“Nós temos que ter medidas de defesa comercial e proteger o mercado. Senão, não tem reindustrialização, como o resto do mundo está fazendo”, ressaltou o presidente do BNDES
O presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou que o Brasil precisa “ter medidas de defesa comercial e proteger o mercado. Senão, não tem reindustrialização, como o resto do mundo está fazendo”.
Mercadante participou da cerimônia de posse do novo presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, que ocorreu nesta quinta-feira (22), no Ministério do Planejamento, em Brasília, com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin e da ministra do Planejamento, Simone Tebet.
Mercadante lembrando os anos 20 frisou que “a política do café com leite era a expressão de um Brasil da monocultura, produtor de commodities, do agro, que durante três séculos foi trabalho escravo. A Revolução de 30 é uma ruptura com esse modelo, é uma tentativa de construir um Estado nacional e o Getúlio construiu”.
Citando o debate entre o liberalismo e o desenvolvimentismo que esteve ao longo de toda a história do Brasil, Mercadante destacou a criação da base industrial após a Revolução de 30 “fundamental para todo o processo que nós temos até hoje”, citando a Companhia Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce, a Fábrica Nacional de Motores e a Companhia Nacional de Álcalis, empresas criadas com o objetivo de impulsionar a industrialização no Brasil.
Mercadante afirmou que a “elite brasileira, a nossa academia, as lideranças industriais, precisam começar a olhar o mundo, estudar um pouco mais o que está acontecendo, ou nós não temos como avançar na velocidade que esse país precisa avançar”.
“Os neoliberais de hoje, que eram os liberais de sempre, não conseguem explicar. Expliquem a China, porque durante 40 anos é o país que mais cresceu no mundo? Expliquem a Coreia, por que tem inovação, industrialização? Expliquem a Ásia? Mas hoje, não é só isso. Expliquem a política econômica americana? Nem republicanos nem democratas questionam mais a necessidade de política industrial. Eles estão fazendo compras públicas, protecionismo”, observou Mercadante, citando que os EUA tem uma taxa de importação siderúrgica de 25% e o Brasil de 11%.
““Nós temos que ter medidas de defesa comercial e proteger o mercado. Porque, senão, não tem reindustrialização, como o resto do mundo está fazendo”, afirmou. “Quando a gente fala U$ 1,9 trilhão de dólares, que é a meta para uma década para os Estados Unidos, eles não estão falando de crédito. Estão falando de subsídio não reembolsável na veia para indústria. [No Brasil] nós estamos falando de R$ 300 bilhões em crédito. Sendo que R$ 65 bilhões a taxa de mercado”, ressaltou. “E o tempo inteiro a gente tem que ouvir, não vocês estão subsidiando…”
Mercadante lembrou a recente declaração de um empresário da maior indústria do setor hoje que disse que não precisa de subsídio. “Tiveram o apoio do BNDES”, assim como a Embraer, a Vale do Rio Doce, o setor siderúrgico, energético, “e sem isso nós não teríamos a economia que nós temos hoje”.
“Outra coisa que precisamos enfrentar nesse debate é esse complexo de vira-lata”. Para Mercadante, não é possível que um país que faz avião, só três países constroem e certificam avião, seja taxado como incapaz de produzir.
“A gente não consegue produzir, isso, aquilo, não consegue. Consegue sim. Precisa parar de falar mal do Brasil, acreditar no país e impulsionar o empresariado desse país para produzir”, defendeu o presidente do BNDES.
COMPRAS PÚBLICAS E CONTEÚDO NACIONAL
Ricardo Cappelli, em seu discurso, defendeu a Nova Indústria Brasil (NIB), política industrial lançada em janeiro deste ano pelo governo Lula, com aporte de R$ 300 bilhões para alavancar a reindustrialização no Brasil.
“Precisamos que o setor público perca o medo de investir em inovação”, disse Cappelli, ao citar a utilização de compras públicas e conteúdo nacional como instrumento de política industrial, que também são fortemente executadas por países da América do Norte.
Cappelli completou seu discurso destacando que “não tem nada mais importante neste momento do que fazer o país voltar a se desenvolver, gerar emprego de qualidade, porque é isso que vai fazer as pessoas acreditarem que a democracia melhora a vida delas. Quando a democracia se mostra incapaz de melhorar, as pessoas deixam de acreditar. E é isso que a gente tem que entregar neste país”.
Também marcaram presença na cerimônia de posse do novo presidente da ABDI, o ministro da Defesa, José Múcio, a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, entre governadores, parlamentares e representantes de entidades da indústria.
Não entendo essa colocação pois a Cia Nacional de Álcalis fechou no governo de Lula em 2006. Essa empresa poderia ter recebido uma ajuda do BNDES. Nós funcionários demitidos até hoje não recebemos a nossa indenização rescisória. O que me diz sobre isso? Só conversa fiada. Votei em Lula mas ele nunca olhou para os Funcionários da Álcalis
A Companhia Nacional de Álcalis foi privatizada em 1992, por Collor. Portanto, a sua informação de que ela fechou em 2006, no governo Lula, somente serve para criar confusão. Em 2006, ela era uma empresa privada, pertencente, primeiro ao grupo Fragoso Pires, e, depois, desde 2004, à Associação dos Empregados da Álcalis. Mas é justo o que você diz sobre a ajuda do BNDES. E foi correto, apesar dos problemas, que você tivesse votado no Lula. Afinal, a alternativa era o Bolsonaro.