste processo”, insistiu Amorim, segundo sua declaração enviada à AFP. Ele considerou que a reunião não teve avanços por não ter contado com a presença de todos os envolvidos no conflito.
A reunião foi articulada pelos Estados Unidos e a União Europeia e tinha como objetivo principal tentar atrair os quatro parceiros da Rússia no BRICS (Brasil, Índia, China e África do Sul) para o apoio à OTAN. As discussões estavam programadas para serem feitas em torno da proposta unilateral da Ucrânia. Já antes do início da reunião, o representante brasileiro tinha alertado que o não convite à Rússia não ajudaria a se achar o caminho da paz.
O próprio Volodimir Zelensky, afirmou durante a semana que os debates de Jidá seriam dominados por seu plano de paz de 10 pontos, que inclui a retirada total das tropas russas do território da ex-república soviética. O chefe de gabinete da presidência da Ucrânia, Andrii Yermak, também deixou claro qual era o objetivo do encontro. “Nossa tarefa é unir todos ao redor da Ucrânia”, disse ele. “Penso que a conversa não será fácil, mas a verdade está do nosso lado”, acrescentou Andrii Yermak.
A Ucrânia insistiu que os países em desenvolvimento aceitassem seu “plano de paz”, que se baseia na exigência de que a paz seja retomada somente após a retirada completa das tropas russas. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia, comentando as negociações em Jidá, afirmou que tomar decisões sobre a crise ucraniana no nível político sem a participação da Rússia é um absurdo e não faz sentido.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou neste domingo que a reunião foi “um reflexo da tentativa do Ocidente de continuar esforços fúteis e fadados ao fracasso” para mobilizar o sul global a favor da posição de Zelenskiy.
Volodimir Zelenski, manifestou irritação com a posição defendida pelo Brasil e atacou Lula. Ele fez uma acusação ao presidente brasileiro neste domingo, insinuando que Lula “coincide com as narrativas” do líder russo Vladimir Putin. Isso veio após as críticas de Amorim à reunião de Jidá e Lula afirmar que nem a Rússia nem a Ucrânia desejam a paz enquanto ainda houver pessoas morrendo no conflito.
Durante uma entrevista à Agência EFE e a diversos veículos de comunicação latino-americanos em Kiev, Zelenski questionou por que Lula se alinha às narrativas de Putin, destacando, sem apresentar provas, que o líder russo age como um “colonizador, mentindo e manipulando constantemente, e cometendo atrocidades como matar crianças e estuprar mulheres”.
Zelenski desrespeitou o presidente brasileiro insinuando que ele não pensa com a própria cabeça. Ele próprio, que é conhecido como marionete da OTAN, provocou Lula dizendo que espera que Lula possua “opiniões próprias”. Disse que não é necessário que as ideias de Lula coincidam com as do presidente Putin. Lula tem defendido que todos os lados sejam ouvidos nas discussões sérias sobre a busca pela paz.
O presidente ucraniano insistiu que Lula se encontre pessoalmente com ele e discutam a situação atual na Ucrânia. Ele voltou a atacar Lula afirmando que esperava que o brasileiro tivesse “uma visão mais ampla do mundo”. Lula vem se colocando como um possível mediador entre Ucrânia e Rússia em várias ocasiões. O líder brasileiro defende o início imediato das conversas. No entanto, Zelenski se recusa a participar de negociações até que a Rússia retire suas tropas dos territórios ocupados na Ucrânia.