Com o número de casos de coronavírus confirmados e suspeitos aumentando a cada dia, a situação do Amazonas se agrava. À espera de sepultamento, os corpos das vítimas de coronavírus se amontoam nas unidades de saúde do Amazonas. O estado totaliza 3.928 casos confirmados do novo coronavírus e 320 mortes registradas.
O sistema de saúde do Amazonas está em colapso por conta do novo coronavírus e as pessoas que trabalham no sistema de saúde também estão adoecendo.
A Prefeitura de Manaus informou, por meio da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), que gerencia os cemitérios públicos da cidade, que foram feitos 140 sepultamentos, no domingo (26), além de duas cremações. Do total de 142 óbitos, 41 aconteceram em domicílio, apenas dez tem como causa da morte a confirmação por Covid-19. Outras 47 pessoas morreram por síndrome ou insuficiência respiratória, mais 28 tiveram no atestado o registro de causa indeterminada ou desconhecida, entre outras causas. Desde o domingo anterior (19), Manaus tem realizado mais de 100 enterros ao dia. Enquanto o normal seriam 20.
O prefeito Arthur Virgílio Neto anunciou que reforçará as medidas para manter o isolamento social na capital do Amazonas e declarou que vai pedir ajuda internacional, para o enfrentamento à doença. “Momentos duros exigem que se tomem atitudes antipáticas para que não sejam desastrosas”, avaliou.
“Estamos pedindo socorro ao presidente e estou escrevendo cartas e gravando vídeos para enviar ao G20, dizendo que a Amazônia faz tanto por eles, segurando a temperatura com sua floresta e seus rios, e está na hora de eles devolverem isso, com médicos voluntários, medicamentos, equipamentos. É um pedido de socorro da Amazônia, com humildade e altivez”, desabafou o prefeito.
Ele tem anunciado o colapso na saúde do Estado e criticado a postura do governo federal diante da pandemia, além de reforçar que o momento é de se manter em casa. “Condeno tanto a atitude do presidente da República, quando gera aglomeração, quanto à das pessoas que não seguem a orientação de manter o isolamento social. Cada um deve pagar sua cota de sacrifício”, rechaçou.
No início da semana, Virgilio se encontrou com o vice-presidente, Hamilton Mourão, junto com o governador do Amazonas, Wilson Lima, e destacou ter sido verdadeiro ao expor as principais demandas para enfrentar a doença, exigindo soluções imediatas. “Chega de conversa, é hora de o governo federal agir. Não podemos mais esperar que avaliem e decidam algo daqui a tantos dias, porque tantas pessoas já terão morrido”, advertiu.
“As pessoas não estão se isolando. Diariamente, temos registro de enterros com óbitos por causas desconhecidas, por insuficiência respiratória. São pessoas que não foram testadas para a Covid-19. Vou ser bem claro, estamos longe do fim da doença e próximo do pico, que deve ser em meados de maio. Precisamos tomar atitudes que encurralem esse vírus da Covid-19”, avaliou o gestor, com 40 anos de vida pública e pela terceira vez prefeito de Manaus.
Para a CNN Brasil, Arthur destacou o estado de calamidade pública que a capital amazonense vive, referindo-se também à situação funerária e apontando o crescente número de mortes diárias. “Já ultrapassamos a fase de emergência e, até agora, não houve ajuda federal decisiva. Seguimos alheios a qualquer auxílio nesse sentido”, evidenciou.
EMPILHAMENTO DE CAIXÕES
Familiares de ao menos, 20 pessoas que morreram neste fim de semana, em Manaus, denunciaram ao portal G1 que, nesta segunda-feira (27), os caixões com corpos estão aguardando para serem empilhados nas valas comuns abertas no Cemitério Nossa Senhora da Aparecida, bairro Tarumã, Zona Oeste.
Desde a manhã desta segunda-feira (27), Janecy Lobato luta para enterrar dignamente o sogro, que faleceu por insuficiência pulmonar. “Disseram que vão enterrar um em cima do outro e que nós devemos aceitar. Isso não é digno. Somos cidadãos que pagaram impostos, temos direitos de enterrar nossos entes dignamente. Isso é desumano”, disse.
A Prefeitura de Manaus informou que os corpos serão enterrados em camadas e as valas comuns, chamadas de trincheiras, serão mais fundas. “A Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) reorganizou o layout das covas, mas mantendo a unidade e a rastreabilidade de todas as urnas entregues no cemitério público Nossa Senhora Aparecida”, disse a nota.
Leonardo Garcia, que aguarda no cemitério para enterrar o pai, que morreu por causas naturais, também se diz revoltado com a situação. “Querem enterrar vários corpos. Um em cima do outro. Não há respeito algum. Disseram que não tem espaço e a única saída é enterrar os corpos empilhados. Me sinto humilhado, desprezado pelo Poder público”, lamentou.