MP junto ao TCU já tinha pedido a suspensão da indicação até que se esclarecesse o evidente conflito de interesses. Ele já tinha sido vetado para o CNPE. Associação privada de distribuidoras de Gás estava fazendo lobby por Pires
O economista Adriano Pires, lobista de multinacionais, indicado por Jair Bolsonaro para a presidência da Petrobrás, comunicou nesta segunda-feira (4) ao governo que desistiu de assumir o cargo. A informação é da jornalista Andrea Sadi, da TV Globo. A aprovação ou não de nome estava prevista para acontecer na assembleia geral de acionistas da estatal, marcada para 13 de abril. Até o fechamento desta edição ainda corriam rumores que Bolsonaro manteria a indicação.
Pires já havia sido vetado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de assumir um cargo no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em função de representar no país os interesses das petroleiras multinacionais integrantes do cartel internacional do petróleo. Sabe-se que entre seus clientes no Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), empresa de consultoria criada por ele, estão a inglesa Shell e a americana Chevron. Ele não divulgou a que empresas presta serviço mas os logotipos da Chevron e da Shell estão no site da empresa.
A indicação de Pires ocorreu em meio à crise provocada pela disparada dos preços dos combustíveis. Bolsonaro insiste em manter o atrelamento dos preços dos combustíveis vendidos no Brasil ao dólar e ao preço do barril de petróleo no mercado internacional. Essa insistência de Bolsonaro, que atende aos interesses de acionistas e importadores, está esfolando a população com preços abusivos da gasolina, do diesel e do gás de cozinha.
O evidente conflito de interesses entre a vida privada de Adriano Pires, intimamente ligada aos negócios das multinacionais do petróleo, e os interesses públicos da Petrobrás, levou o Ministério Público junto ao TCU a pedir a suspensão da indicação do lobista pelo menos até que ele tornasse pública a lista de clientes de sua consultoria. A desistência de Pires veio em seguida da desistência de Rodolfo Landim para a presidência do Conselho de Administração da estatal.
No domingo (3), o Ministério das Minas e Energia tinha informado à jornalista da Globo que seria preciso aguardar os trâmites legais e administrativos para ver se haveria algum impedimento à indicação de Adriano Pires para a presidência da Petrobrás. A notícia era de que o dossiê sobre as atividades de Adriano Pires já estaria nas mãos dos acionistas e que dificilmente ele teria seu nome aprovado na assembleia. Ainda mais se recusando a abrir a lista de clientes de sua empresa de consultoria.
Dois outros fatos agravaram a situação de Pires. O primeiro foi o fato de Adriano Pires ter transferido a sua empresa, que dá consultoria às concorrentes estrangeiras da Petrobrás, para o nome de seu filho. E a segunda foi a divulgação, pela Associação Brasileira de Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (ABEGÁS), de circular fazendo lobby pela indicação de Adriano Pires que, segundo a entidade empresarial, defende seus interesses.
“Adriano participou ativamente das discussões em prol da Lei 11.909/2009 – Lei do Gás e de sua Nova versão, a Lei no 14.134/2021 – Nova Lei do Gás”, diz a nota da entidade, deixando claro que há evidente conflito de interesses entre Adriano e seus negócios privados com o cargo de presidente da Petrobrás.
“Ele e toda a equipe do CBIE – Centro Brasileiro de Infraestrutura, vem contribuindo com estudos, relatórios, publicações e participação na grande mídia especializada, para a área de energia, a política nacional de combustíveis e o mercado de derivados de petróleo e gás natural”, prossegue o documento em defesa do nome de Pires.
“Em razão de sua história no mercado de energia, solicitamos, se possível, o apoio de V. Sas. e de pessoas próximas, com declarações positivas à indicação de seu nome à Presidência da PETROBRAS. Acreditamos fortemente que a indicação do Sr. Adriano Pires será positiva para o setor de distribuição de gás canalizado e para os demais elos da cadeia, visto a experiência no setor adquirida ao longo dos anos”, concluíram os empresários em seu lobby pela confirmação de Adriano Pires.
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