Nossa bandeira nunca será azul-vermelha!
Servilismo à potência estrangeira irritou militares brasileiros
O secretário de Estado dos EUA, Michael Pompeo, declarou que “nós ficamos satisfeitos com a oferta do presidente Bolsonaro” de uma base militar no Brasil, mas que seu governo ainda não decidiu se aceita ou não a oferta.
A declaração foi dada em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”:
OESP: Bolsonaro anunciou que o Brasil pode sediar uma base militar dos EUA no futuro. Há planos nesse sentido?
Pompeo: Isso é algo que estamos constantemente avaliando aqui nos EUA: qual a melhor forma de ter bons parceiros na região, bons parceiros ao redor do mundo, e onde, quando e como instalar nossas “US forces”. Essa é uma discussão colocada o tempo todo, e nós ficamos satisfeitos com a oferta do presidente Bolsonaro. Eu estou confiante de que vamos continuar as discussões sobre todo um conjunto de temas com o Brasil, enquanto o novo governo vai colocando seus pés no chão. Isso é algo que nós estamos desejando muitíssimo.
Se Trump & cia. não ficassem satisfeitos com tal oferecimento, seria, realmente, um fenômeno – talvez, até, o fim dos tempos, onde o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão.
Porém, o que o secretário de Estado dos EUA revelou é que Bolsonaro já ofereceu o território brasileiro para instalar uma base militar norte-americana – e sem que os EUA tenham, sequer, pedido.
Pelo contrário, diz Pompeo, os EUA estão “avaliando” se aceitam, ou não, a oferta.
Bolsonaro dissera, na entrevista ao SBT, na quinta-feira (03/01), sobre a instalação de uma base norte-americana em território nacional, que “de acordo com o que puder vir a acontecer no mundo, quem sabe você tenha que discutir essa questão no futuro” (v. Bolsonaro avança o sinal e “admite” base americana na Amazônia).
Já era (e continua sendo) um escândalo admitir a simples possibilidade de instalar uma base militar dos EUA no Brasil. Em 197 anos de Independência, nós soubemos nos defender perfeitamente. Se nossas Forças Armadas têm hoje deficiências materiais, devido à mesma política que esculhambou com a Saúde, a Educação – e todo e qualquer setor público – o que cabe fazer é reaparelhar nosso Exército, nossa Marinha e nossa Aeronáutica para que possam cumprir o seu papel constitucional, a sua função nacional, que é a nossa defesa, a defesa do país.
É óbvio – ou deveria ser – que a solução para a nossa Defesa Nacional não pode ser a instalação de tropas e aparato bélico de um país estrangeiro, muito menos quando esse país é os EUA.
Como disseram três generais e três oficiais superiores, também entrevistados pelo mesmo jornal que entrevistou Pompeo, “uma base militar dos EUA no Brasil é desnecessária e inoportuna”.
Um deles disse que isso somente se justificaria em caso de agressão externa que não tivéssemos capacidade de responder: “é o caso do menino fraco que chama o amigo forte para enfrentar os valentões da rua; estamos longe disso”.
Outro lembrou a base de Natal, no Rio Grande do Norte, quando o Brasil e os EUA eram aliados contra o nazi-fascismo na II Guerra Mundial. Porém, quando os EUA, após a guerra, quiseram prolongar sua estada na base de Natal, o Brasil recusou a pretensão.
Isso foi em 1946.
Hoje, é evidente que a função de uma base dos EUA em outro país não é defender esse país – mas ocupá-lo e atacar outros países a partir dessa base.
Exemplos não faltam – inclusive em países desenvolvidos da Europa (Alemanha, por exemplo) e Ásia (Japão). Quando foi que as bases dos EUA nesses países tiveram a função de defendê-los?
Como é notório, essas bases estão lá para ameaçar a Rússia e a China – além de manter a Alemanha e o Japão sob controle norte-americano.
O Brasil, naturalmente, não precisa, porque não é do nosso interesse, agredir outros países – e nem precisa de uma base estrangeira ocupando o próprio Brasil.
Portanto, era uma monstruosidade Bolsonaro admitir a possibilidade de instalar aqui uma base militar dos EUA.
