“Há um grande esforço para se manter os empregos, o que é muito importante, principalmente diante dessa nova realidade. Mas o principal problema das empresas é o acesso ao crédito, os recursos não estão chegando na ponta”, diz o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi
Dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na quinta-feira (15) apontam que 59% dos empresários industriais estão com dificuldades para cumprir com os pagamentos correntes e 55% relataram que o acesso ao capital de giro ficou mais difícil.
A pesquisa “Sondagem Especial: Impacto da Covid-19 na Indústria” também destaca que sete em cada dez empresas tiveram queda no faturamento na pandemia. A CNI consultou 1.740 empresas, entre 1º e 14 de abril.
Segundo o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, “o principal problema das empresas é o acesso ao crédito, os recursos não estão chegando na ponta”.
“Nós já imaginávamos que o setor industrial sofreria bastante, pois já estava debilitado e iniciando sua recuperação, quando fomos pegos de surpresa por essa crise. Apesar disso, há um grande esforço para se manter os empregos, o que é muito importante, principalmente diante dessa nova realidade”, disse Carlos Abijaodi.
O maior impacto da crise no dia-a-dia das empresas foi a queda na produção, 76% relataram que reduziram ou paralisaram a produção. A inadimplência e o cancelamento de pedidos foram apontados por 45% e 44% dos empresários, respectivamente. Entre as medidas tomadas em relação ao emprego, 15% das empresas demitiram.
Desde o início da atual crise financeira provocada pela pandemia da Covid-19, empresários têm denunciado que as medidas anunciadas pelo governo federal para socorrer as empresas não chegaram na ponta. Além dos bancos aumentarem os juros e prazos de pagamentos, fazem uma série de exigências, dificultando a sobrevivência das empresas e o pagamento dos salários dos funcionários em meio à pandemia, que ainda não tem data para acabar.
“O dinheiro não está chegando onde tem que chegar”, declarou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Veloso, que chegou a afirmar no mês passado: “os bancos estão atrapalhando o País”.
A Abimaq também fez uma pesquisa, com 8 mil empresas, e constatou que o custo médio dos juros cobrados para a modalidade capital de giro está próximo de 12,5% ao ano. Segundo a sondagem, 45% das empresas pesquisadas precisavam de capital de giro para continuar operando, e dessas, 25% contrataram essa modalidade de crédito. Os empresários também afirmaram na pesquisa que a exigência de garantias também aumentou.
Micro e pequenas empresas
“A gente que é pequeno não tem garantias que as grandes empresas têm, como frota de carros ou imóveis”, afirmou Rafael dos Santos, de 33 anos, que é dono do Empório Favani, uma loja de produtos de decoração na região da Pampulha, no município de Belo Horizonte, em reportagem do jornal Valor Econômico. O empresário disse que precisava de recursos para abastecer sua loja, e por conta disto foi buscar crédito no Itaú, que não foi aprovado.
O presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Glauco Humai, também relatou que os recursos liberados pelo Banco Central (BC) e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não estão chegando aos lojistas.
“Falo com lojistas todos os dias e os recursos não chegam, eles não conseguem acessar”, afirmou Humai. O executivo da Abrasce, que representa cerca de 400 shoppings, disse que os empresários estão encontrando modalidades de créditos com as mesmas taxas de juros que eram oferecidas antes da crise. Sem perspectiva de reabertura e sem crédito suficiente, a entidade estima que 20% de 105 mil lojistas deixarão de operar em 30 dias.
“A empresa sempre foi adimplente, mas agora estou devendo para mais de 150 fornecedores, cerca de R$ 400 mil”, conta o empresário Leandro Rodrigues, de 43 anos, que é proprietário da Copiadora Celta – papelaria especializada em artigos para engenharia e arquitetura, localizada no centro de Belo Horizonte.
Rodrigues explica que mesmo com sua empresa no mercado há 70 anos, ele não conseguiu até agora ter acesso aos recursos de ajuda emergencial para empresas liberado pelo governo federal no mês passado.
“Estou com a minha loja fechada há 55 dias e estou quebrado. Então, vi que o BNDES tinha uma linha de crédito para pequenas empresas. Tentei no Itaú, onde eu já sou cliente, e pedi entre R$ 150 mil e R$ 200 mil para pagar em 48 vezes. Até agora não tive retorno”, disse o empresário relatando que, antes de recorrer a linha de crédito do BNDES, ele também foi buscar linhas de empréstimos em outros bancos, “mas esbarrou em juros que não cabiam no bolso”.