Sem 1/3 da Constituinte, direita não poderá bloquear mudanças para varrer herança de Pinochet

Bloco de Piñera conseguiu apenas 37 das 155 cadeiras da Constituinte. Armadilha da “cláusula de bloqueio” foi varrida nas urnas pelos chilenos (Esteban Félix -Tucson)

Numa vitória histórica nas urnas, neste sábado e domingo (15 e 16), o povo chileno virou a página do obscurantista e repressor governo de Sebastián Piñera, que não conseguiu atingir o terço de parlamentares necessários para obstaculizar avanços na Assembleia Constituinte.  A alegria tomou conta do país, que também comemorou avanços nas mais significativas eleições municipais e estaduais, resultado direto das gigantescas manifestações de outubro de 2019.

Saudosa da ditadura de Augusto Pinochet (1974-1990) e de toda política de privatização, entrega e arrocho neoliberal, a coalizão pró-Piñera, buscava uma sobrevida à política dos Chicago Boys utilizando a armadilha da “cláusula de bloqueio”. Por meio desse “cadeado”, com tão somente 52 assentos das 155 cadeiras, poderiam barrar qualquer alteração na atual Carta Magna, que transformou a economia do país em pasto para os bancos e transnacionais.

A verdade das ruas, que enfrentou a repressão dos toques de recolher, dos tanques, bombas e balas, com milhares de presos e mais de 400 cegos pelos tiras nas suas marchas e paralisações, se impôs nas urnas e liquidou de forma contundente os governistas, que acabaram reduzidos a tão somente 37 assentos.

O Partido Comunista do Chile elegeu 7 constituintes, enquanto que a aliança Apruebo Dignidad – que inclui a Frente Ampla e o PC – contará com 28 constituintes, enquanto o bloco Lista del Apruebo, formado pelo Partido Socialista (da ex-presidenta Michelle Bachelet) e por outras representações de centro-esquerda, elegeu 25. Unidas, as duas forças totalizam 53 parlamentares.

Os candidatos independentes – cerca de 1300, 68% do total – conseguiram eleger 47 constituintes, mesmo com o orçamento e o tempo de televisão restritos – quantidade superior ao de qualquer bloco partidário. São lideranças que ganharam visibilidade nas marchas de protesto, reforçando a luta em defesa da saúde e da educação pública e gratuita, feministas e ambientalistas, que representarão uma significativa força aliada aos setores mais progressistas.

Além destes, as forças oposicionistas deverão contar com a reserva de 17 vagas a candidatos indígenas – com reconhecida e admirável trajetória de luta como os mapuches -, numa Constituinte histórica, com composição paritária entre homens e mulheres.

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