Geisa Sfanini, de 32 anos, morreu nesta segunda-feira, 27, na Unidade de Tratamento de Queimados do Hospital Geral de Vila Penteado, em São Paulo. Ela estava internada no local desde o último dia 2, após ter sofrido o acidente com o álcool, pois não tinha dinheiro para comprar um botijão de gás.
De acordo com uma vizinha de Geisa, Mônica Teixeira de Oliveira, de 34 anos, a mulher passava por dificuldades financeiras e por isso estava sem dinheiro para comprar gás de cozinha.
“Como as coisas apertaram, algumas vezes ela se alimentava na minha casa, ou eu mandava comida para ela, leite para o neném. Ajudava em tudo. Ela era uma pessoa incrível, cheia de sonhos e muito vaidosa apesar das dificuldades”, disse Mônica em entrevista ao portal G1.
Geisa recebia bolsa aluguel da Prefeitura de Osasco e estava desempregada. Ela sustentava seu filho, Lucas Gabriel, com cerca de R$ 375 que recebia do Programa Bolsa Família, além de bicos como vendedora de perfume. Seu filho, de oito meses, teve 18% do corpo queimado no mesmo acidente, mas sobreviveu e agora, mora com o pai.
Desde o início do ano, o preço médio do botijão de gás aos consumidores subiu quase 30%, chegando a ser vendido a até R$ 135 na região norte do país, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
O preço médio estava em R$ 75,29 no final de 2020 e chegou a R$ 96,89 há 10 dias. A alta é mais de 5 vezes a inflação acumulada no período, de 5,67%.
Os números falam por si e fazem parte da carestia que as famílias têm enfrentado nos últimos meses, com os também violentos aumentos do arroz, do óleo de soja, da carne, entre outros alimentos básicos, à mercê de exportações descontroladas que desabasteceram o mercado interno. Além do aumento da conta de luz que neste mês está na bandeira vermelha patamar 2.
Os aumentos do gás de cozinha refletem o absurdo da política de preços do governo Bolsonaro de atrelar os preços dos combustíveis ao mercado internacional e à variação do dólar.
Se para a gasolina e diesel essa política já atravessou a economia, com a greve dos caminhoneiros de maio de 2018 paralisando o país, quando observamos seus efeitos no gás de cozinha o impacto são imediatos e perversos, particularmente para as famílias de baixa renda que não têm como comprá-lo.
Numa medida demagógica, Bolsonaro zerou a alíquota de PIS e Cofins que incide sobre o gás de cozinha por alguns meses. Nada que pudesse fazer frente à política de preços atrelada ao mercado estrangeiro levada a cabo pelo governo.
Com o dólar nas alturas, a disparada dos preços que seguem essa política foi exponencial. Segundo dados do Sindicato dos Petroleiros de São Paulo, até março deste 2021, o preço da gasolina cresceu 73,3%, o diesel aumentou 54,8% e o gás de cozinha subiu 192%, enquanto nesse mesmo período, a inflação medida foi de 17,7%.
Bolsonaro, apesar de na eleição ter propagado que o botijão de gás custaria R$ 30,00, defende manter o regime PPI na Petrobrás, com o argumento de que essa modalidade de preços estimula a concorrência e competitividade no setor de derivados de petróleo. Mais um exemplo do estelionato eleitoral que leva os brasileiros, como Geisa, à morte.
“A botija de gás custando quase 10% do salário mínimo, não deveria ser assim. É um item básico e determinante para as famílias de baixa renda, principalmente”, afirmou o economista Marcelo Loyola Fraga. Para o economista, a inflação alta vai disparar ainda mais se o governo federal não fizer nada. “É um aumento atrás do outro de itens básicos, como carne, frango, gás de cozinha, energia. O governo precisa de uma política econômica definida”.
Enquanto Bolsonaro promover esse aumento desenfreado de preços e sem justificativa, pois a regulação poderia ser outra, muitas famílias continuarão a substituir o gás por fogão à lenha, carvão ou álcool, e com isso, o aumento de acidentes domésticos, como o que ceifou a vida de Geisa, é certo.