Na quarta-feira (30), a espaçonave tripulada chinesa Shenzhou-15 atracou com a Estação Espacial Tiangong às 7h33 (horário de Pequim), depois de ser lançada com sucesso na véspera do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no deserto de Gobi, província de Gansu, por meio de um foguete Longa Marcha-2F, marcando a conclusão, em dois anos, de todas as 11 missões programadas na fase de construção da primeira estação espacial permanente do país, registrou o Global Times.
Eles foram recepcionados pelos tripulantes da Shenzhou-14, Chen Dong, Liu Yang e Cai Xuzhe, que dentro de uma semana concluirão sua missão de seis meses na Estação Tiangong e voltarão à Terra.
A tripulação da Shenzhou-15 inclui o veterano comandante da missão, o taikonauta – palavra chinesa equivalente a astronauta – Fei Junlong, e dois novatos, Deng Qingming e Zhang Lu. Fei está voltando ao espaço 17 anos depois da missão Shenzhou-6.
Uma “reunião histórica em Tiangong” que, como registrou o GT, “pertence à China e ao mundo”. Fotos dos seis astronautas se abraçando no espaço, bem como mensagens de ‘Viva a Pátria’, correram as redes sociais, corroborando que a China se tornou indiscutivelmente uma potência espacial.
Durante sua estadia de seis meses na Estação Espacial da China, a tripulação da Shenzhou-15 realizará, entre outras tarefas, o desbloqueio, instalação e teste de 15 gabinetes de experimentos científicos e mais de 40 experimentos nas áreas de pesquisa e aplicações de ciência espacial, medicina espacial e tecnologia espacial. Os três astronautas também conduzirão de três a quatro atividades extraveiculares durante a missão.
CRONOGRAMA APERTADO
A China iniciou a construção da estação espacial de três módulos com o lançamento do módulo central Tianhe – os principais alojamentos – em abril de 2021. Apesar de um cronograma apertado de apenas 20 meses, a China entregou todos os 11 lançamentos – três para megamódulos de estação espacial, quatro para espaçonaves tripuladas Shenzhou e quatro para espaçonaves de carga Tianzhou – em uma sequência ininterrupta de sucesso, refletindo o desenvolvimento robusto da China no domínio da tecnologia espacial tripulada, assinalou o GT.
É incrível que a China tenha feito isso por conta própria, disse ao Global Times um analista espacial de Pequim que pediu para não ser identificado, observando que “levou 15 países em uma década e mais de 30 missões para montar a Estação Espacial Internacional (ISS).”
Vários observadores também apontaram que a conclusão da Estação Espacial da China, projetada para durar pelo menos uma década em órbita, é de importância global já que a envelhecida ISS poderá vir a encerrar as operações até o final da década, ou antes.
“A conclusão da Estação Espacial Tiangong é uma conquista técnica significativa que a China realizou. A estação chinesa pode oferecer alguma estabilidade em um momento em que os EUA e seus parceiros passarão por um período de transição da ISS para o desenvolvimento e uso de estações espaciais comerciais”, disse Mariel Borowitz, professora associada da Sam Nunn School of International Affairs do Georgia Institute of Technology nos EUA, ao portal chinês, por e-mail.
O projeto da estação espacial chinesa deve transitar para uma fase de aplicação e desenvolvimento que durará mais de uma década. O foguete transportador Longa Marcha-2F, de acordo com seu desenvolvedor China Academy of Launch Vehicle Technology (CALT), continuará a executar missões espaciais tripuladas com uma frequência de duas vezes por ano, desempenhando um papel importante no estágio operacional da estação espacial.
A atual configuração da estação Tiangong, com três naves espaciais e três módulos, constitui a maior estrutura da Estação Espacial da China até hoje, com uma massa total de quase 100 toneladas, a 400 quilômetros acima do solo da Terra.
FRACASSO DA EMENDA WOLF
Em 2011, os EUA declaram guerra ao desenvolvimento tecnológico da China no espaço, através da aprovação, no Congresso, da “Emenda Wolf”, proibindo a NASA de usar fundos do governo para se envolver em cooperação com o governo chinês – na prática excluindo a China da Estação Espacial Internacional.
Apesar disso, a indústria aeroespacial da China não pôde ser inviabilizada pelos truques sujos de Washington. O setor aeroespacial é um grande projeto nacional e não pode ser realizado sem a liderança centralizada e unificada do Comitê Central do Partido Comunista da China e o novo sistema de mobilização de recursos em todo o país, sublinhou em editorial o GT.
Ao longo dos anos, apesar de vários desafios – acrescentou o portal -, a China sempre insistiu em seguir o caminho da autossuficiência e da árdua inovação no campo aeroespacial. Hoje, o país é capaz de controlar seu próprio destino de forma independente e fez avanços em um grande número de tecnologias básicas com seus próprios direitos de propriedade intelectual.
“Todos os componentes principais são 100% caseiros. Aderir ao caminho da inovação independente provou ser correto na prática, o que por sua vez fortaleceu nossa determinação de manter a inovação independente”.
A base da indústria aeroespacial da China é tão sólida que deixa algumas pessoas “desconfortáveis”: antes do lançamento da Shenzhou-15, Nina Armagno, chefe da ala espacial militar dos EUA, disse que a China representa crescente “ameaça” na corrida espacial militar. Já o administrador da NASA, Bill Nelson, disse anteriormente que apoiava tornar permanente a “Emenda Wolf” e a decisão de não permitir que a China participe da Estação Espacial Internacional.
De acordo com o portal chinês, seja usando a “Emenda Wolf” para se engajar no “desacoplamento” ou reunindo outros países para formar uma “Pequena OTAN na Lua”, isso quando a exploração humana do espaço sideral deu apenas um pequeno passo à frente, demonstra que os norte-americanos estão pensando em jogar “Guerra das Estrelas”. Tais palavras e ações, como lixo espacial, impedem a cooperação internacional e o progresso humano.
As atuais conquistas da China no espaço são, até certo ponto, observou o GT, forçadas pelos EUA. No passado, a China continuou a explorar e inovar em tecnologia, não seguindo o antigo caminho dos EUA; no futuro, a porta do Tiangong da China está escancarada e não seguirá o caminho maligno dos EUA.
A China já anunciou que sua estação espacial é o primeiro projeto desse tipo aberto a todos os membros da ONU. Até agora, projetos de experimentos científicos de 17 países, incluindo Suíça, Polônia, Alemanha e Itália, foram incluídos nos projetos selecionados da Estação Espacial da China.
O espaço sideral é o domínio comum de toda a humanidade, e a exploração do espaço é a causa comum dos seres humanos. No futuro, não haverá apenas rostos chineses em Tiangong, mas também rostos de astronautas e cientistas de todo o mundo. Tiangong, como a “estação no espaço”, pertence tanto à China quanto a toda a raça humana, concluiu o GT.