A Seleção brasileira fez um jogo combativo no dia 6 de julho pelas quartas de final da Copa da Rússia, mas não conseguiu vencer a agilidade e, podemos dizer, a sorte dos belgas.
Um gol contra, de Fernandinho, depois de um escanteio aos 12 minutos do início do jogo, com uma cabeçada para dentro da sua própria meta, e um chutaço de De Bruyne, aos 30 minutos do primeiro tempo, fruto de um contra ataque fulminante pela direita, colocaram uma vantagem folgada da Bélgica, que acabou desclassificando o Brasil da competição.
O Brasil cresceu durante a Copa, jogou bem contra o México e também contra a Bélgica. O time foi guerreiro, lutou até o fim e saiu aplaudido pela torcida. Também no desembarque ao Brasil, no domingo, a equipe de Tite foi bem recebida por torcedores. “Quero, de coração, retribuir o carinho que eles estão nos proporcionando. Obrigado”, afirmou o técnico da Seleção.
O apoio da torcida se contrapôs ao comportamento da mídia em geral que, ao contrário, chegou a dizer que a derrota foi maior do que a sofrida na última Copa, quando perdemos de 7 a 1 para a Alemanha. Talvez porque para esses, que não cansam de bajular os times europeus, perder para os alemães não seja assim tão ruim, mesmo que com a Seleção saindo apagada e humilhada de uma Copa no seu próprio país.
Ocorre que, diferente da Copa passada – quando o país vivia uma crise na qual vem se afundando cada vez mais, com bilhões sendo gastos em obras superfaturadas e um descontentamento geral do povo com a política – o sentimento da população nesta Copa foi outro. Não que a política tenha mudado. Piorou. Mas o que se viu foi o povo torcer, voltar a pintar as ruas e a vestir a camisa amarela. O brasileiro voltou a acreditar, acreditar na sua Seleção, no país, no sentimento de nacionalidade. Foi talvez esse sentimento, de identidade nacional, que faltou na nossa Seleção.
Faltou porque não tem como haver sentimento de nacionalidade quando os atletas brasileiros são quase todos jogadores de equipes estrangeiras. Desde muito jovens deixam o Brasil e se formam no estrangeiro, e são engolidos pelo “futebol globalizado”, ou melhor, pelo futebol europeu. A característica do futebol brasileiro, e também o latino-americano, está deixando de existir. O que vem sendo criado nos últimos anos é a padronização do futebol, sem diferencial, sem estilo, sem futebol-arte.
Talvez seja essa uma das diferenças se compararmos com as equipes que trouxeram a Taça para o Brasil quando, em 1958, em 1962 e em 1970, tínhamos uma escola de futebol, no mesmo sentido em que se usa a palavra “escola” para definir certas tendências da arte e da literatura.
Nem Garrincha nem Pelé – este, exceto depois de sua aposentadoria no Brasil – jogaram no exterior. Nem Nílton Santos ou Zito ou Gérson. O único caso desse tipo foi Didi, que ficou um ano no Real Madrid, mas voltou para o Rio de Janeiro. O Brasil, nessa época, conseguia manter seus jogadores no país. Os campeonatos dentro do país eram a base do estilo – e, neles, estava a totalidade da escalação do selecionado brasileiro.
Seleções de futebol em disputa sempre significou a demonstração de várias maneiras nacionais de se jogar futebol. Mas é necessário que exista uma base nacional para formar uma Seleção nacional.
Isso tudo, certamente, não acontece apenas no futebol. O enfraquecimento econômico do país, devido a políticas de devastação neoliberais, desde 1990, teve, como consequência, a drenagem de profissionais para fora do país. Somente entre 2011 e 2017, as Declarações de Saída Definitiva do país aumentaram em 160%, segundo a Receita Federal. Mas essas são as declarações oficiais – e as declarações daqueles que têm bens e renda.
E não foi diferente no futebol. Claro que essas questões não esgotam os problemas da nossa Seleção – nem as resolvem. Apenas apontamos que, no futebol, tal como em outros terrenos, a destruição a que o país está submetido há décadas, está ameaçando avanços que nós tínhamos conquistado.
Enfim, sem o Brasil para a nossa tristeza, a Copa segue e às semifinais chegaram times que surpreenderam: Bélgica, França, Inglaterra e Croácia. Dessas quatro, duas possuem um título mundial: França (1998) e Inglaterra (1966).