Porém, o que o secretário de Estado dos EUA disse – e não houve desmentido – foi que Bolsonaro já ofereceu o território brasileiro para que as forças armadas norte-americanas instalem uma base.
Que isso não possa ser desse jeito – pois, no Brasil, os acordos internacionais precisam de aprovação do Senado – não é coisa que iniba Bolsonaro, para quem o Congresso é apenas uma aporrinhação.
No entanto, ele não tem esse poder.
As declarações de Pompeo, embora publicadas no domingo, 06/12, foram dadas no dia 04/12, isto é, no dia seguinte ao que Bolsonaro admitiu a possibilidade de instalar uma base dos EUA no Brasil.
O encontro entre Bolsonaro e Pompeo – que veio ao Brasil para a posse – foi no dia 02/01.
Ou seja, no dia 03/12, quando apareceu no SBT, Bolsonaro já oferecera o território brasileiro para os norte-americanos – isto é, mais precisamente, para Trump e sua quadrilha.
AFINIDADES
Pompeo, o secretário de Estado dos EUA, é um daqueles resíduos fascistas e escravagistas (ou vice-versa), que subiram ao poder com Trump. Trata-se de um membro do “Tea Party” – a extrema-direita do Partido Republicano -, ex-diretor da CIA, lobista dos nazi-sionistas de Israel, financiado pelos irmãos Koch, donos da Koch Industries, do ramo petrolífero e petroquímico, segunda maior empresa de capital fechado dos EUA (cf. John Nichols, The Koch Brothers Get Their Very Own Secretary of State, The Nation, 13/03/2018).
A posição de Pompeo sobre os EUA pode ser resumida rapidamente: é a favor de um estado policial permanente, sob controle e espionagem das agências “de segurança” do país.
Certamente, não seria esse elemento que demonstraria apreço à democracia no país dos outros.
Até porque, quanto à política externa dos EUA, Pompeo é a favor de agredir supostos – isto é, fabricados – inimigos dos EUA, de preferência os mais fracos, porque ele é reacionário, mas não é besta.
Entretanto, se já não meteu os EUA em alguma aventura mais desastrosa, é porque dentro do país existem limites para isso – aliás, a guerra entre Trump e a própria mídia do establishment norte-americano, que recrudesceu nos últimos dias, demonstra que a situação não é fácil para os atuais ocupantes do governo.
Não é, portanto, propriamente uma novidade que Pompeo esteja “entusiasmado” com o “alinhamento automático” de Bolsonaro aos EUA, como disse na entrevista (“Estamos muito entusiasmados e vislumbramos grandes oportunidades).
Não apenas com a “oferta” de uma base militar em território brasileiro, mas com a ocupação da base brasileira de Alcântara, no Maranhão, o mais bem localizado espaçoporto do mundo (“Nós temos muito interesse nessa questão e o Departamento de Estado está negociando esse acordo de salvaguardas tecnológicas com o Brasil, que liberará licenças para lançamentos de veículos espaciais e satélites dos EUA”).
A aberração – pelo menos a aberração maior – não está nesse imperialista grosseiro manifestar seu “entusiasmo”.
A aberração está em Bolsonaro, com sua subserviência nojenta à metrópole – e até a um protetorado da metrópole, como Israel.
Mais precisamente, não se trata nem ao menos de subserviência à metrópole, mas ao lixo da metrópole.
A justificativa que apresenta para a sua subserviência é a incapacidade do Brasil e dos brasileiros. Assim, ele se oferece – e oferece o país – à quadrilha de Trump, porque nós somos incapazes.
Como naquela sua frase, em janeiro do ano passado: “O Brasil não fabrica nem máquina de fazer quatro operação” (o erro de concordância é por conta de Bolsonaro).
Existe, quanto às calculadoras, um cartel composto por duas empresas dos EUA e duas japonesas.
Apesar disso, sempre que há qualquer brecha, aparece a produção nacional – às vezes por pouco tempo.
Porém, mesmo que fosse real o que disse Bolsonaro, qual a dificuldade do Brasil para fabricar calculadoras, se houvesse uma política – ou seja, uma decisão de Estado – para isso?
Exceto alguns capachos, como Bolsonaro, nenhuma.
CARLOS LOPES