“Crescimento de apenas 0,1% da economia brasileira no 3º trimestre reflete diretamente a política monetária contracionista adotada pelo Banco Central”
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) voltou a criticar o elevado juros do Banco Central (BC), de 15% ao ano, após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do 3º trimestre, na quinta-feira (4), que mostram que a economia brasileira entrou em estagnação. “A taxa de juros real (descontada a inflação) está em torno de 10,5%”, denuncia a entidade.
Para a entidade, o crescimento de apenas 0,1% do PIB no 3º trimestre “veio dentro das expectativas e reflete diretamente a política monetária contracionista adotada pelo Banco Central”.
“O resultado do PIB do 3º trimestre, de uma alta de apenas 0,1%, reforça a desaceleração da atividade econômica que já era apontada pela CNI anteriormente. O PIB vinha de um crescimento de 1,5% no 1º trimestre e de 0,3% no 2º trimestre. Assim, o crescimento acumulado em quatro trimestres caiu de 3,6%, no 1º trimestre de 2025 para 2,7% no 3º trimestre”, destaca a entidade em nota.
“No caso da Indústria, a perda de ritmo é evidente: mesmo com a alta no 3º trimestre, o crescimento acumulado em quatro trimestres recuou de 3,0%, no 1º trimestre, para 1,8% no 3º trimestre de 2025”, ressalta.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, alerta que o quadro econômico deve ser pior no último trimestre deste ano. “Existe uma defasagem entre a elevação das taxas de juros e a materialização dos efeitos sobre a economia. Isso significa que a perda de ritmo adicional ainda deve acontecer”, afirma.
Alban avalia que a indústria de transformação manteve no terceiro trimestre o desempenho preocupante que tem demonstrado ao longo do ano. No primeiro trimestre, o principal ramo da indústria brasileira registrou queda de 1,1%, seguida de nova retração de 0,4% no 2º trimestre. No 3º trimestre ocorreu uma ligeira recuperação, com expansão de 0,3%, insuficiente para reverter as perdas anteriores.
Com isso, o crescimento acumulado da Indústria de transformação em quatro trimestres caiu quase pela metade, de 3,0% no trimestre anterior para 1,6%.
“No caso da Indústria, setor mais penalizado pelas elevadas taxas de juros, o quadro é ainda mais preocupante”, afirma a CNI. “Os elementos responsáveis pela redução da atividade industrial não dão sinais de reversão: além dos juros elevados, associados ao crédito mais caro e restrito, a demanda doméstica enfraquecida e a forte entrada de 5 bens de consumo importados devem manter o cenário desafiador para a Indústria de transformação pelos próximos meses”, assevera a entidade.
A entidade destaca que as concessões de crédito, por exemplo, desaceleraram em quase todos os segmentos por conta do alto nível da Selic (taxa básica de juros da economia), que vem sendo mantida em 15% desde junho deste ano pelo BC.
Assim, “a taxa de crescimento das concessões totais de crédito desacelerou de 10,7% em 2024, em termos reais, para 4,5% em 12 meses até outubro de 2025. Este movimento está associado à alta de 4,0 p.p. na taxa média de juros em 12 meses até outubro, que alcançou 31,9% a.a. – a maior desde janeiro de 2017 –, e ao aumento de 0,8 p.p. da inadimplência, que chegou a 4,0% na mesma comparação, acima da média histórica da série iniciada em março de 2011, de 3,2%”, aponta a entidade da indústria.
SERVIÇOS PERDE RITMO
De acordo com a CNI, o menor consumo também já se reflete em setores menos sensíveis aos juros elevados.
“Importante destacar que mesmo o setor de Serviços mostra perda de ritmo. O setor vem mostrando altas formidáveis nos últimos anos, de forma que o volume de serviços prestados renovou máximas históricas ao longo do ano, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços, do IBGE. Contudo, a alta do PIB do setor no 3º trimestre de 2025, de apenas 0,1%, após alta de apenas 0,3%, no 2º trimestre, fez com que o crescimento acumulado do PIB do setor em quatro trimestres recuasse para 2,2%, o menor ritmo de expansão nessa comparação desde o 2º trimestre de 2021”, diz a entidade.
No trimestre passado, o consumo cresceu apenas 0,1%, sendo bem menos do que as duas altas trimestrais anteriores, de 0,6% cada.
“Não por acaso, a demanda doméstica por produtos industriais subiu apenas 0,1% no 3º trimestre”, critica a CNI. “Além disso, parte da demanda se desviou para a compra de bens de consumo importados, que cresceu 17% entre janeiro e outubro de 2025, em relação ao mesmo período do ano passado. Esses fatores limitaram o crescimento da indústria, especialmente de transformação, que cresceu 0,3%, mas também do varejo, explicando porque o PIB do setor de serviços subiu apenas 0,1% entre julho e setembro deste ano”, completa.
A CNI aponta também os efeitos desastrosos dos juros altos sobre o mercado de trabalho, com a emprego ficando “estável depois de um longo período de crescimento acima das expectativas” e “impactando a massa de rendimentos dos trabalhadores”.
QUEDA DOS INVESTIMENTOS
Já o investimento como proporção do PIB declinou de 17,4% para 17,3%, apesar do resultado positivo dos investimentos em máquinas e equipamentos, construção civil, etc, subiram 0,9% no terceiro trimestre de 2025, após a queda do trimestre anterior (-1,5%).
“A alta no trimestre foi impulsionada pela Construção, pela maior importação de bens de capital – tendo em vista a importação de uma nova plataforma de petróleo em setembro – e pelo desenvolvimento de software, apesar da queda na produção doméstica de bens de capital”, observa a CNI.
A Confederação Nacional da Indústria conclui sua nota afirmando que “o ano de 2025 caminha para seu encerramento com a atividade perdendo força e com a Selic ainda elevada, pondo em risco o crescimento de 2026, que, segundo estimativas preliminares da CNI, será menor que a de 2025 e a menor desde 2020, quando a economia caiu 3,3%, afetada pela pandemia de Covid-19″.











