Numa vitória histórica nas urnas, neste sábado e domingo (15 e 16), o povo chileno virou a página do obscurantista e repressor governo de Sebastián Piñera, que não conseguiu atingir o terço de parlamentares necessários para obstaculizar avanços na Assembleia Constituinte. A alegria tomou conta do país, que também comemorou avanços nas mais significativas eleições municipais e estaduais, resultado direto das gigantescas manifestações de outubro de 2019.
Saudosa da ditadura de Augusto Pinochet (1974-1990) e de toda política de privatização, entrega e arrocho neoliberal, a coalizão pró-Piñera, buscava uma sobrevida à política dos Chicago Boys utilizando a armadilha da “cláusula de bloqueio”. Por meio desse “cadeado”, com tão somente 52 assentos das 155 cadeiras, poderiam barrar qualquer alteração na atual Carta Magna, que transformou a economia do país em pasto para os bancos e transnacionais.
A verdade das ruas, que enfrentou a repressão dos toques de recolher, dos tanques, bombas e balas, com milhares de presos e mais de 400 cegos pelos tiras nas suas marchas e paralisações, se impôs nas urnas e liquidou de forma contundente os governistas, que acabaram reduzidos a tão somente 37 assentos.
O Partido Comunista do Chile elegeu 7 constituintes, enquanto que a aliança Apruebo Dignidad – que inclui a Frente Ampla e o PC – contará com 28 constituintes, enquanto o bloco Lista del Apruebo, formado pelo Partido Socialista (da ex-presidenta Michelle Bachelet) e por outras representações de centro-esquerda, elegeu 25. Unidas, as duas forças totalizam 53 parlamentares.
Os candidatos independentes – cerca de 1300, 68% do total – conseguiram eleger 47 constituintes, mesmo com o orçamento e o tempo de televisão restritos – quantidade superior ao de qualquer bloco partidário. São lideranças que ganharam visibilidade nas marchas de protesto, reforçando a luta em defesa da saúde e da educação pública e gratuita, feministas e ambientalistas, que representarão uma significativa força aliada aos setores mais progressistas.
Além destes, as forças oposicionistas deverão contar com a reserva de 17 vagas a candidatos indígenas – com reconhecida e admirável trajetória de luta como os mapuches -, numa Constituinte histórica, com composição paritária entre homens e mulheres.