Levy fez parte da ‘farra dos guardanapos’
Especialista em corte, recessão e desemprego de gestões Lula e Dilma
Bolsonaro confirmou, na segunda-feira (12/11), que pretende nomear Joaquim Levy para a presidência do BNDES.
Imprensado até por seus apoiadores – um deles chegou a lembrar a relação aprochegada de Levy com o capo da JBS, Joesley Batista (“nós vamos precisar muito de vocês”, disse Levy a Joesley, durante a segunda posse de Dilma) -, Bolsonaro disse que a decisão de nomear Levy “foi uma decisão do Paulo Guedes, que pediu um voto de confiança”.
“A caixa-preta vai ser aberta na primeira semana! Não tenha dúvida disso. Se não abrir a caixa-preta, ele está fora, pô”, disse Bolsonaro sobre Levy.
Segundo Bolsonaro, sobre Levy, não há “nada que desabone sua conduta”.
Talvez Bolsonaro tenha a opinião de que funcionárias de bordéis podem ser, ao mesmo tempo, excelentes moças de família ou dedicadas esposas.
Pois Levy foi secretário da Fazenda do governo Sérgio Cabral, no Estado do Rio de Janeiro – quando participou da farra, em Paris, onde a quadrilha de Cabral espargiu euforicamente o resultado da sua corrupção, do seu roubo aos cofres públicos, da sua pilhagem ao povo fluminense.
Levy foi, também, secretário do Tesouro de Lula, sob a proteção do hoje presidiário Antonio Palocci – aliás, operador de Lula nos antros da corrupção.
Foi, também, ministro da Fazenda de Dilma, quando afundou o país na recessão.
FESTA
Quando foi a Paris, para a farra com Sérgio Cabral, Levy não notou que havia algo estranho?
Em 2009, a quadrilha de Cabral levou, para essa farra, 150 pessoas para a capital francesa – às custas do dinheiro público, que estava sob a responsabilidade de Levy, que era secretário da Fazenda.
O que fez Levy?
Bem, Levy foi junto, para a farra.
Somente para dar um exemplo: no dia 14 de setembro de 2009, essas 150 pessoas, sob a batuta de Cabral e sua consorte, Adriana Ancelmo, fizeram uma festa noturna em um palacete da Avenue des Champs-Élysées, uma das avenidas mais caras (sob qualquer ponto de vista) do mundo.
Nessa festa foram consumidas 300 garrafas de champagne D. Pérignon (preço: R$ 1.699,90 cada garrafa); para quem não gostava de champagne, foram servidas garrafas do vinho português Barca Velha (preço: R$ 2.515,12 cada garrafa).
Poupamos ao leitor episódios mais constrangedores (v. o livro de Sílvio Barsetti, “A Farra dos Guardanapos: O Último Baile da Era Cabral”, ed. Máquina de Livros, 2018).
Joaquim Levy, que era secretário da Fazenda de Cabral, não se escandalizou com nenhum desses episódios, nem com o tamanho da esbórnia, nem com a comemoração depravada da corrupção, nem com o fato de que os cofres públicos – aberta ou ocultamente – estavam pagando tudo.
Pelo contrário, Levy ficou calado sobre o que aconteceu em Paris – só revelado três anos depois, em 2012, quando as fotos (inclusive aquelas em que Levy aparece) foram publicadas pelo ex-governador Antony Garotinho.
Em suma, Levy escondeu a sua participação – e também a de Cabral e a do resto da quadrilha, hoje, na maior parte, na cadeia ou sob tornozeleira.
Não é uma ilação dizer que ele fez isso porque fazia parte da quadrilha – ou existe outra razão para o seu comportamento, tanto a ação, quanto a omissão? A omertà, o código de silêncio dos mafiosos, às vezes, mais revela do que esconde o indivíduo.
Mas, segundo Bolsonaro, não há “nada que desabone sua conduta”.
JULGAMENTO
Bolsonaro, na campanha eleitoral, apresentou-se como adversário da corrupção e do PT – especialmente, de Lula e Dilma.
Certamente, quem escolhe Paulo Guedes – cuja especialidade, no mercado financeiro, era dar golpes nos fundos de pensão das estatais – como suposto czar da economia, não é sério na luta contra a corrupção, para dizer o mínimo.
A escolha do secretário da Fazenda de Cabral – segundo ele, a pedido de Guedes – apenas confirma tal propensão de usar a luta contra a corrupção, meramente, como escada política.
Mas Levy foi, também, secretário do Tesouro de Lula e Palocci. E ministro da Fazenda de Dilma.
Como secretário do Tesouro, disse um então diretor do BNDES, ele não foi mais que o “secretário da tesoura” – sua especialidade era cortar verbas e investimentos, quando esses gastos eram em benefício do país e do povo.
Tudo em nome de uma suposta “austeridade”.
No entanto, em Paris, com Cabral, ele não achou que levar 150 pessoas e consumir 300 garrafas de champagne em uma única noite, num palacete alugado da Avenue des Champs-Élysées, era um desperdício.
Nesse caso, a austeridade que fosse à ponte que partiu.
Quanto à sua performance como ministro da Fazenda, ainda é recente, para que todos se lembrem da mistura de incompetência e estupidez neoliberal, que afundou o país.
Sob os aplausos de Dilma. Por exemplo:
“[Levy] é um grande servidor público. Acho nocivas as especulações que, vira e mexe, são feitas sobre o ministro Levy, que me obrigam a sistematicamente vir a público e reforçar que ele fica onde está. Isso não contribui para o país.”
Depois, quando se tornou insustentável a manutenção de Levy no Ministério da Fazenda, devido à devastação econômica que ele trouxera ao país, disse Dilma:
“Sua presença à frente da Fazenda foi decisiva para que fizéssemos ajustes imprescindíveis. Joaquim Levy, cuja competência já era conhecida, revelou grande capacidade de agir com serenidade e eficiência sob intensa pressão. Em um momento conturbado da economia e da política, o ministro Joaquim Levy superou difíceis desafios e muito contribuiu para a estabilidade e a governabilidade. Agradeço sua colaboração inestimável, que jamais deixarei de reconhecer.”
Realmente, o que Bolsonaro se propõe, é continuar, de modo piorado, a destruição de Dilma/Levy e Temer/Meirelles. Só falta promover mais uma festa em Paris, levando Levy a tiracolo…
C.L.