Seth Masket, cientista político, expressou espanto com o fato de Hegseth “convocar todos os generais dos EUA de todo o mundo, com grandes despesas, [só] para envergonhá-los”
Está viralizando nas redes sociais o discurso de Hegseth, ex-apresentador na Fox News e bebum nas horas vagas, em que este, depois de reunir generais e almirantes norte-americanos vindos dos quatro cantos do mundo, e, antes mandar o alto oficialato pagar vinte flexões, anunciou que acabou essa história de “soldados obesos” e esse papo de “justiça social” e “mudança climática”.
O conclave, ao qual o presidente Trump também compareceu, ocorreu nesta terça-feira (30) na Base do Corpo de Fuzileiros Navais em Quântico, no estado da Virgínia. No início do mês, Trump decidira renomear o Departamento de Defesa, o Pentágono, como “Departamento de Guerra”, no melhor espírito MAGA.
A marcação da reunião vinha causando perplexidade e já havia quem pensasse que Trump iria iniciar a III Guerra Mundial, anunciar a invasão de Marte ou a extensão do seu tarifaço à Lua.
Para alguns analistas, a real razão por trás da insólita convocação de todos os generais à Virgínia foi o pífio, aliás, vergonhoso, desempenho do desfile militar na data do aniversário de Trump em Washington, 14 de junho. Um desastre, comparado com os garbosos desfiles em Moscou no 9 de Maio e em Pequim no 3 de Setembro.
Hegseth apresentou as novas diretrizes de recrutamento, treinamento e regras de combate diante de uma sala silenciosa.
Em certo momento, o marombado Hegseth exaltou-se a ponto de dizer ser “cansativo olhar para as formações de combate e ver tropas gordas”. “Da mesma forma, é completamente inaceitável ver generais e almirantes gordos.”
Com pompa, Hegseth anunciou que o governo Trump está agindo sistematicamente para “remover a justiça social, o politicamente correto e o lixo ideológico tóxico que infectou nosso departamento”. Ele chamou ainda a se concentrar nos “valores de outrora”, sem elaborar se tratava-se da volta da escravidão, do poder confederado ou da Era Medieval.
Também prometeu acabar com “as regras estúpidas de engajamento” que limitam os membros das forças armadas – entenda-se, limitam os crimes de guerra e a repetições de cenas como Abu Graib e Mi Lai.
O mui tatuado secretário – algumas parecem coisa de nazista, mas ele jura que é um ‘guerreiro cristão medieval’ -, anunciou ainda que basta de coibir os atos de psicopatia ou de assédio sexual nas fileiras armadas de Tio Sam, trabalho do “inspetor-geral”, mas que estava tendo o efeito colateral de colocar energúmenos “no banco do motorista”.
“Chega de reclamações frívolas, chega de reclamações anônimas, chega de reclamações repetidas, chega de manchar reputações, chega de espera interminável, chega de limbo legal, chega de desviar carreiras, chega de pisar em ovos!” Hegseth convocou.
O SILÊNCIO DOS GENERAIS EM QUÂNTICO
Foi a colunista do New York Times Jamelle Bouie, que se disse estarrecida com o “discurso” de Hegseth, que melhor resumiu a situação:
“Você pode imaginar sentar naquela plateia como um oficial de três estrelas – décadas no serviço, vários diplomas de pós-graduação e um nível virtualmente inigualável de experiência em comando – e ser forçado a assistir a esse bêbado seco e estúpido dar um seminário de Jordan Belfort fora da marca?”, ela perguntou.
Seth Masket, cientista político da Universidade de Denver, expressou espanto com o fato de Hegseth “convocar todos os generais dos EUA de todo o mundo com grandes despesas para envergonhá-los”.
Também o expertise de Hegseth quanto à aptidão física mereceu o comentário do advogado Max Kennerly: “você acha que o melhor pessoal de segurança e logística de TI passa duas horas na academia todos os dias para se parecer com o elenco de 300?”
“GUERRA INTERNA”
O presidente Trump instou sua cúpula militar a “vigiar o inimigo interno”, além de prometer que “ressuscitará o espírito guerreiro” das tropas.
Sobre a mobilização da Guarda Nacional contra as cidades que repudiam a caçada aos imigrantes em curso nesse segundo mandato, Trump disse que “isso também é uma guerra: é uma guerra interna”.
As cidades “governadas pelos democratas da esquerda radical (…) San Francisco, Chicago, Nova York, Los Angeles, são lugares perigosos. Vamos colocá-las em ordem uma por uma”, prometeu.
“Eu disse a Pete que deveríamos usar algumas dessas cidades perigosas como campos de treinamento para nosso exército”, disse Trump.
Desde a posse, além da caçada a imigrantes e à “esquerda radical”, Trump desencadeou operações mortais no Caribe, no litoral da Venezuela contra embarcações que disse transportarem drogas, mas sem apresentar qualquer prova, e realizando execuções extrajudiciais. Também bombardeou o Irã e o Iêmen – quanto a este, depois que um porta-aviões dos EUA foi posto para correr no Mar Vermelho, Trump declarou “vitória” e mandou o porta-aviões ir pescar noutro lugar.
Para Trump, o discurso de Hegseth “foi ótimo”. Por larga margem, as redes sociais discordaram, considerando-o “embaraçoso” e “ridículo”..