Para enfrentar o desemprego que, segundo o IBGE, atinge 12,6 milhões de brasileiros, mais de meio milhão de pessoas estão vendendo comida nas ruas em busca do sustento de suas famílias.
A informação é de um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado pela Folha de São Paulo, que apresenta uma escandalosa progressão no número de ambulantes de alimentação.
No terceiro trimestre do ano passado, uma legião de trabalhadores escapou da estatística do desemprego fazendo biscate nas ruas vendendo marmitas, lanches, doces, e etc. Em números precisos, os camelôs de alimentação saltaram de 253,7 mil no terceiro trimestre de 2016 para 501,3 mil no mesmo período de 2017.
Em 2015, quando o trabalho informal e por conta própria começava a ser uma opção para enfrentar o desemprego e a queda na renda, o patamar de brasileiros vendendo comida nas ruas estava em 100 mil. Ou seja, foi precisamente a recessão, iniciada em junho de 2014, provocada pela política econômica neoliberal de Dilma e Temer que forçou essa realidade.
Segundo critérios do próprio IBGE, trabalhadores informais – apesar de privados dos direitos trabalhistas básicos – são considerados ocupados, o que fez com que as estatísticas oficiais de desemprego diminuíssem durante os últimos meses do governo Temer. Leia aqui: “A criação de posto de trabalho formal em 2017 é zero”, diz IBGE
Aproximadamente 11% da geração de vagas de emprego informal no trimestre encerrado em outubro corresponde ao avanço do número de camelôs de comida.
Aos que discursam tentando apresentar o fenômeno como um crescimento do “empreendedorismo” no Brasil, os próprios trabalhadores submetidos a essas condições respondem o contrário. A maior parte perdeu o emprego e está há muito tempo na tentativa por uma vaga no trabalho formal.
“Fui por necessidade”, disse o vendedor de tapioca Daniel Silva, entrevistado pela Folha.
“Num país desigual como o nosso, com baixa escolaridade, são raros os casos que empreenderam assim por escolha pessoal. Isso é falta de oportunidade em razão do momento de crise que estamos vivendo. Se você oferecer emprego com carteira a essas pessoas, elas vão aceitar”, destaca Cimar Azeredo, coordenador da Pnad Contínua.
A crise também garantiu algum crescimento do setor, por conta do aumento da demanda por alimentação mais barata, encontrada na rua.
“Como a crise afetou muita gente, vender comida na rua virou um nicho”, disse Azeredo.
O problema deste tipo de atividade é que, além de não refletir crescimento qualquer da economia – pelo contrário – mantém os trabalhadores sem qualquer estabilidade financeira, sem férias remuneradas, décimo terceiro salário, licença médica ou maternidade, limite de jornada, etc. Ou seja, sem qualquer direito e com baixíssima remuneração.
PRISCILA CASALE